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Brasil pode ser muito interessante para o capital estrangeiro, diz Goldman Sachs
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John Waldron afirmou que a América Latina está mais habituada a cenários inflacionários
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O executivo destaca que, no ciclo atual, os Bancos Centrais de economias emergentes se moveram rapidamente
Em sua primeira visita ao Brasil desde 2019, o presidente e COO do Goldman Sachs, John Waldron, esperava que o cenário de inflação e juros altos fosse estar no centro das conversas que teria com as companhias locais.
O executivo ficou surpreso, no entanto, ao sentir que as eleições e as políticas que serão adotadas no futuro governo lideravam a lista de preocupações dos clientes. Sua percepção foi a de que a apreensão quanto à trajetória dos preços e das taxas de juros está muito mais acentuada nos Estados Unidos do que no Brasil.
Waldron conversou com o Valor durante viagem ao Brasil e a outros países da região, na semana passada. “Eu passei o dia me encontrando com várias companhias brasileiras e a questão que mais estava na mente dos clientes era a eleição. Eu achei isso interessante porque esperava ouvir mais sobre a preocupação em relação a juros”, afirma. “Não estou dizendo que os clientes acham que não há nada com o que se preocupar, mas eu estava esperando mais ansiedade em relação a isso e não vi isso tanto quanto esperava.”
O executivo afirma que a América Latina está mais habituada a cenários inflacionários e que, em alguns aspectos, os choques atuais podem ser mais significativos para os EUA e países da Europa do que para a região. “Os EUA não estão acostumados a conviver com um nível de inflação nem perto do atual”, diz.
Ele destaca que, no ciclo atual, os Bancos Centrais de economias emergentes se moveram rapidamente e iniciaram antes o processo de aperto monetário, enquanto, normalmente, o movimento é conduzido por países desenvolvidos. “Talvez por essa história e legado dos emergentes de entenderem que a inflação, quando fica pronunciada, precisa ser enfrentada logo.” Assim, enquanto aqui a percepção é a de que o BC já está no fim do ciclo de aperto, nos EUA e na Europa as autoridades monetárias ainda estão “no meio do caminho”.
A inflação dos EUA em doze meses desacelerou para 8,5% em julho, de 9,1% em junho, o que, na visão de alguns analistas, reduz a pressão sobre o Federal Reserve (Fed). Após a divulgação dos dados, algumas instituições voltaram a prever uma alta menor nos juros americanos na próxima reunião da autoridade monetária, em setembro – de 0,50 ponto percentual e não mais de 0,75 ponto. Ontem, dados econômicos também mostraram uma ligeira desaceleração da atividade americana.
A reação do mercado mostra que os agentes estão mais confiantes de que o Fed está no caminho certo para levar a inflação a patamares mais baixos, diz Waldron. O banco, no entanto, vê um cenário mais desafiador, em meio a níveis recordes de estímulos fiscais e monetários e choques de commodities. “Nos preocupamos que a inflação seja mais difícil de enfrentar e mais persistente que o esperado.”
Ele observa que ainda há desafios significativos pelo lado da oferta. Os preços das commodities caíram e é esperado que esse movimento continue. Ainda assim, há uma significativa escassez que pode fazer com que os preços se mantenham altos por mais tempo. A Europa, acrescenta, é o exemplo mais claro dessa situação, frente ao cenário de guerra na Ucrânia e problemas no fornecimento de gás natural.
O executivo afirma que o mercado está tendo uma visão mais benigna do cenário, o que pode, de fato, se concretizar, mas acrescenta que a visão das empresas com as quais conversa tem sido um pouco diferente. Entra elas, há uma percepção geral de que pode ser mais difícil se livrar das pressões inflacionárias.
Em relatório divulgado na semana passada, o Goldman Sachs discutiu as chances de o Fed baixar a inflação sem causar recessão e a conclusão foi a de que existe um caminho viável, mas difícil para um “pouso suave”, frente a fatores que fogem ao controle da autoridade monetária.
Em relação ao ambiente para investimentos no país, o executivo destaca que o investidor estrangeiro está “prestando muito atenção” não só no desenrolar das eleições no Brasil quanto em outros países ao redor do mundo. “Acho que o Brasil pode ser muito interessante para o capital estrangeiro, mas é preciso ver o que vai acontecer nas eleições e qual direção as políticas vão tomar.” O baixo interesse pelo país no momento não é totalmente baseado em fundamentos, mas na dificuldade de tomada de decisões antes do desfecho do processo eleitoral, defende.
Entre as áreas pelas quais há interesse de investimento, Waldron destaca a de infraestrutura. “Sabemos que há muito capital que está buscando a área de infraestrutura, especialmente projetos sustentáveis.” Em um momento em que há um debate mundial sobre a globalização e em que companhias multinacionais estão repensando a forma como configuram suas cadeias de fornecimento, o Brasil pode se beneficiar, defende. Há espaço para o país aumentar sua integração comercial com os EUA, ao contrário do que tem ocorrido recentemente, quando muito do fluxo nacional tem ido para a Ásia.
O Goldman Sachs não abre números específicos sobre as operações brasileiras, mas o executivo afirma que o banco tem sido “muito bem-sucedido” em construir seu caminho na região. Ele destaca que a intenção não é concorrer com os grandes bancos nacionais pelas operações locais, mas oferecer um “complemento importante” para algumas companhias. “Podemos trazer capital global para oportunidades locais e levar capital local para oportunidades globais”, resume.
De acordo com dados da empresa de informações do mercado financeiro Dealogic, o Goldman Sachs ficou na sétima posição no ranking de operações de banco de investimentos no Brasil no ano passado.
As receitas na área, que englobam comissões recebidas em ofertas de ações, emissões de dívida, operações de fusões e aquisições e empréstimos, somaram US$ 80 milhões. As primeiras posições ficaram com Itaú BBA e BTG Pactual.
O presidente do banco afirma que as contratações na região continuam e que o Brasil é provavelmente a maior oportunidade de crescimento da presença do banco na América Latina.
Mesmo em um ambiente mais arriscado, o banco quer continuar alocando recursos em fintechs da região. “É preciso ser mais cauteloso, mas não vamos parar, vamos continuar buscando boas oportunidades.” Neste ano, o Goldman emprestou recursos para companhias latino-americanas como Nubank, Mercado Livre, Konfio e Clara.
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