Como a queda dos juros mexe com as linhas de crédito?

Fizemos 7 perguntas para especialista, que mostra de que forma as baixas na Selic podem impactar a tomada de empréstimos

A Selic teve duas quedas recentemente. Em agosto, passou de 13,75% para 13,25%, e, em setembro, baixou para 12,75% ao ano. E a expectativa é de que ela chegue em 9% no final de 2024. Pois bem. E o que isso muda (ou pode mudar) nas linhas de crédito? Para entender, fizemos 7 perguntas a Luiz Fernando da Silva, especialista em crédito do Ailos. Confira nossa conversa logo abaixo.

1. Como a queda dos juros impacta as linhas de crédito?

A queda da taxa básica de juros, ou seja, a Selic, reduz o custo de captação do dinheiro, o que possibilita a redução das taxas dos empréstimos para os tomadores.

Porém, como a redução está sendo lenta e em percentuais pequenos, os consumidores devem demorar um pouco para sentir essa redução no bolso.

2. Em um crédito para compra de imóvel, que diferença a queda nos juros pode fazer?

O efeito da diminuição da Selic no financiamento imobiliário deve ser mais perceptível para os consumidores quando a taxa atingir o patamar de um dígito. Ou seja, ficar abaixo dos 10%.

Isso acontece porque as instituições financeiras reavaliam e ajustam suas taxas de juros ao longo do tempo para refletir a nova realidade baseada no cenário econômico.

E, vale saber, não é apenas a Selic que determina a taxa de juros para um financiamento imobiliário. Também entram na lista índice de inadimplência, despesas administrativas, nível de endividamento, spread dos bancos etc. Portanto, a Selic é um componente desse custo.

Alguns agentes financeiros até reagiram ao corte de juros de alguns empréstimos com a recente diminuição da Selic. Por enquanto, porém, nenhum deles contemplou o crédito imobiliário, que teve suas taxas de juros mantidas.

3. A queda dos juros não muda o crédito imobiliário?

Juros mais baixos não têm um efeito imediato. Na prática, a baixa da Selic deve melhorar o custo do crédito imobiliário, mas esse processo leva alguns meses para se concretizar. As instituições financeiras precisam ajustar suas políticas de crédito e reavaliar o cenário econômico. Isso explica a manutenção de taxas mesmo com as atuais últimas baixas da Selic.

Ainda falando sobre a proporção de baixa da Selic versus a baixa de juros do crédito imobiliário, vale lembrar que, no início de 2021, a Selic estava em 2%, e, em um ano, chegou a 10,75%. Os juros do crédito imobiliário, por sua vez, subiram em torno de 2,4% no mesmo período.

Ou seja, a Selic impacta nos juros do imobiliário, porém não tem uma relação de proporção tão direta.

4. E se a taxa Selic chegar mesmo a 9% em 2024 (como indica o relatório Focus de outubro) como ficaria um crédito de R$ 400 mil?

Primeiramente, quero dizer que a baixa da Selic não necessariamente será aplicada na mesma proporção à baixa dos juros do financiamento.

Agora vamos à simulação, imaginando um cenário em que as taxas de crédito imobiliário acompanhem a taxa Selic, e fiquem em 9% (como está a projeção do relatório Focus).

Para tomar R$ 400 mil de crédito para comprar um imóvel, com prazo de pagamento de 30 anos, a parcela inicial corresponde a aproximadamente R$ 3.991,11. Lembrando que, no sistema de amortização SAC, essas parcelas vão encolhendo com o passar dos meses.

5. Nas condições atuais, como ficaria o crédito imobiliário?

Apenas para comparar, hoje um financiamento nas mesmas condições, porém com taxas que giram em torno de 11% ao ano, tem parcela inicial de aproximadamente R$ 4.600.

É importante enfatizar que a esse valor ainda podem ser adicionadas as taxas de seguros obrigatórios e de administração do financiamento, que compõem a parcela final. 

Além disso, a composição que define o valor de uma parcela envolve algumas variáveis como renda mensal familiar, valor de entrada, utilização ou não do FGTS no valor de entrada, prazo de financiamento imobiliário, taxa de juros, idade do interessado e valor do imóvel (para cálculo de seguros) e custos adicionais, como impostos e taxas cartoriais.

6. Está mais barato pegar dinheiro emprestado agora do que era há um ano?

Segundo a Nota para a Imprensa sobre Estatísticas Monetárias e de Crédito disponibilizada em 27/09/2023 pelo Banco Central do Brasil, podemos observar que as taxas médias praticadas em agosto de 2023 estão maiores que as praticadas em agosto de 2022.

De acordo com a nota, a taxa média de juros alcançou 43,5% a.a. em agosto deste ano, o que representa uma elevação de 3 pontos percentuais em doze meses. Na comparação mensal, por outro lado, foi observada uma redução de de 0,3 pontos percentuais.

7. É um bom momento para buscar crédito agora ou é melhor esperar?

Esse é um ponto que deve ser analisado caso a caso. Digo isso porque é preciso considerar alguns fatores para entender o momento certo de tomar um crédito.

A necessidade, a urgência e até mesmo a oportunidade estão diretamente relacionadas ao momento ideal de realizar um empréstimo ou financiamento.

Antes de tomar essa decisão, é importante analisar o cenário econômico, o mercado, as taxas e o tipo de crédito.

É válido alertar que, neste momento, ainda estamos com a taxa Selic em um patamar mais elevado. Consequentemente, os juros estão mais altos que o habitual. Portanto, se a análise considerar apenas os juros, o mais racional é aguardar a baixa das taxas.

Mas, como eu disse, esse não é o único ponto a considerar na decisão de tomar ou não um crédito.

Vamos imaginar, por exemplo, que você receba uma proposta de emprego que trará ótimas vantagens profissionais e financeiras, mas que exige um nível de inglês que você não tem. Pegar crédito para fazer um intercâmbio pode ser excelente opção, independentemente de outros fatores.