Inflação não deve voltar à meta e vai manter Selic alta em 2023, projetam analistas

Economistas não descartam um novo ciclo de aperto monetário se houver aumento de gastos públicos

Os analistas do mercado financeiro já projetam a inflação de 2023 superando novamente o teto da meta estipulado pelo governo, de 4,75% para este ano. Será o terceiro estouro consecutivo, visto somente entre 2001 e 2003. Os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2022 mostraram que a inflação está resiliente por diversos fatores.

“Há uma pressão inflacionaria generalizada, vinda de produtos e serviços, 70% do que as famílias consomem ficou mais caro, é um percentual que resiste aos meses, não foi apenas em dezembro, ainda houve a manobra fiscal com o corte de impostos de combustíveis, que devem voltar, além de pressão externa”, avaliou Andre Braz, economista do Ibre/FGV.

Ainda segundo Braz, o único remédio para isso é a taxa de juros elevada, que deve se manter em 13,75% ao menos até o final do ano, na avaliação do economista. O mercado ainda espera a divulgação dos planos do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para precificar a intenção de gastos públicos do governo.

Informado nesta terça-feira, o IPCA de dezembro avançou 0,62% e a inflação do ano todo de 2022 ficou em 5,79%. O mercado projetava uma alta de 0,45%, segundo mediana das 36 projeções colhidas pelo Valor Data.

A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2022 era de 3,5% com intervalos de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, sendo o teto da meta uma inflação de até 5% ao ano. Para 2023, a meta é um pouco menor, de 3,25% no ano, com intervalos de 1,5 p.p. para mais ou para menos.

A XP Investimentos projeta o IPCA de 2023 em 5,4% com volta da tributação federal sobre combustíveis em março, que pode influenciar em até 0,5 ponto percentual no índice. A casa não incorporou uma elevação do ICMS na gasolina, mas estima que o impacto seja de até 0,70 p.p. no índice.

A XP, no entanto, observa uma desinflação em curso, em linha com normalização da cadeia global de valor e a acomodação nos preços das commodities, além do desaquecimento da demanda doméstica. “Esperamos que o IPCA de janeiro desacelere com as promoções de início do ano e a deflação de energia elétrica e combustíveis, sendo este último um risco no cenário”, completou.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o dado ruim de 2022 já era esperado, e não vê motivos para alterar a projeção de inflação de 5,50% para 2023. Isso sem considerar o retorno dos impostos sobre combustíveis.

“Quanto ao Copom, acreditamos que o BC vai esperar até o fim do primeiro trimestre para decidir uma possível retomada do ciclo de alta de juros, atualmente precificada pelo mercado. Por enquanto, nosso cenário básico é de que não haverá corte na taxa Selic em 2023, mas dependendo da inflação e se a desoneração de combustíveis acabar, acreditamos que há chances significativas de o Copom retomar o ciclo de alta no segundo trimestre”, completou Borsoi.

O Relatório de Inflação de dezembro, do Banco Central, projeta uma inflação de 5% em 2023, acima do teto da nova meta de 4,75%.

O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Banco Central, mostrou que a estimativa mediana dos economistas para o IPCA de 2023 subiu de 5,31% para 5,36%, enquanto a expectativa para a taxa Selic ao final de 2023 é de 12,25%. Atualmente a taxa Selic está em 13,75%.