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Planeje a demissão: organize o bolso para ficar sem emprego
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O número de brasileiros que pediu demissão nos últimos 12 meses bateu recorde
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O recomendado é que você tenha, no mínimo, duas vezes o valor das suas despesas mensais em ativos de alta liquidez
Por mais que desemprego esteja alto, o número de brasileiros que pediu demissão nos últimos 12 meses bateu recorde, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pela LCA Consultores. O total de pedidos de demissão de trabalhadores com carteira assinada entre junho de 2021 e maio de 2022 chegou a 6.175.088. Esse número representa um terço do total de desligamentos que aconteceram no período, que foi de 18,7 milhões de pessoas.
Por que as pessoas estão pedindo demissão?
A resposta dessa pergunta está na pandemia. Isso porque, o surto de covid-19 que afetou o mundo inteiro fez com que grande parte dos trabalhadores passasse a exercer suas funções dentro de casa. No início, o home office parecia um tanto quanto estranho, mas passados dois anos, é visível que esse e outros novos modelos de trabalho vieram para ficar.
E sabe o que pode acontecer com as empresas que não flexibilizarem o formato como o seu colaborador irá trabalhar? Sofrerão cada vez mais com pedidos de demissão. “Além disso, no mundo inteiro é perceptível o crescimento de pessoas que entenderam que podem contribuir não somente com uma companhia, mas com várias por meio do trabalho autônomo”, explica Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O especialista ainda acrescenta que a tendência é termos um número menor de contratados e maior de pessoas contribuindo no formato de “pessoa jurídica”, ou seja, com empresa aberta. “E existe um impacto positivo nisso, afinal de contas, as empresas continuarão produzindo a mesma coisa e recolhendo imposto. Já quem pediu demissão e passar a empreender, também terá que contribuir com impostos, além de passar a gerar riqueza, o que faria com que a economia crescesse”, acredita.
Como se preparar financeiramente para pedir demissão?
Aqui, independentemente de você sair do emprego para empreender, ou se pretende buscar uma posição em outra empresa ou ainda se foi demitido, o primeiro passo é o mesmo daquela regrinha básica do planejamento de finanças: saber quais são os seus gastos fixos e os variáveis.
“Depois de entender quais e de quanto são essas despesas, é necessário verificar o que é essencial e o que é supérfluo. Feita toda essa avaliação, você vai começar a desenhar o tamanho da reserva que irá precisar para pedir demissão”, conta Ricardo Moura, head de produtos da W1 Consultoria Financeira.
Vale lembrar que dentro do cálculo mensal é necessário incluir os benefícios da CLT que você não terá mais, como plano de saúde, previdência privada, seguro de vida e até mesmo o vale alimentação ou refeição, que muitas pessoas passaram a utilizar para fazer compras.
Segundo o especialista, o ideal é que a pessoa construa uma reserva que dure, pelo menos, 12 meses. E uma dica preciosa: sabe aquele montante que você vem guardando para uma emergência? Ele pode entrar como parte do seu cofrinho para o pedido de demissão.
E se você não quer esperar tanto tempo para juntar a grana e pedir demissão, a dica é: corte gastos agora. “Será preciso montar um novo padrão de vida, enquanto não tiver uma nova receita. Então, eliminar tudo o que não é essencial”, ensina Moura.
Reserva financeira investida
Como você bem deve ter imaginado, esse dinheiro guardado deve estar todo alocado em investimentos. Jamais deixe ele parado na conta corrente, sob o risco de você cair em tentação e gastar em coisas desnecessárias. E o ideal é que o valor esteja direcionado para ativos mais conservadores, sem tanta volatilidade. Não é hora de arriscar.
“A gente está em um cenário de Selic a 13,25%. Então, um investimento que renda de 100% a 150% do CDI é uma ótima escolha para esse propósito de reserva”, conta Moura. E obviamente que você não precisa deixar todo o investimento em um mesmo tipo de ativo.
O ideal, claro, é diversificar. “Portanto, coloque uma parte do dinheiro em um investimento de liquidez diária, e outras partes em produtos de liquidez para daqui alguns meses e anos”, afirma o head de produtos da W1 Consultoria Financeira. Moura acrescenta que o recomendado é que você tenha, no mínimo, duas vezes o valor total das suas despesas mensais investidos em ativos de liquidez diária. Isso porque, mais uma vez, podem surgir imprevistos. É bom sempre se precaver quando o assunto é dinheiro.
O que é preciso saber antes de pedir demissão
Além do planejamento financeiro, sempre surgem algumas dúvidas quando você resolve se desligar da empresa em que trabalha. Por isso, a Inteligência Financeira procurou Wolnei Ferreira, diretor jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil) para sanar todas as dúvidas. Vamos a elas:
Quais são meus direitos se eu pedir demissão?
Se você tiver mais de um ano de empresa, terá direito, além do salário do último mês trabalhado, a férias e 13o proporcionais. Ou seja, se você pedisse demissão agora em julho, por exemplo, iria receber o valor referente a 7 meses. A chamada PRL, que é a Participação nos Lucros da companhia, também é depositada proporcionalmente aos meses trabalhados.
O que perco com o pedido de demissão?
- 40% da multa rescisória ;
- seguro-desemprego;
- Fundo de Garantia (FGTS).
O que acontece se eu pedir demissão e não cumprir o aviso prévio?
“Quando o trabalhador pede demissão, ele obrigatoriamente precisa cumprir esses 30 dias de trabalho. Caso o colaborador não queira, ou não possa ficar mais esse período exercendo a sua função, existem duas saídas: a empresa pode dispensá-lo, ou cobrar dele o pagamento desse aviso prévio, que é o valor de um salário desse funcionário”, explica Wolnei Ferreira.
Também é possível fazer um acordo consensual com a empresa. Funciona assim: o empregado pede o acordo e justifica o motivo. Se a companhia concordar, as partes se acertam quanto à data de saída. “Então, o colaborador não precisa cumprir o aviso prévio, que será indenizado em 50% do valor pela empresa. Já a multa rescisória do FGTS será de 20% e depositada na conta do ex-funcionário. Nesse caso, o trabalhador passa a ter direito a levantar 80% do Fundo de Garantia e não possui seguro-desemprego”, acrescenta o diretor jurídico da ABRH.
Quanto vou receber se pedir demissão?
O cálculo que você precisará fazer para saber quanto vai receber funciona assim: salário do mês + aviso prévio (se cumprir os 30 dias) + Participação nos Lucros, se tiver (proporcional) + férias (proporcionais) + 13º salário proporcional.
Como funciona o FGTS?
Como falamos, o Fundo de Garantia fica retido e você poderá fazer o saque em situações específicas, como para a compra de um imóvel, em caso de doenças crônicas ou em liberações do governo, como no chamado saque aniversário, em que é possível retirar uma parte do FGTS no mês de aniversário do contribuinte. Mas existe também o acordo consensual, em que você tem direito a sacar 80% do Fundo de Garantia.
O importante, claro, é você estar totalmente certo da decisão de pedir demissão e preparado financeiramente para encarar o período sabático ou o tempo de busca por uma nova colocação.
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