Saiba como uma guerra na Ucrânia pode afetar a economia e os seus investimentos

Primeiros efeitos seriam o aumento dos combustíveis e o crescimento da aversão ao risco

A tensão no leste europeu atingiu neste sábado (19) o nível mais alto desde que a Rússia começou a aumentar a presença militar na fronteira com a Ucrânia, em outubro de 2021.

Moradores do leste da Ucrânia estão evacuando a região enquanto a Rússia promove uma demonstração de força disparando mísseis balísticos e intercontinentais sob a supervisão de Vladimir Putin. Na Conferência de Segurança em Munique, na Alemanha, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez um apelo às nações do Ocidente para que comecem a retaliar a Rússia pelas ameaças, porque de nada adianta apenas ficar dizendo que um ataque é iminente. A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, apontou a discrepância entre as palavras e ações do Kremlin, que nega a intenção de iniciar uma ofensiva ao mesmo tempo em que expande o efetivo na fronteira.

A mobilização diplomática e militar é, segundo especialistas em geopolítica, a maior desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Caso os atritos descambem para um conflito armado, as consequências para a economia e as finanças globais devem ser enormes. O Brasil não escapa.

Conheça os principais efeitos esperados:

Na economia

Inflação

De imediato, o efeito mais latente seria o aumento dos preços de energia. Com a Rússia sob sanções, o fornecimento de petróleo e gás do país para as demais nações europeias seria prejudicado. A diminuição na oferta dos combustíveis pode pressionar ainda mais a inflação na Europa, que já está em patamares historicamente elevados. Nesse cenário, os preços do petróleo no mercado internacional sobem, levando a Petrobras a aumentar a gasolina e o diesel no Brasil, o que também vai fazer subir a inflação no país. Em janeiro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ficou em 0,54%, maior percentual para o mês desde 2016.

Comércio internacional e dólar

Reverberando internacionalmente, o aumento nos preços da energia teria o efeito de desacelerar a atividade econômica. As sanções eventualmente aplicadas contra os países do lado da Rússia geraria uma nova onda protecionista, prejudicando o comércio global. O setor exportador brasileiro, que tem enorme peso na economia, seria imeditamente afetada. Além do impacto sobre a atividade econômica interna, a taxa de câmbio subiria, já que menos dólares estariam entrando no mercado local.

Nos investimentos

Aversão ao risco

Naturalmente, em momentos de incerteza, os grandes investidores fogem dos ativos considerados de maior risco – a exemplo de ações de empresas negociadas em Bolsa de Valores de países emergentes como o Brasil – para comprar outros tidos como mais seguros. Nos últimos dias, tem se visto uma escalada dos preços do ouro, refúgio desde a Antiguidade. A Bolsa local e o real ainda não sentiram muito porque há entrada de capital estrangeiro no Brasil por causa do ciclo de alta de juros. Esse movimento se contrapõe à alta no preço do barril de petróleo, reduzindo a pressão para um eventual aumento de combustíveis por parte da Petrobras. No entanto, caso o cenário internacional piore, a moeda americana pode voltar a ganhar força ante o real e as ações tendem a se desvalorizar.

Bolsa de Valores

Para as exportadoras, o efeito deve ser calculado considerando um eventual fechamento dos mercados globais e a taxa de câmbio. Para tentar evitar uma debandada de estrangeiros do Brasil e segurar o dólar, o Banco Central poderia aumentar ainda mais os juros – a taxa Selic, referência no país, está em 10,75% ao ano, o maior nível desde abril de 2017. Os juros mais altos levariam a uma desaceleração adicional da economia brasileira, uma péssima notícia para as companhias que dependem do mercado consumidor doméstico, como as varejistas.

Renda fixa

Os títulos de renda fixa são tradicionalmente um porto mais seguro para os investidores. Se os juros subissem mais, haveria dois motivos para a migração da Bolsa para o CDB e afins, que dariam maiores retornos.

(Com reportagem de Júlia Moura e Lucas Andrade, e edição de Denyse Godoy)