A mulher de R$ 600 bi sob gestão: quem é Marise Reis Freitas, da BB Asset

Uma das executivas mais poderosas do mercado financeiro fala com exclusividade à Inteligência Financeira

Tímida, de cabelos longos e soltos, risada larga. Assim é Marise Reis Freitas, Head de Fundos de Renda Fixa Indexados da BB Asset Management, que é a gestora do Banco do Brasil. Sob seu comando estão seis analistas, 47 fundos de renda fixa e… R$ 600 bilhões. Sim: 600 bilhões de reais. Esse dinheiro equivale:

Poderíamos ficar linhas e mais linhas falando sobre o que cabe em R$ 600 bilhões, mas vamos para a fase seguinte. Vamos falar sobre Marise.

Marise tem dois filhos e dois netos e trabalha no Banco do Brasil desde 1998, quando passou em um concurso. A fortuna que está sob sua gestão é a classe de ativos para onde todo o mercado financeiro está olhando: a renda fixa. Com juros de 13,75% ao ano, os fundos lastreados em Selic ganharam a atenção dos investidores.

E sabe o que Marise faz de melhor? Ela analisa. Então, ela olha para o risco dos títulos de renda fixa que estão em sua prateleira, e bate o martelo sobre quando e quanto comprar ou vender.

Isso para escrever de uma maneira muito resumida. Porque o dia a dia é tenso e complexo, cheio de gráficos, contas com juros compostos, análise de risco e do cenário político, acompanhamento dos concorrentes. E sempre lembrando que na outra ponta estão milhões de clientes de todas as idades, de todos os cantos do Brasil, que dependem daquele dinheiro para pagar contas e realizar sonhos. É um jogo de xadrez bem complicado.

E, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a Inteligência Financeira conversou com Marise para entender como funciona a cabeça de uma das gestoras mais poderosas do país.

Em uma conversa franca e sem pretensão, ela nos contou como controla o próprio dinheiro e – pasme – já tem até uma reserva separada para pagar o próprio funeral. Abaixo, veja os principais trechos desta entrevista exclusiva que Marise concedeu à IF:

Alguém da sua família trabalha no mercado financeiro?

Ninguém. Meu pais nasceram em Diamantina, terra de Juscelino Kubitschek e de Chica da Silva. Meu pai era médico e minha mãe, dona de casa. Sou a filha mais nova, tenho duas irmãs e um irmão. Aos 14 fui estudar em Belo Horizonte e me casei aos 17. Estudei economia no Rio de Janeiro, fiz pos-graduação também em economia no Coppead e mestrado na Fundação Getulio Vargas.

Há quanto tempo você trabalha no BB?

Meu primeiro e único emprego foi no Banco do Brasil e completo 25 anos de casa em maio. Comecei trabalhando em análise de macroeconomia. Vim para a BB DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, atual BB Asset Management) porque era um desejo meu estar mais presente na gestão, e também porque eu tive muito incentivo de um chefe.

Como você se tornou a mulher forte do Banco do Brasil?

Encontrei poucas mulheres na minha trajetória. Mas meus chefes queriam que os economistas trabalhassem em gestão e, aos poucos, as portas foram se abrindo. Fiquei na renda fixa por 4 anos, depois fui para a área de fundo de fundos e voltei para renda fixa. As coisas foram acontecendo.

Você se sente uma inspiração para outras mulheres?

Não me vejo guru de nenhuma mulher. Vivo no meu mundo, com minha equipe. Não sei se as pessoas conhecem meu trabalho. Mas vejo o trabalho das minhas colegas com muito orgulho. Uma coisa que eu gosto muito é quando eu vejo as meninas crescendo. Me dá orgulho enorme. A gente pode,basta querer. Tem que ter esforço, dedicação. Mas nós mulheres podemos estar em qualquer lugar.

Em quem você se inspira?

Tem várias pessoas que eu admiro. Também admiro algumas casas de investimentos e os colegas que estão aqui. Não consigo citar, mas eu acompanho a indústria e algumas pessoas bem de perto.

O que você faz quando alguma coisa dá errada?

É preciso aprender a recomeçar, a respirar e seguir a vida. Perdi minha mãe com 10 anos em um acidente de carro. Você não se prepara para essa situação. Você só recebe a informação. Talvez isso tenha criado uma casca em mim. Com 14 anos fui para Belo Horizonte para estudar. Mas desde os 10 anos eu aprendi a tomar decisões.

Qual foi seu grande acerto?

Tem duas coisas que eu fiz que foram interessantes: trabalhar em gestão e também na área de fundo de fundos. Tudo isso me deu uma nova visão sobre o mundo dos investimentos. Foram as duas decisões mais acertadas da minha carreira.

Que recado você daria para outras mulheres?

O pulo do gato é fazer o que você gosta e ponto. Quando eu batalhei pra vir pra cá, eu pensei em trabalhar em algo que eu estudei por muito tempo. Mas é preciso ter paciência e foco. Não dá para ser diferente. E posso te garantir: eu sou muito feliz!

O que é ter inteligência financeira?

É uma coisa que meu pai já fazia. Ele era um médico no interior de Minas que anotava todo dinheiro que gastava e o que entrava. Ali foi o meu primeiro contato com as finanças. Ter inteligência financeira é isso: é ter controle sobre seu fluxo de caixa, sobre seu orçamento. Não adianta você saber tudo sobre o mercado. O ponto principal é o fluxo de caixa.

E como você faz isso com seus gastos pessoais?

Tenho minha previsão de gastos para os próximos dois anos. Eu até montei um kit funeral, com uma aplicação que vai pagar tudo quando eu morrer, é uma reserva de emergência. Já faz uns 5 anos que eu tenho tudo organizado. Numa caixinha, já dividi o que vai para os filhos, a nora e para os netos. O dinheiro nunca saiu do meu controle, nem quando penso neste momento. Ainda hoje, vou para o supermercado com calculadora, e controlo o quanto posso gastar. Ponho limite até quando estou num restaurante. Eu controlo bem meu fluxo de caixa.