EXCLUSIVO: levantamento mostra 8 ações baratas que podem pagar dividendos acima da Selic

Estudo feito para a Inteligência Financeira considerou o histórico de remuneração das companhias nos últimos cinco anos

Com a Selic em 11,25% ao ano e em tendência de queda, a renda variável acaba atraindo um fluxo de investidores à procura de retornos maiores. Mas é possível encontrar ações, que pelo histórico, teriam capacidade de entregar dividendos acima da taxa básica de juros em 2024 – e ainda valorizar?

Levantamento exclusivo feito por Fábio Sobreira, analista da Harami Research, para a Inteligência Financeira revela que existem 8 ações.

Pelo histórico de remuneração ao acionista nos últimos cinco anos, esses papéis teriam capacidade de pagar dividendos acima da Selic em 2024.

Como o cálculo foi feito

Para chegar ao dividend yield projetado para 2024, Sobreira considerou a expectativa do lucro das empresas para este ano.

Essa expectativa foi calculada com base no lucro médio das companhias nos últimos cinco anos.

O analista também levou em consideração o crescimento anual dos lucros no mesmo período.

Então, a projeção de lucro para 2024 foi multiplicada pelo payout (parcela do lucro destinada a proventos) médio dos últimos cinco anos. Assim, o resultado é o dividend yield (retorno em dividendos) para 2024.

“Ou seja, a empresa precisa gerar lucro em 2024 para distribuir dividendos e se ela mantiver sua política de remuneração dos últimos cinco anos, teremos o dividend yield projetado para 2024”, explica o analista.

O levantamento desconsiderou companhias que não distribuíram proventos todos os anos nos últimos cinco anos, com exceção da Petrobras. Também foram excluídas empresas com baixa liquidez de negociação.

Ações caras e baratas

Sobreira também identificou quais ações estão caras e baratas no levantamento.

Comparando os múltiplos P/L (preço/lucro) atual com o P/L projetado para 2024, seis ações estariam descontadas.

Foi considerado também que quando o P/L projetado para 2024 é menor que o atual, significa que o lucro será maior em 2024 do que atualmente. E isso deve elevar o preço das ações ao longo do tempo.

Mas se observadas as empresas que pelo preço atual conseguem proporcionar um dividendo de 11,25% ou mais e ainda ter espaço para valorização, todas as companhias do levantamento poderiam ser consideradas baratas, na visão de Sobreira.

Veja abaixo as 8 ações que devem pagar dividendos acima da Selic (11,25%) ainda neste ano:

EmpresaPayout Médio
5 anos
Preço 30/01Poder de lucro 2024Dividend yield projetado 2024Valor limite de compra para receber 11,25% de dividendosPotencial de valorização até DY de 11,25%Valor limite de compra para receber 6% de dividendosPotencial de valorização até DY de 6%Status pelo DYP/L AtualP/L 2024Status pelo P/L
Petrobras (PETR4)91%R$ 40.4723.17%21.17%R$ 76.1588%R$ 142.79253%Barato3.814.32Caro
Bradespar (BRAP4)51%R$ 22.9041.00%20.72%R$ 42.1884%R$ 79.08245%Barato4.22.44Barato
Gerdau Metalúrgica (GOAU4)46%R$ 10.1035.14%16.32%R$ 14.6545%R$ 27.47172%Barato3.762.85Barato
Metal Leve (LEVE3)104%R$ 33.6113.51%14.08%R$ 42.0525%R$ 78.84135%Barato5.957.4Caro
Vale (VALE3)57%R$ 68.3024.04%13.79%R$ 83.7423%R$ 157.02130%Barato6.334.16Barato
Unipar (UNIP6)73%R$ 70.7018.06%13.25%R$ 83.2418%R$ 156.08121%Barato9.335.54Barato
Brasilagro (AGRO3)78%R$ 25.1315.77%12.32%R$ 27.5210%R$ 51.60105%Barato9.586.34Barato
Gerdau (GGBR4)40%R$ 21.2030.51%12.30%R$ 23.189%R$ 43.46105%Barato4.513.28Barato
Fonte: Fábio Sobreira, analista da Harami Research

As ações que devem pagar dividendos acima da Selic destacadas pelos analistas

Veja abaixo, o que o analista Fábio Sobreira, da Harami Research, Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, Vinicius Steniski, analista do TC, Max Bohm, estrategista da Nomos, e Sérgio Neto, analista de ações da Capitalizo, destacam entre as ações:

VALE (VALE3)

Para a Vale (VALE3), os analistas estão um pouco conservadores dada a ciclicidade da companhia. Sérgio Neto, analista de ações da Capitalizo, trabalha com a expectativa de que a mineradora entregue dividendos de 12% neste ano, diante do preço do minério de ferro que ainda é considerado atrativo.

Neto destaca que a Vale é uma companhia que historicamente trabalha com custos competitivos e deve se aproveitar bastante do patamar do minério.

“A empresa está gerando bastante caixa, reportou dados da produção crescente no 4°trimestre. Esse mix de crescimento de produção com preços do minério atrativos devem fazer com que a companhia continue gerando bastante caixa e proporcione dividendos interessantes”, avalia.

Contudo, faz a ressalva: a alocação em Vale seria mais tática, porque a companhia não se encaixa em uma estratégia de renda passiva no longo prazo por ser cíclica.

“Os dividendos dela acabam oscilando mais”, diz o analista. Pelo seu histórico, Neto considera que no longo prazo ela seria capaz de manter uma faixa de dividendos de 5% ao ano. “Ainda é um patamar médio interessante para o longo prazo”, observa.

Segundo Neto, a Vale é uma empresa competitiva que em períodos de baixa da commodity consegue distribuir um dividendo relativamente bom. E nos períodos de alta paga proventos elevados de dois dígitos. “Já vimos ela entregando um dividend yield de 16% no passado”, pontua.

Riscos da Vale

Entre os riscos ele destaca a conjuntura do mercado, caso o preço do minério caia para um patamar muito baixo, ou seja, afetado pelas dificuldades na China com o mercado imobiliário. Apesar disso, ele reforça que mesmo com o minério em queda, ela ainda conseguiria pagar dividendos.

Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, é ainda mais cauteloso e espera dividendos de 8% para a Vale em 2024.

Ele também avalia que a companhia não se encaixaria em uma estratégia de renda para o longo prazo pela volatilidade do negócio, que depende de fatores externos, como o minério e  a situação macroeconômica da China.

“Tem toda a questão da crise imobiliária, tudo isso afeta a demanda pelo minério de ferro, então a Vale depende de muitos fatores externos para gerar resultado”, diz.

Vantagens da Vale

Entre as vantagens de investir em Vale pensando em dividendos acima da Selic, ele destaca o histórico da companhia que já remunera o acionista há alguns anos. Isso apesar da falta de visibilidade pela natureza operacional cíclica da companhia.

Gerdau (GGBR4)

Porém, em relação às ações da Gerdau (GGBR4), Neto enxerga que a companhia possa entregar dividendos de, no mínimo, 8% neste ano.

Contudo, ele destaca que há possibilidade de a empresa distribuir dividendos acima da Selic.

“Recentemente, a Gerdau vendeu uma participação de 50% da Gerdau Metaldom por cerca de US$ 325 milhões. Isso pode gerar dividendos extraordinários em 2024”, afirma.

Logo, a Gerdau é a preferida (Top Pick) da Capitalizo no setor de siderúrgicas, apesar do cenário desafiador para o segmento.

Neto destaca a concorrência aumentando, com a exportação do aço chinês, apesar disso acredita que a Gerdau está gerando bastante caixa pela sua posição dominante no mercado norte-americano.

Riscos da Gerdau

Entre os riscos, porém, o analista destaca o preço do aço chinês, que consegue ser muito barato, impactando os resultados da Gerdau.

Vantagens da Gerdau

Já entre as vantagens, ele cita que a empresa está bem precificada, com endividamento baixo e uma estrutura de capital confortável. “Hoje ela ainda é uma empresa que gera caixa e seus resultados, mesmo que pressionados, ainda são robustos”, pontua.

Contudo, Vinicius Steniski, analista do TC, acredita que a Gerdau tem potencial de entregar dividendos entre 8% e 12% neste ano. Ele aponta que as empresas de commodities estão na baixa do ciclo, considerado o melhor momento para adquirir as ações e garantir retornos maiores no longo prazo.

“O investidor estaria comprando mais barato empresas sólidas, enquanto há um sentimento negativo com o setor. Porém, quando houver uma melhora de cenário para as commodities, a tendência é que o desempenho delas melhore também”, avalia Steniski.

Aliás, segundo o analista do TC, ao comprar estas ações baratas, o investidor garantiria um retorno pela valorização e também um segundo retorno pelos dividendos, dado que o dividend yield seria maior do que se comprar a ação cara.

“A meu ver, a Gerdau está em um preço que não tem como recuar mais de acordo com as nossas expectativas”, destaca Steniski.

Brasilagro (AGRO)

A BrasilAgro (AGRO3), por exemplo, que trabalha com a exploração e venda de fazendas, além de produção agrícola, pagou em média 78% do seu lucro em dividendos nos últimos cinco anos. Pelo seu histórico, a companhia deve entregar um dividend yield de 12,32% em 2024, acima da Selic.

Cotada próxima dos R$ 25, o investidor teria que comprar a ação até R$ 27,52 se quiser garantir um dividend yield de 11,25%.

Já se preferir obter pelo menos 6% de retorno em dividendos – uma métrica muito utilizada entre as melhores pagadoras – o investidor teria que adquirir os papéis AGRO3 até o preço limite de R$ 51,60.

Então, no primeiro cenário, além dos dividendos, ele ainda teria espaço para ação valorizar em 10%. Já na segunda situação, a companhia poderia ter uma alta de 105% e ainda entregar proventos de 6%.

Assim, Max Bohm, estrategista da Nomos, acredita que a Brasilagro (AGRO3) tenha capacidade de entregar um dividend yield superior a 10% em 2024, a depender se a companhia fizer alguma venda de terras.

Riscos da Brasilagro

Mesmo com o agronegócio enfrentando dificuldades e quebra de safra pelo fenômeno climático El Niño, Bohm não enxerga impactos relevantes na BrasilAgro.

“Assim, o cenário é de piora, mas é uma situação controlada. Conversamos com a Brasilagro e a empresa está tranquila e não deve enfrentar problemas”, diz.

Vantagens da Brasilagro

Ele explica que a empresa compra, desenvolve terras e vende para gerar caixa, que por sua vez vira dividendos.

Aliás, este processo ocorre há mais de 10 anos.

“Faz parte do negócio dela, comprar, desenvolver e vender todo ano uma parte do seu portfólio de terras”, afirma.  A companhia também trabalha com o cultivo e produção de commodities agrícolas para desenvolver as terras. A venda destas também forma uma pequena parte da sua receita.