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Economia da Rússia começa a mostrar sinais de desgaste da guerra
A economia russa enfrenta dificuldades com a queda do rublo e sanções dos EUA sobre o Gazprombank. O governo russo tenta controlar a situação, mas a inflação e a escassez de moeda forte complicam o cenário. A guerra prolongada na Ucrânia continua a impactar negativamente a economia russa.
A economia russa começou a mostrar sinais de graves desgastes. O rublo russo está em forte queda. A inflação está nas alturas mas, nesta semana, o presidente Vladimir Putin disse à população não haver motivo para pânico.
O catalisador para a mudança na economia russa foi a decisão do governo de Joe Biden de incrementar as sanções sobre o Gazprombank, último grande banco que ainda não estava sob sanções. A instituição era usada por Moscou para pagar soldados e processar transações comerciais, e sobre mais de 50 outras instituições financeiras.
O Gazprombank havia sido poupado em rodadas anteriores de punições para permitir que países aliados na Europa pagassem à Rússia por fontes de energia. Tratava-se de um canal vital para a entrada de moeda forte em troca das exportações.
Moeda russa despenca
O rublo russo chegou a cair para a menor cotação em 32 meses. A moeda permaneceu próximo ao menor patamar desde os dias seguintes à invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com dados da LSEG. Assim, 108 rublos por valem US$ 1.
A queda foi interrompida após o Banco Central da Rússia intervir nos mercados de câmbio na noite de quarta-feira (27). As autoridades monetárias anunciaram que suspenderiam a compra de moeda estrangeira pelo restante do ano.
A medida acontece quando o governo tem excedentes de petróleo e gás e que ajuda aliviar a escassez de moeda forte.
Para governo, economia russa está sob controle
Na quinta-feira (28), Putin disse que “a situação está sob controle e certamente não há motivos para pânico”. O ministro da Economia, Maxim Reshetnikov, declarou que preocupações sobre como as sanções estão afetando o comércio exterior russo foram responsáveis pela queda do rublo.
“É óbvio que será necessária uma adaptação às novas sanções contra a Rússia. Inclusive com mudanças nos mecanismos bancários e nos canais de entrada de moeda estrangeira no mercado”, disse Reshetnikov.
As novas sanções podem complicar ainda mais as já limitadas rotas comerciais da Rússia, segundo autoridades e analistas russos.
Este é um momento crucial para a guerra, que se aproxima de seu terceiro ano. A Rússia vem avançando na linha de frente, apoiada por soldados norte-coreanos e armamentos iranianos. O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, prometeu encerrar a guerra na Ucrânia. Isso deixou incerta a continuidade ou a expansão das sanções contra a Rússia.
Ao colocar o alvo sobre o Gazprombank, Washington tenta cortar um dos últimos grandes elos do país com o sistema financeiro ocidental.
Moeda russa para salvar a economia
A Rússia tem negociado mais em sua própria moeda e em moedas dos chamados países “amigos”, como o yuan chinês e a rupia indiana. Empresas russas também encontraram alternativas, como o uso de criptomoedas ou a troca direta de bens. Ainda assim, o acesso ao dólar continua sendo crucial.
Após o anúncio das medidas, a Turquia informou que negociaria com os EUA. O objetivo é tentar obter uma isenção que permita continuar pagando ao Gazprombank pelas importações de gás natural da Rússia, seu principal fornecedor.
A Hungria, um dos poucos países europeus ainda dependentes do gás russo, comunicou que também buscaria soluções.
“Pânico é racional”
As sanções contra o Gazprombank estão causando um efeito paralisante. Assim, comerciantes, exportadores e bancos estrangeiros tentam entender se poderiam ter problemas em usar o banco.
“Então é racional que haja um pouco de pânico”, disse Rachel Ziemba, pesquisadora sênior do Center for a New American Security, centro de estudos em Washington com foco em política externa. “Mas talvez vejamos em algumas semanas novas rotas sendo abertas.”
A economia russa sofreu um duro golpe nos meses seguintes à invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. No entanto, os altos gastos públicos e a reorientação da economia para o esforço de guerra fizeram a economia voltar a crescer. O enorme volume de dinheiro fluindo para os soldados e os créditos residenciais baratos ajudaram a sustentar os consumidores.
Gastos militares recordes
Em 2024, os gastos militares atingiram recorde desde a era soviética. E, segundo o planejamento atual, vão subir para mais de US$ 120 bilhões, em 2025. Assim, serão mais de 30% do total de gastos anuais.
Esses estímulos, porém, vêm acompanhados de efeitos colaterais perigosos. Principalmente, a inflação está em mais do que o dobro da meta do Banco Central russo. As autoridades monetárias elevaram os juros básicos para 21% em 2024, mas até agora isso pouco fez para esfriar a economia superaquecida. A escassez recorde de mão de obra, com mais homens em idade economicamente ativa indo para o front, tem sido outro fator inflacionário.
Agora, a queda livre do rublo ameaça aumentar ainda mais o custo das importações. A inflação ao consumidor já está próxima de 9% em novembro, segundo dados oficiais.
O custo médio de bens e serviços diários aumentou 28% em meados de novembro, na comparação anual.
Juros devem ir para 23% em dezembro
Tatiana Orlova, economista-chefe de mercados emergentes da consultoria Oxford Economics, prevê que o BC russo elevará os juros para 23% em dezembro.
Ela também acredita que Moscou restabelecerá os controles de capitais, exigindo que exportadores repatriem mais de suas receitas em moeda estrangeira. Isso deve aumentar a demanda por rublos.
Esses esforços, juntamente com a redução das importações após as festas de fim de ano, podem estabilizar o valor do rublo. Mas os juros mais altos começarão a pesar mais na economia em 2025, levando a uma recessão em 2026, segundo Orlova. Partes da economia que não estão sendo impulsionadas pelo governo, como a agricultura e o transporte, estão em retração.
“A economia provavelmente está num ponto de inflexão”, disse Orlova. “Esta política monetária muito contracionista está guiando a economia rumo à recessão.”
Poucos acreditam em crise econômica russa
Poucos acham que a Rússia esteja à beira de uma crise econômica mais grave. Mas, quanto mais a guerra se prolongar, mas dificuldades irão se acumulando.
“Os dilemas das políticas públicas se tornarão cada vez mais desafiadores”, disse Elina Ribakova, pesquisadora sênior do centro de estudos Peterson Institute for International Economics. A Rússia provavelmente continuará enfraquecendo suas perspectivas econômicas ao priorizar a guerra à custa da saúde, da educação e de outras áreas não militares, disse.
Os russos ficaram abalados com a queda da moeda nesta semana e com a situação da economia russa. Eles ainda acompanham de perto a taxa do dólar, e a desvalorização do rublo para acima de marca de 100 rublos por dólar era um limite psicológico importante para medir a saúde da economia. Em relação ao yuan chinês, o rublo caiu quase 10% em novembro.
No aplicativo de mensagens Telegram, popular entre os russos, um usuário fez um apelo: “Por favor, diga-me que tudo ficará bem, estou me sentindo mal”. A conta oficial do Banco Central da Rússia respondeu: “Tudo ficará bem.”.
Com informações do Valor Pro
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