Itaú BBA: Excesso de capital de bancos públicos poderia injetar mais de R$ 2 trilhões na economia

Banco acredita que o novo governo Lula vai usar mais uma vez as instituições para estimular o crédito

Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência do Brasil, os analistas do Itaú BBA divulgaram um relatório com alguns temas que podem afetar o setor bancário. Conforme o Valor mostrou, muitos participantes dessa indústria acreditam que o petista vai usar novamente os bancos públicos para estimular o crédito, embora em uma magnitude menor do que visto nos governo Dilma Rousseff.

Nas contas do Itaú BBA, dado o excesso de capital de Caixa, Banco do Brasil e BNDES, seria possível injetar mais de R$ 2 trilhões na economia. “Nós estimam mais de R$ 2 trilhões em capacidade de crédito se todos os seus índices de capital de Basileia excedentes fossem usados. Seria improvável que acontecesse de uma só vez, e mais funding ainda seria necessário para a expansão do balanço, mas este é um número significativo dado o volume de crédito total de R$ 5 trilhões no sistema financeira do Brasil atualmente”, diz o relatório.

Os analistas lembram que a participação de mercado dos bancos públicos, quando o critério é volume de crédito, passou de cerca de 40% em 2010 para quase 60% em 2016, e caiu para 40% novamente atualmente. Eles apontam que a expansão do crédito poderia estimular o desenvolvimento e retroalimentar positivamente o crescimento, se feita corretamente. Por outro lado, também poderia criar um efeito de “crowding out” para outros bancos, e posteriormente se revelar insustentável e causar danos econômicos.

O estudo aponta que os bancos públicos historicamente são mais demandados para acelerar o crédito em períodos de pouco espaço fiscal – como será 2023 – e que também podem ressurgir pressão para elevar impostos sobre o setor financeiro.

Mais pessimista que outras casas, o Itaú BBA aponta que o cenário atualmente para o setor bancário já é de cautela. Segundo os analistas, os dados mais recentes indicam que o movimento de recuperação da margem financeira pode estar chegando a um pico ou mesmo em declínio. Eles indicam que as taxas finais subiram muito rápido, o mix de financiamento está mudando para pior e alguns bancos estão se tornando mais seletivos em clientes e produtos. “Enquanto isso, a carteira de empréstimos de varejo estrá desacelerando e a deterioração da inadimplência provavelmente também permanecerá em 2023”.

O relatório diz que existe um medo crescente de que a qualidade do crédito corporativo possa piorar se a deterioração no varejo não for contida ou se as taxas de juros não caírem a partir de alguma momento em 2023. “As bandeiras amarelas da inadimplência em PMEs são já visíveis”.

Apesar de todo esse cenário, o Itaú BBA mantém recomendação de “compra” para BB, dado o desconto pelo qual o papel é negociado atualmente em relação aos pares privados, governança mais forte que anos atrás e forte eficiência. Eles explicam que o risco é o banco ser usado para implementar as políticas de crédito do governo, mas dizem que levaria algum tempo para isso se materializar nos resultados da instituição, o que aconteceria a partir de 2024.

Segundo ele, a recomendação de “compra” o preço-alvo de R$ 53 refletem a expectativa de que os resultados do BB este ano e no próximo vão ofuscar seus pares, não sendo um indicativo de que há alguma visibilidade sobre as políticas para bancos públicos (ou sua intensidade) até agora. “O BB é onde os múltiplos teriam o maior potencial de alta se as incertezas políticas desaparecessem”.