Inflação está mais resistente do que se imaginava, diz Gabriel Galípolo

Diretor de política monetária do Banco Central avalia que isso reflete em parte o setor agropecuário e o mercado de trabalho forte

A inflação no Brasil tem sido mais resistente do que se imaginava meses atrás, disse nesta quinta-feira (5) o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.

“A inflação está mais resistente, mais resiliente do que a gente imaginava inicialmente, especialmente quando se olha para alguns indicadores, como de serviços subjacentes”, disse Galípolo durante o Fórum GRI de Fundos Imobiliários.

“Não foi só o crescimento (do PIB) que surpreendeu, positivamente, a inflação também”, acrescentou Galípolo.

Para o economista, alguns fatores que podem ajudar a explicar isso são a forte atividade do setor agropecuário e a resiliência do mercado de trabalho.

No entanto, essa combinação também tem sido experimentada em outros países, o que tem levado autoridades monetárias a tentar identificar outras causas estruturais.

Entre elas poderiam estar os efeitos da pandemia, da consequente política monetária mais suave nos EUA e da invasão na Ucrânia.

“Precisamos ter humildade”, afirmou Galípolo, resumindo que as autoridades monetárias estão tentando entender o que está acontecendo.

Juros futuros nos EUA

Segundo Galípolo, ao mesmo tempo os agentes de mercado têm tentado entender os motivos pelos quais os juros futuros dos Estados Unidos têm subido tão forte nas últimas semanas.

Esse episódio, segundo ele, têm colocado ainda mais pressão sobre bancos centrais de países emergentes, cujas moedas têm sofrido isso mais fortemente.

O diretor do BC citou, inclusive, que a escalada do juro futuro dos EUA tem influenciado os contratos de juros futuros também no Brasil.

Segundo o boletim Focus, a pesquisa do BC dos agentes do mercado, a expectativa de conclusão do ciclo de cortes da Selic, até semanas atrás ao redor de 9,5%, agora rondam 10,5%.

A taxa básica brasileira está hoje em 12,75% ao ano, após dois cortes sucessivos de 0,5 ponto percentual cada.

Para o diretor do BC, embora a inflação tenha perdido força nos últimos meses, permitindo o início da flexibilização monetária, ainda há trabalho a fazer para ancorar as expectativas de inflação para prazos mais longos.

“Temos reancoragem parcial das metas de inflação. BC ainda tem última milha para conseguir uma reancoragem total”, afirmou ele.

O previsão mais recente do mercado para o IPCA de 2024, por exemplo, é de 3,87%.

A meta de inflação perseguida pelo BC para o ano que vem é de 3%.