Pix faz 3 anos como hit e promete novidades; veja 8 respostas sobre o principal meio de pagamentos do Brasil

Inovações para débito automático e parcelamento estão no radar do BC, que descarta taxar transações para pessoas físicas

Parece que faz uma eternidade, mas o Pix ainda é uma criança, que completa 3 anos de existência para o público geral nesta quinta-feira (16).

O sistema começou a ser liberado para clientes no dia 3 de novembro de 2020, em uma curta fase de testes que se encerrou naquele mesmo mês. No dia 16, o programa entrou de vez no ar, para todos os clientes, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

De lá para cá, o Pix se revelou uma verdadeira revolução no sistema bancário. Em apenas 100 dias, o sistema já era conhecido por 99% dos brasileiros, de acordo com um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) feito no início de 2021.

E, agora, chega aos 3 anos como o principal meio de pagamento do país, conforme afirmou recentemente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Um levantamento do Itaú Unibanco mostra que o uso do Pix cresceu 125% entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Mas quem criou o Pix? o que fez com que o Pix pegasse tão rápido no Brasil? O sistema realmente é um diferencial brasileiro ou é algo que é comum no mundo? O Pix vai ser cobrado? Se sim, o que aconteceria? Quais os outros riscos que a plataforma pode enfrentar?

Para responder a essas e outras perguntas, a Inteligência Financeira conversou com Marcos Piellusch, professor da FIA Business School; Diego Hernandez, economista e CEO da Ativo Investimentos; e Ricardo Rodil, economista e líder de Mercado de Capitais do grupo Crowe Macro.

1. Quem criou o Pix?

O Pix foi criado pelo Banco Central, desenvolvido pelos técnicos da instituição e lançado pela autoridade monetária em 2020. No entanto, a criação do Pix é alvo de disputas políticas e foi citado nas eleições de 2022.

Candidato à reeleição, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) citava o sistema como uma das realizações do seu governo. Por outro lado, o agora presidente Lula (PT) e seus aliados atribuíam o Pix aos servidores do Banco Central, também como parte de um discurso político de defesa do funcionalismo público.

Na prática, o grupo de trabalho do BC que promoveu a criação do Pix foi instituído por uma portaria assinada em maio de 2018, com assinatura de dois chefes de departamentos do órgão. À época, o presidente da República era Michel Temer (MDB) e o Banco Central era presidido por Ilan Goldfajn.

2. Por que o Banco Central criou o Pix?

No dia 4 de setembro, o BC divulgou o Relatório de Gestão do Pix, um balanço da atuação do sistema da criação em 2020 até o final de 2022. No documento, a autoridade monetária manifestou que se preocupava com o fato de o dinheiro em espécie ainda ser naquele momento o principal meio de pagamento.

Para o Banco Central, toda a logística do papel-moeda é cara tanto para o sistema financeiro quanto para os varejistas. E que isso, portanto, era um fator de encarecimento dos preços.

Da mesma maneira, o relatório também lista as demais formas de pagamentos e transferência e aponta falhas como custos extras ou demora na concretização das operações.

Assim, conclui a autoridade monetária, o objetivo de se investir na criação do Pix era diminuir o uso do dinheiro em espécie, promover a bancarização e tornar mais eficiente a cobrança de recursos pelo varejo brasileiro.

3. Pix vai ser taxado?

Ainda em 2022, Fernando Haddad afirmou que “não havia nenhuma possibilidade” de o governo Lula taxar o Pix.

Em agosto deste ano, Roberto Campos Neto descartou em audiência no Senado que o Pix possa ter taxas para as pessoas físicas. “Não vamos taxar o Pix. Não existe isso”, disse o presidente do Banco Central aos senadores.

O professor Marcos Piellusch, da FIA, pondera que pode acontecer algo no futuro. “O risco sempre existe. Como se diz, no Brasil às vezes até o passado é incerto”, diz ele.

O docente acredita que a ampliação das criptomoedas pode ser um desestímulo a qualquer medida desse tipo no futuro, uma vez que estas poderiam surgir como novas alternativas de transações gratuitas.

Fato é, por outro lado, que já existem taxas para o Pix desde 2020. No entanto, elas se aplicam apenas às pessoas jurídicas, com taxas que variam por instituição. Um dos bancos que têm taxas zeradas para PJs, a Caixa chegou a anunciar que iria instituir a cobrança em junho, mas a estatal voltou atrás após um pedido feito pelo governo federal.

4. Por que o Pix faz tanto sucesso?

Para os especialistas, a própria largada do Pix em 2020 determinou bastante o seu sucesso. Primeiramente, pelo sistema em si ter funcionado sem grandes sustos já nas primeiras semanas.

“O fato de não termos tido falhas de segurança ajudou muito na implementação, trouxe uma segurança muito grande para o uso”, diz o professor Marcos Piellusch.

Ricardo Rodil cita a combinação de gratuidade do sistema para as PFs com o fato de o BC ter tomado a medida de exigir a adesão das instituições financeiras. “Um fato que pode contribuir para explicar a popularidade é que o Banco Central o fez obrigatório para todas as instituições financeiras” diz o executivo da Crowe Macro.

“O Pix tem um grau de eficiência muito grande. As transações ficaram mais rápidas e seguras”, Diego Hernandez, da Ativo Investimentos.

“O Brasil já tinha um sistema financeiro preparado para uma mudança como essa. O cheque já vinha caindo em desuso por aqui, enquanto nos Estados Unidos ele ainda era comum. Então ter um sistema mais digitalizado e bem regulado também ajudou”, completa.

5. O Pix só existe no Brasil? Como funciona em outros países?

A resposta para essa pergunta é, ao mesmo tempo, sim e não. O Pix é uma criação brasileira, mas que acompanha uma tendência verificada também em outros países. Gradualmente, pagamentos com Pix são feitos em outras partes do mundo, como na Flórida (EUA) até meados do ano que vem, na Argentina e no Uruguai.

Por outro lado, o sucesso do sistema no Brasil está sendo observado e inspira outros países, de acordo com os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira.

O BC realizou visitas técnicas em seis países: Austrália, Dinamarca, Estados Unidos, México, Reino Unido e Suécia. A autoridade monetária considera a Coreia do Sul como pioneira nessa seara, com a adoção de um sistema de pagamentos instantâneos em 2001.

Nos EUA, um sistema chamado de “Pix americano” está sendo adotado neste ano. Trata-se do FedNow, que é “sensivelmente mais restrito que o brasileiro”, afirma Ricardo Rodil.

“O chamado ‘FedNow’ abrange ao redor de um quarto das instituições bancárias do país e consiste numa operação mais complicada que a brasileira, pois quem quer transferir entra em contato com seu banco, que se comunica com o Fed, que contata o banco recebedor para autorizá-lo a receber os recursos”, explica o especialista.

O professor Marcos Piellusch explica que as necessidades brasileiras também explicam a inovação. Diferentemente dos EUA, onde há alta bancarização e meios eletrônicos já eram mais comuns, muitos brasileiros ainda estavam distantes do sistema financeiro. E, portanto, como cita o BC, ainda eram dependentes do uso de dinheiro em espécie.

6. Quais são os números do Pix no Brasil?

O relatório do Banco Central traz alguns números de operações, tendo como prazo o período até o final do ano passado. De acordo com o BC, o volume total das transações cresceu 914% em 24 meses e chegou a R$ 1,2 trilhão apenas no último mês de 2022. Veja outros números:

  • 2,9 bilhões de Pix feitos em dezembro de 2022. Eram 1,4 bilhão de transações em dezembro de 2021;
  • R$ 1,2 bilhão é o valor da maior transação já feita;
  • R$ 257 é o valor médio das transações via Pix;
  • 93% das transações são de até R$ 200;
  • 551 milhões de chaves registradas;
  • 71,5 milhões de pessoas que não tinham feito TEDs nos 12 meses anteriores ao lançamento do Pix fizeram uma transferência pelo sistema

7. O Pix é seguro? Quais são os desafios ao sistema?

Os especialistas apontam uma característica do Pix que ainda provoca alguma sensibilidade. A transação não pode ser desfeita, a menos que haja a boa vontade da outra parte em restituir o valor. Isso faz com que seja difícil reverter golpes e transações incorretas.

Por outro lado, também citam que as instituições financeiras aprimoraram processos de segurança. “Hoje, os bancos já identificam e avisam que aquele Pix não é usual, questionam se você quer fazer mesmo. Temos travas de valores e horários e travas de região inusual, por exemplo”, comenta Diego Hernandez.

Em seu relatório, o Banco Central lista as medidas adotadas. O BC cita a definição de limites, com um prazo mínimo de 24 horas para mudar esses limites. A autoridade monetária ainda afirma ter instituído uma estrutura de bloqueio cautelar para casos suspeitos de fraude.

Assim como de uma ferramenta chamada Mecanismo Especial de Devolução (MED), para travar recursos transferidos de forma fraudulenta. Isso em caso de reclamação da vítima.

8. O que é o Pix parcelado? O que vem por aí?

O sistema deve ter novidades nos próximos anos. Como revelou reportagem da Inteligência Financeira, o Banco Central trabalha em um futuro Pix Crédito, que permita o pagamento de compras em prestações. “O Pix Crédito será a próxima grande evolução do Pix”, disse Rodrigoh Henriques, presidente da Fenasbac, a federação dos servidores do BC, que está envolvida no projeto.

O BC adiou para outubro de 2024 o início do Pix Automático, que vai permitir o pagamento via Pix de despesas recorrentes.

Por exemplo, contas de luz e gás, serviços de streaming e mensalidades. Hoje, é preciso que haja um convênio entre instituição financeira e prestador de serviço para haver o débito automático, o que não será mais necessário.

“Em suma, as ações presentes e futuras do BC são e serão guiadas com o objetivo de permitir que pagadores e recebedores tenham a opção de escolher o Pix para todo e qualquer pagamento a ser realizado, independentemente do valor da transação e do caso de uso”, escreve o BC em relatório.