Open Finance: Veja facilidades já criadas pelo compartilhamento de dados entre bancos

BC admite que efeitos ainda são modestos, mas 5 milhões de consumidores já aderiram ao sistema
Pontos-chave
  • Consumidores podem movimentar contas de bancos diferentes em um só app

  • Sistema também previne golpes

Sete meses após o início da última fase de implementação do Open Finance, ainda são poucos os serviços oferecidos a partir do compartilhamento de dados autorizados por usuários entre instituições financeiras.

Criado para estimular a competição no setor e melhorar a experiência dos consumidores, o programa do Banco Central (BC) ainda deve levar tempo para que efeitos sejam sentidos. Mas, enquanto bancos e fintechs desenvolvem novos produtos, alguns recursos já são oferecidos aos clientes e facilitam processos como abertura de contas e liberação de crédito.

Lançado primeiro como Open Banking, o Open Finance assumiu este nome em março deste ano, visto pelo BC como uma evolução do programa iniciado em fevereiro de 2021 com a padronização das informações de produtos e serviços dos bancos, facilitando a comparação. Como o sistema agora inclui dados além do setor bancário, o termo facilita a compreensão do público. Corretoras de investimentos, seguros e até planos de saúde podem se beneficiar.

No Itaú, usuários já conseguem visualizar saldos e limites de diferentes bancos no aplicativo. Um iniciador de pagamento, que vai permitir ao cliente aprovar transações com recursos de qualquer conta em qualquer banco está em fase de testes.

O Mercado Pago inaugurou a modalidade em fevereiro, com a possibilidade de depósito em conta de outra instituição. A fintech também oferece uma solução para compras pagas com o Pix pela internet, utilizando o saldo de contas em diferentes bancos, e simplificando o Pix Copia e Cola.

Mas esses exemplos pontuais são apenas a primeira etapa da plataforma. Recentemente, o diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso, reconheceu em um evento que o Open Finance ainda não está a pleno vapor. O principal desafio é a consistência das informações trocadas entre instituições. Ao todo, 5 milhões de clientes já autorizaram o compartilhamento de seus dados.

Dados reunidos pela Open Banking Brasil mostram que o número de interações digitais (“chamadas de API” no jargão técnico) entre instituições financeiras chegou a 360,7 milhões em junho, acima dos 317,3 milhões no mês anterior e 233,2 milhões em abril.

Proteção contra golpes

Para Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o projeto já avançou bastante desde o início da última etapa, em dezembro, mas a inovação em produtos ainda deve esperar. Por enquanto, instituições já estão usando dados de outras para consumo interno, como análise de crédito e bases cadastrais.

É o caso do PicPay, fintech que usa dados do Open Finance na liberação de empréstimos, e do Banco BV, que considera as informações para aumentar limites de cartão de crédito. No Banco Original, os primeiros recursos, lançados no fim de 2021, ainda estão em fase de testes para parte dos clientes, com foco em produtos personalizados, financeiramente mais atraentes.

“Temos conseguido conceder crédito e aumentar limites para quem aceita compartilhar informações como o histórico financeiro de bancos que consideramos confiáveis, que têm um processo de governança bem estabelecido. Tem clientes que, pelos modelos tradicionais, não teriam o crédito liberado, ou teriam apenas num valor mais baixo”, conta Fábio Lins, superintendente Executivo de Inovação e Open Finance do Original.

Lins destaca que os dados do Open Finance serão úteis na prevenção de golpes financeiros, cada vez mais sofisticados. Segundo ele, a partir do histórico de movimentação financeira e de crédito do usuário, por exemplo, será possível traçar o comportamento do cliente e antecipar condutas “fora da curva”.

“Será possível proteger mais o cliente. A ideia é checar com perguntas pessoais que só o usuário saberá responder. Enquanto tivermos dúvidas, entraremos em contato por todos os canais possíveis, como o aplicativo do banco, telefone, SMS e até WhatsApp, garantindo que é realmente o cliente.”

A maior parte das inovações prometidas ainda não estão amplamente disponíveis, como marketplaces de crédito, iniciação de pagamento por redes sociais e reunião de dados financeiros em aplicativos de planejamento familiar.

Na avaliação de bancos e fintechs, o desenvolvimento é mesmo de longo prazo. Há uma grande complexidade não só no desenvolvimento de novos produtos, mas também no tratamento de informações de milhões de clientes de centenas de instituições.

“Como qualquer projeto de tecnologia, não funciona de primeira. Você põe no ar, precisa ajustar, equilibrar. Aí apresenta instabilidade, aquilo que você consertou quebra na semana que vem. É um processo, não é ‘ligou na tomada e sai usando'”, explica Vilain, da Febraban.

Desafio de padronização

Sergio Biagini, sócio-líder para serviços financeiros da consultoria Deloitte, destaca que o atual estágio de desenvolvimento tem, além do tratamento dos dados, foco na definição das estratégias para tirar a melhor solução dessas informações.

“Há um desafio, porque às vezes o pagamento de conta de luz em um banco pode ser (classificado como) pagamento de utilidade em outro. É a mesma transação, e o mercado precisa harmonizar isso.”

Nos setores de seguros e câmbio, os efeitos do Open Finance podem demorar um pouco mais. Em junho, uma pesquisa do setor mostrou que a maior parte dos executivos de seguros esperam que as mudanças só devem impactar o mercado em 2024, já que o processo envolve investimentos em várias frentes, como adequação regulatória das empresas, aportes em tecnologia e em educação, tanto dos agentes quanto dos clientes.

Por Leticia Lopes e Gabriel Shinohara

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