Ações da Natura (NTCO3) caem 56% em um ano. É hora de investir ou de pular fora?

Saiba o que aconteceu e o que dizem os analistas

Dia 22 de Maio de 2019. As ações da Natura (NTCO3) atingem o pico de R$ 61,50. Isso, então, simboliza o sucesso de uma companhia que acabava de se tornar a quarta maior marca de cosméticos do mundo.

Nesse mesmo dia a companhia confirmava a compra da marca norte-americana de cosméticos Avon por U$$ 2 bilhões. A notícia levou os papéis NTCO3 a subirem quase 10% durante o pregão da B3, a Bolsa de Valores brasileira, com muitos analistas dizendo que era a consolidação da companhia nos mercados internacionais.

E não era à toa. Em 2013, a Natura (NTCO3) havia dado início à compra da marca australiana de cosméticos de luxo Aesop – concluindo a operação em 2016 – e no ano seguinte, adquirindo a marca britânica The Body Shop. A aquisição da Avon, portanto, parecia o ápice deste plano de expansão.

Mas as coisas mudaram, como você verá a seguir.

Quando abriu capital e como foi a expansão

Criada em 1969, e com capital aberto desde 2004, a Natura (NTCO3) teve um crescimento sólido e consistente no decorrer de sua história. Navegando como uma das marcas precursoras no conceito de sustentabilidade no Brasil, a empresa teve um plano de expansão sólido ao longo dos anos.

Tanto que, no final de 2019, a Natura Cosméticos foi incorporada pela Natura &Co Holding, mudando até mesmo o ticker de NATU3 para NTCO3. Mas nos últimos trimestres algo mudou.

O que aconteceu com as ações da Natura (NTCO3)?

Desde julho de 2021, as ações da empresa vêm caindo e os balanços dos últimos trimestres não estão dando boas notícias para os acionistas.

O grupo declarou um prejuízo de R$ 559,8 milhões no último trimestre, ante um lucro de R$ 272,9 milhões no mesmo período do ano anterior.

E o mais curioso nisso tudo é que, da mesma forma que a expansão dos negócios para o exterior foi o motor de crescimento da companhia, agora são eles mesmos que preocupam.

Enquanto a Natura & Co Latam (que inclui todas as marcas na América Latina: Natura, Avon, The Body Shop e Aesop) registrou crescimento de receita líquida em 4,1%, no restante do mundo os resultados são preocupantes.

É o caso da Avon International (negócios internacionais, excetuando América Latina). Afinal, o negócio registrou receita líquida em queda de 19,8% no terceiro trimestre. Aliás, a The Body Shop (negócios internacionais, excetuando América Latina) teve desempenho ainda pior, de -29,8%.

Além disso, o fluxo de caixa livre negativo em R$ 129 milhões também foi um ponto ruim do balanço, elevando sua alavancagem para perto de 3 vezes.

Tempestade que assola a companhia

Para André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, as aquisições geraram endividamento do grupo. E, ao mesmo tempo, a empresa se viu no meio de uma tempestade perfeita: pandemia, guerra na Ucrânia, aumento dos juros e dos preços dos insumos.

“Como no varejo, as pessoas dependem muito de crédito, e elas precisam de juros baratos. O grupo Natura está passando por um momento inverso a isso. As pessoas seguram mais seus gastos, neste tipo de momento, com produtos mais supérfluos, por conta dos juros altos”, afirma.

Aesop cresce

Já nesse turbilhão de notícias ruins, confirmando a teoria de que no mercado de luxo tudo sempre vai bem, obrigado, a boa nova veio da Aesop (negócios internacionais, excetuando América Latina). A receita líquida do terceiro trimestre cresceu 8,9% quando comparado ao período anterior.

No entanto, nas últimas semanas, a Natura (NTCO3) sinalizou que deve realizar algum tipo de operação para levantar recursos a partir da Aesop.

Com os recursos, o objetivo será reduzir parte do endividamento do grupo. Além disso, também deverá haver reestruturação da Avon International e da The Body Shop.

Como comprar ações da Natura (NTCO3)?

As ações da Natura (NTCO3) são negociadas na B3 e são comercializadas sob o ticker NTCO3.

Portanto, para comprar os papéis, você precisa ter conta em corretoras ou distribuidoras de títulos e valores mobiliários cadastradas e autorizadas na B3. Assim, a negociação pode ser feita de forma eletrônica até mesmo por meio de aplicativos em seu celular.

Diversos tutoriais no Youtube ensinam como usar esses aplicativos das corretoras. Aliás, muitos deles com operações de compra e venda de ações sem taxas cobradas por essas empresas. Contudo, se preferir, você também pode contar com os serviços da Mesa de Operações para a execução das suas ordens, ligando para as corretoras.

Ou você pode ainda operar do seu celular. A gente te explica como no vídeo abaixo:

A Natura paga dividendos?

A Natura (NTCO3) anunciou cerca de R$ 180 milhões de reais em 2022 em distribuição de dividendos para seus acionistas, com R$ 0,131741 por ação. A remuneração costuma ser feita uma vez ao ano.

Vale a pena investir em NTCO3?

O head da SVN Investimentos explica que o plano de reestruturação da Natura (NTCO3) enfrenta o desafio de ser feito em um momento de volatilidade dos mercados.

“Eles estão correndo contra o tempo, porque estão fazendo isso em um momento de mercado que não é o ideal. O ideal é que você faça esse tipo de operação com o mercado mais otimista, como estava em 2019 a Bolsa no Brasil. Se a Natura (NTCO3) conseguir fazer a venda de pequenas partes do negócio, ela consegue reduzir seu endividamento e ser vista como uma empresa mais saudável”, afirma Luzbel.

Já o CEO da Natura, Fábio Barbosa, fala em otimização das operações.

“Na Avon International, continuamos a otimizar nossa presença geográfica, com mudanças significativas em mercados como Índia e Arábia Saudita. […] A The Body Shop está tomando medidas para redimensionar sua organização, conforme anunciado no fato relevante divulgado em 17 de outubro, continuamos analisando alternativas estratégicas para a Aesop”, disse o CEO no comunicado aos acionistas.

No entanto, um relatório do JP Morgan deste ano chegou a sugerir que o grupo descontinue as operações da Avon International ou as reduza.

Já os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes , do Itaú BBA, dizem que a Natura não trouxe surpresas negativas no balanço, mas a falta de gatilhos no curto prazo continua segurando as ações.

Para o BTG Pactual, é hora de ter cautela.

“Ainda vemos a Natura como uma opção binária, com incertezas no timing e no valuation de tais movimentos. Em termos de fundamentos, o curto prazo deve continuar difícil, com margens pressionadas e receita fraca, enquanto a perspectiva de juros altos e a alavancagem da Natura oferecem pouco espaço para uma melhora no resultado”, diz o relatório.