O que aconteceu com a Bolsa ontem e qual a chance dela voltar a cair nesta sexta?

Após romper barreira dos 120 mil pontos, Ibovespa caiu 1,23% ontem

O comunicado do Copom sobre a política monetária, divulgado há dois dias, deve continuar repercutindo na Bolsa e na cotação do dólar nesta sexta-feira (22). Os investidores ainda estão sem entender os próximos passos do Banco Central (BC) sobre a taxa de juros Selic. Essa dúvida tem gerado um fenômeno chamado desalavancagem de expectativas: muita gente que estava comprada em bolsa, esperando queda de juros, voltou a vender ações para reaplicar em renda fixa.

Foi por isso que ontem o Ibovespa fechou em queda de 1,23%. O principal indicador da B3 primeiro perdeu o patamar dos 120 mil pontos conquistado nesta semana. Depois, perdeu 119 mil pontos e foi caindo, a ponto de começa o dia de hoje em 118.934 pontos.

Trader acompanha movimento das bolsas. Foto: Brendan McDermid/Reuters

O mercado contava na última quarta-feira com a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. Mas era aguardado um comunicado ameno por parte do Copom sinalizando uma queda já na próxima reunião do colegiado, entre 1º e 2 de agosto. O aceno de afrouxamento não veio como esperado e a Bolsa reagiu mal.

Câmbio interrompeu queda

Quando a Bolsa cai, é natural que o dólar suba. Isso porque o investidor estrangeiro que vende posições na B3, volta a comprar dólar para sacar o dinheiro do país. A procura pela moeda americana esquenta a demanda, aquecendo também a cotação da divisa.

Esse movimento pode se repetir hoje, como foi ontem, quinta-feira, dia em que o dólar terminou o pregão em discreto avanço de 0,09%, cotado a R$ 4,7721.

Há dois dias, na quarta-feira, o dólar havia renovado seu menor patamar em mais de um ano, cotado a R$ 4,76.

Analista sugere cautela

Por essas e por outras, Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimento, sugere cautela para o investidor nesta sexta-feira.

“Eu acho que (ontem) se instaurou um pouco de risco dentro dos mercados”, diz. “Então, provavelmente a gente deve ter um movimento nos próximos dias um pouquinho mais contido, talvez algumas correções”. Correções, na bolsa, é o mesmo que queda.

Apostas do mercado para queda de juros

A falta de sinalização explícita do Banco Central a respeito da possibilidade de corte de juros em agosto também forçou ontem um leve ajuste de posições do mercado de DIs, com respectiva alta nas taxas, mas não grande o suficiente para afastar de vez as apostas de que a instituição começará a baixar a Selic em agosto.

“O mercado continua com uma aposta firme de que o BC vai iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em agosto”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, acrescentando que isso ocorre em função da expectativa de deflação do IPCA em junho, associada à perspectiva de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) não fará mudanças drásticas na meta de inflação.

Mesmo com estes fatores favoráveis à redução da Selic, especialistas consideraram que o Copom tomou uma decisão acertada ao manter o tom mais duro que o esperado no comunicado.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, destaca que ainda há dúvidas sobre qual será o formato final do projeto de lei do arcabouço fiscal – que foi alterado pelo Senado e precisa passar novamente pela Câmara dos Deputados.

A decisão do CMN a respeito da meta de inflação também é um risco. O Banco Central possui apenas um dos três votos no Conselho. Os outros dois são dos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento.

“Esse evento é super relevante para ver se vai ter confirmação da meta de 3% e apenas dissociação em relação ao ano-calendário. Mas acredito que ainda é mais questão envolvendo desfecho do arcabouço”, afirmou.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou o dia em 13,085%, de 13,073% no ajuste de quarta-feira, enquanto a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 11,160%, de 11,137% na mesma comparação.

A taxa do DI para janeiro de 2027 terminou em 10,515%, de 10,503%, e a do DI para janeiro de 2029 em 10,810%, de 10,786%.

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