Méliuz (CASH3) vê ‘breakeven’ próximo, mesmo após prejuízo dobrar

Companhia aposta em acordo com o BV, em que o banco comprou uma fatia de 3,85% na fintech

A companhia de cashback e pagamentos Méliuz (CASH3) teve prejuízo de R$ 11,9 milhões no primeiro trimestre, uma piora de 118% em relação aos resultados do quarto trimestre e 81% ante os números do primeiro trimestre de 2022, ambos também negativos. A receita líquida caiu 2% na comparação trimestral, mas subiu 10% em um ano, para R$ 98,7 milhões.

A alta anual na receita foi puxada pelo avanço de 86% em serviços financeiros (R$ 8 milhões) e pela contribuição do Bankly (que ainda não era contabilizada no primeiro trimestre de 2022). No shopping Brasil (Méliuz) houve queda anual de 11%, a R$ 65,0 milhões; no shopping internacional (Picodi) a retração foi de 9%, a R$ 5,6 milhões; e em outras companhias a baixa ficou em 27%, a R$ 5,1 milhões.

O destaque do período foi o acordo do Méliuz com o BV, anunciado em 30 de dezembro. Pelo acordo, o banco comprou uma fatia de 3,85% na fintech, ao preço de R$ 1,50 por ação, corrigido pelo CDI. Além disso, tem uma opção de compra (call) que pode exercer em até 24 meses para comprar mais 20,95%. Separadamente, o BC também está comprando 100% da Bankly, por R$ 210 milhões. O Méliuz havia comprado a unidade, então chamada Acesso, em 2021, por R$ 324 milhões.

Concomitantemente, o BV também fez um acordo comercial com o Méliuz para a oferta de produtos e serviços financeiros.

Em seu balanço, o Méliuz diz que com a consolidação da parceria estratégica com o BV, a partir da segunda quinzena de março a companhia deixou de incorrer em custos e despesas referentes a produtos e serviços financeiros, o que contribuiu para uma significativa redução nos gastos.

“Se considerarmos a retirada desses custos no período completo do primeiro trimestre – e não só em parte de março -, a redução teria sido de R$ 5,5 milhões”, diz a Méliuz.

Dessa forma, a companhia diz que, excluindo os números de Bankly (cuja venda ainda depende de aprovação do Banco Central), os gastos extraordinários e os custos excluídos após o acordo comercial com BV (no primeiro trimestre por completo), as despesas operacionais totalizariam R$ 89,3 milhões, uma redução de 21% quando comparado ao quarto trimestre.

Usando as mesmas métricas, a companhia atingiu um lucro líquido recorrente de R$ 7,6 milhões no primeiro trimestre deste ano.

“Estamos muito próximos de atingir o breakeven operacional na controladora, e os avanços no primeiro trimestre de 2023 corroboram o trabalho realizado até aqui e nos fazem ter certeza que estamos no caminho certo. Ainda assim, estamos convictos que se trata apenas do início e vemos muito espaço para melhorias tanto no Méliuz quanto nas subsidiárias”, diz Israel Salmen, fundador e CEO da Méliuz.

Ele diz que há um fator sazonal que ajuda a explicar a queda trimestral da receita, mas admite que o e-commerce vem atravessando um período difícil há algum tempo.

O executivo diz que o acordo com o BV marca um novo momento para a companhia.

“Nós nunca fomos de queimar caixa, chegamos na bolsa em 2020 gerando caixa. Mais aí fizemos o IPO e o follow-on e ficamos com quase R$ 1 bilhão em caixa, então aumentamos o time, compramos uma série de empresas, investimos em marketing. Depois o cenário mudou, os juros subiram, o crédito ficou mais restrito, e nós temos de nos adaptar à nova realidade do mundo”.

Segundo Salmen, mesmo com o Ebitda operacional negativo, a companhia não queima tanto caixa, pois tem ganhos financeiros com a aplicação do caixa disponível. Ainda assim, a meta do Méliuz é chegar ao fim do ano com um Ebtida zero, sem nenhum ajuste.

O objetivo vale para o Méliuz em si, não no consolidado do grupo, que inclui outras empresas, mas o executivo diz que muitas delas já geram caixa e que o maior desafio está mesmo no Méliuz.

Para controlar custos, o Méliuz demitiu 6% da sua base de funcionários em janeiro e não está mais contratando, nem para repor vagas, o que significa que o quadro de colaboradores segue encolhendo. O acordo com o BV também vai ajudar nesse sentido, e a companhia ainda tem feito um trabalho muito forte de renegociação com fornecedores.

Na parte da receita, o CEO aponta que ainda que o volume de vendas (GMV) tenha caído 12% na comparação anual, o faturamento total subiu porque o Méliuz vem conseguindo aumentar a take rate – a taxa cobrada a cada transação. A taxa líquida saiu de 2,0% no primeiro trimestre do ano passado para 2,2% este ano. “Consideramos o nível atual como o novo piso, é daqui pra cima”.

Apesar de ter comprado o Bankly por R$ 324 milhões e ter vendido por R$ 210 milhões, Salmen diz que o negócio foi bom, já que parte do preço pago há quase três anos foi em ações, quando o papel do Méliuz valia perto de R$ 5, bem mais que agora, que está na casa dos R$ 0,88.

“Eu faço uma análise positiva dessa venda, ainda mais considerando o acordo comercial que veio junto.”

O Méliuz terminou o trimestre com R$ 436,7 milhões em caixa, equivalentes e aplicações financeiras, sendo que em breve ainda deve receber os R$ 210 milhões mais correção da venda do Bankly.

O CEO diz que ainda está discutindo com o conselho o que fazer com esses recursos.

“Ainda estamos debatendo saídas, o que fazer. Podemos eventualmente realizar uma distribuição, ou aquisições, há uma série de canais. Não tomamos uma decisão ainda.”

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