‘Decepção com dividendos’, ‘ação menos atraente’: a reação do mercado após balanço da Petrobras (PETR4) no 4º trimestre

Analistas apontam que os investidores devem repensar a visão sobre os riscos de ter as ações da estatal na carteira

A Petrobras (PETR4) informou na quinta-feira (7) lucro líquido de R$ 31,04 bilhões no 4º trimestre de 2023 – queda de 28,4% na comparação anual.

Ao mesmo tempo, a companhia indicou a proposta de pagar R$ 14,2 bilhões em dividendos e JCP (juros sobre capital próprio) referentes ao período.

Ao contrário das expectativas do mercado, a petroleira não anunciou a distribuição de dividendos extraordinários. A medida veio após o CEO, Jean Paul Prates, ter indicador que a empresa seria mais conservadora na remuneração aos acionistas.

Como reflexo, os papéis preferenciais da petroleira (PETR4) chegaram a tombar acima de 10% na abertura do pregão desta sexta-feira (8). O desempenho negativo contribuía para a queda do Ibovespa na sessão.

Frustração

Para o Itaú BBA, a Petrobras reportou resultados em linha no 4º trimestre, mas surpreendeu negativamente com não pagamento de dividendos extraordinários

“A companhia divulgou um pagamento de dividendos ordinários de acordo com a política de remuneração aos acionistas, que representa R$ 1,10/ação. Isto implica em um rendimento de dividendos (dividend yield) de aproximadamente 2,7% (comparado à nossa estimativa de 3,2%, considerando somente os dividendos ordinários)”, comenta o banco.

“A empresa, contudo, frustrou as expectativas ao anunciar que não haverá distribuição de dividendos extraordinários. Acreditamos que isso deve gerar uma reação negativa do mercado, dada a relevância da frustração com os dividendos extraordinários, o que provavelmente também aumentará as preocupações entre os investidores sobre o futuro da alocação de capital da empresa”, projeta o Itaú BBA.

Diante do fato, o banco manteve a recomendação neutra (desempenho em linha com a média do mercado) para PETR4, com preço-alvo de R$ 38 ao final de 2024, em meio a um cenário incerto para o papel.

Tese sob avaliação

“Uma grande decepção com os dividendos: As atenções quanto ao 4T23 da Petrobras (PETR4) estavam voltadas para os dividendos, notadamente para a expectativa de pagamentos extraordinários (muito mais do que para o desempenho financeiro). Estávamos esperando cerca de US$ 3,9 bilhões para o mínimo somado a aproximadamente US$ 5,5 bilhões para o extraordinário”, diz a XP em relatório.

A plataforma de investimentos espera uma reação negativa do mercado à decisão do Conselho de Administração. Para os analistas, o posicionamento da estatal fará com que os investidores repensem visão sobre os riscos.

“Vemos a tese de investimentos agora como uma questão de avaliar a probabilidade de grandes movimentos de M&A ocorrerem no curto prazo. Se isso foi o que levou à decisão do Conselho de Administração, as ações provavelmente cairão ainda mais, devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos (já que a fórmula mínima leva em conta M&A como CAPEX)”, avalia a XP.

“Por outro lado, se isso tiver sido motivado principalmente pela vontade do governo de manter um ‘plano de reserva’ para o caso de as contas fiscais se deteriorarem em breve, então esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, completa a casa.

Ação menos atraente

Na visão do Safra, a surpresa negativa do balanço da Petrobras (PETR4) veio mesmo dos dividendos extraordinários. Simultaneamente, a instituição também considera que o fato deve decepcionar o mercado.

“Embora não esperássemos que a empresa pagasse o valor total disponível para a remuneração extraordinária, também não esperávamos que a Petrobras não pagasse nada nessa frente”, destaca o banco em relatório.

“O lucro líquido de R$ 31 bilhões ficou 3% abaixo da nossa previsão, uma vez que ganhos cambiais acima do esperado foram mais do que compensados por impairments de ativos e perdas com o descomissionamento de áreas. Acreditamos que a surpresa com os dividendos torna o custo de carregar ações da Petrobras menos atraente e aumenta a incerteza sobre pagamentos futuros e alocação de capital, e deve eclipsar os resultados operacionais em linha”, aponta o Safra no texto.

Aquisições no radar?

“Desnecessário dizer que os resultados trimestrais da Petrobras (PETR4) foram eclipsados por toda a discussão sobre os pagamentos da empresa. No entanto, os números foram sólidos e alinhados com o consenso”. Essa é a avaliação do BTG Pactual sobre o balanço da Petrobras.

Adicionalmente, o banco de investimentos estimava que a Petrobras poderia pagar um dividendo adicional de US$ 4 bilhões. Mesmo com a frustração, o BTG manteve a recomendação de compra para os papéis da estatal.

“Ainda temos dificuldade em prever uso para os US$ 8,8 bilhões retidos na reserva de capital que possam sacrificar o potencial extra de geração de caixa da companhia. As fusões e aquisições são os suspeitos óbvios, mas tal montante poderia acomodar a aquisição de uma participação de 100% na VBBR3 (já incluindo poison pill) e de uma participação de 50% na refinaria de Mataripe”, explicam os analistas.

“Além disso, mesmo assumindo a estimativa oficial de investimento para 2024, a Petrobras ainda deverá gerar US$ 4 bilhões em caixa adicional este ano, o que significa que a reserva de capital continuaria a crescer. Por fim, ressaltamos que a reserva de capital constituída somente poderá ser utilizada (a partir de hoje) para garantir recursos para remuneração dos acionistas”, reiteram.

Prêmio de risco

Portanto, para o BTG, a petroleira usar as reservas para outros fins exigirá alterações no estatuto.

“Embora isso não possa ser descartado, também acreditamos que é possível uma potencial reavaliação da decisão de não distribuir dividendos adicionais, embora a vontade do mercado de acreditar nisso, hoje, seja, muito limitada”, prosseguem os especialistas.

Finalmente, o banco acredita que o pragmatismo ainda pode prevalecer na alocação de capital da Petrobras, apoiado pela capacidade da empresa de gerar mais caixa do que pode gastar. Os analistas escrevem, no entanto, que a convicção está, sem dúvida, abalada.

“As mensagens transmitidas pela equipe de gestão e pelo governo nos próximos dias serão cruciais para garantir uma sólida tese de investimento. Sim, acreditamos que os investidores exigirão um prêmio de risco maior para deter as ações da Petrobras.

“Mas a boa notícia é que ainda vemos a companhia sendo negociada com um dividend yield orgânico de 12% em 2024, e que as possibilidades de aumento desse número são significativas. Do ponto de vista de EV/EBITDA, a Petrobras também está sendo negociada com um desconto de 24% vs os pares globais e de 32% para os seus pares de mercados emergentes. A questão é: quão barato é barato o suficiente?”, completam os analistas do BTG.