- Home
- Mercado financeiro
- Economia
- Metas de inflação deveriam ser revisadas para serem críveis, defendem Stuhlberger, Xavier e Jakurski
Metas de inflação deveriam ser revisadas para serem críveis, defendem Stuhlberger, Xavier e Jakurski
Empresas citadas na reportagem:
Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stuhlberger, da Verde, e André Jakurski, da JGP, três referências do mercado de gestão de recursos no Brasil, concordam que as metas de inflação deveriam ser revisadas para que sejam críveis.
Em evento do BTG Pactual nesta manhã, os gestores mostraram-se afinados em relação ao tema e puderam se dirigir ao ministro Fernando Haddad, da Fazenda, na plateia do painel intermediado pelo banqueiro André Esteves, presidente do conselho de administração do BTG.
Xavier nesta semana, mas foi enfático no debate. “Se tem uma reunião a cada ano, em junho, para reavaliar as metas de inflação, por que é um dogma tão grande de corrigir?”, questionou, lembrando que os mesmos analistas que falam hoje que não dá para alterar esse “guidance” porque poderia desancorar as expectativas são os mesmos que defenderam que os juros fossem para zero quando a taxa já estava em patamares ultrabaixos, refletindo uma “barbeiragem sem tamanho” do Banco Central presidido por Roberto Campos Neto.
“Por que os economistas são tão reticentes, na nossa linguagem, de ‘estopar'[corrigir] o erro? Estabeleceu-se uma meta de inflação há dois, três anos, que não vai se materializar. Por que o BC está perseguindo um objetivo inalcançável?”
Olhando pelo retrovisor, Xavier afirmou que desde que o sistema de metas foi criado no Brasil, entre 1999 e 2000, apenas uma vez, em 2016, a inflação ficou abaixo de 3% (em 2,95%). O referencial previsto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2023 está em 3,25% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O gestor argumentou que a meta definida há dois, três anos está errada depois de choques como a pandemia de covid-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia e mudanças nas cadeias de produção e redução de investimentos em combustíveis fósseis pela descarbonização. Para ele, as expectativas já estão desancoradas e não vai ser uma alteração de metas com um BC sob o mesmo comando que vai arranhar a credibilidade da política monetária.
Xavier lembrou que nos quatro anos de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, a inflação ficou em 6%, na média, a mesma projeção de parte dos agentes financeiros para este ano. “Não estou dizendo que a meta tem que caminhar para 6%, mas o custo de trazer a inflação para baixo é muito grande porque ela é irreal”, argumentou. “Que adianta buscar 3,25% e entregar 6%?”
O equilíbrio das contas públicas, por seu lado, afirmou o gestor, é para ser endereçado ao ministro da Fazenda, não tem relação com as metas de inflação, “mas ninguém tem coragem, ministro, de dizer que não sente segurança fiscal no que está sendo proposto. Este é o motivo, não a meta de inflação. Ninguém tem coragem de dizer que não é o plano que gostaria de ter, não o meu caso, ministro, mas tem que separar as discussões.”
Stuhlberger disse concordar 100% com Xavier, que acha que a discussão da meta é cabível, “não é o fim do mundo e implica em perda de credibilidade, buscar uma meta irrealista não é coisa boa para o Brasil. Concordo que tem quer ter um arcabouço fiscal crível, os dois juntos podem jogar o Brasil num lugar melhor”.
O gestor afirmou que o Brasil dos últimos dois anos teve uma involução com políticas de curto prazo com efeito permanente no endividamento público, para que o então presidente (Jair Bolsonaro) tivesse a chance de ser reeleito. E fez um apelo: “Que a gente possa ter presidentes e ministros estadistas que pensem no Brasil no longo prazo”, afirmou, sob aplausos da plateia.
Stuhlberger citou que o que aconteceu entre 2021 e 2022, com a proposta de emenda constitucional (PEC) “camicase” dos precatórios, aumento do subsídio do Auxílio Brasil e desonerações tributárias dos combustíveis representando um aumento de despesas da ordem de R$ 200 bilhões. O CEO e CIO da Verde Asset disse ainda que quando se pede ao Congresso para aumentar gastos e reduzir impostos, o governo costuma ser apoiado, mas o inverso não é verdadeiro.
“Quem não quer R$ 200 bilhões na mão do consumidor para as empresas venderem mais, para a classe baixa virar média, mas significa vender o almoço para pagar o jantar. O presidente em exercício e os ministros precisam ter a grandeza de pensar em políticas boas para o Brasil no longo prazo e não no curto prazo, isso causa desastres para o país.”
Jakurski, por sua vez, confirmou a avaliação de que a meta de inflação está no lugar errado, mas disse que esse é um caso em que “a ordem dos fatores altera o produto”. Para ele, é preciso estabelecer uma regra fiscal que substitua o teto de gastos primeiro porque as medidas que estão sendo definidas em novas PECs não terão efeito imediato. “Se a meta antiga não é boa, a nova vai ser mais leniente que a antiga, essa é a conclusão de qualquer ser humano.”
O gestor afirmou ainda que nenhuma solução vai ser uma “bala de prata”, mas que acha que o governo deve mudar a meta e criar condições para baixar os juros.
O sócio-fundador da JGP disse ainda que se a Selic baixar para 12% ao ano não muda muito a vida das empresas que se financiam com taxas na casa dos 25%, 30% ao ano e “vão quebrar aos borbotões”, com o aperto adicional dos eventos recentes (o caso da Americanas).
“Os spreads aumentaram, as novas emissões de debêntures estão constrangidas”, afirmou.
Leia a seguir