Temer avalia embarque de Meirelles na candidatura de Lula como positivo

Ex-presidente destacou importância de reformas e do multilateralismo para agenda de quem vencer as eleições.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) diz que o apoio do ex-ministro da Fazenda e ex-presidenciável Henrique Meirelles (União Brasil) à candidatura de Lula é um acerto por parte da campanha do petista. “Achei a presença dele boa”, disse Temer em evento do “E Agora Brasil”, que reuniu jornalistas do Valor Econômico e de O Globo.

Após o evento, em declaração exclusiva à Inteligência Financeira, Temer afirmou que o próximo presidente brasileiro também deve adotar uma estratégia de “multilateralismo” na política internacional, já que o investidor estrangeiro busca “segurança” ao comprar ativos no Brasil.

Meirelles, tido como “pai do teto de gastos”, deve ajudar lulistas a entenderem melhor como a medida poderia ser considerada positiva para diminuir o risco país e estimular a melhora da economia brasileira. Temer reforçou que o ex-ministro da Fazenda teve papel importante no diálogo com o Congresso Nacional para aprovar a PEC do teto de gastos.

“Ele, estando lá, pode ajudar a explicar aos lulistas a importância do teto”, afirmou o ex-presidente.

Na manhã de segunda-feira (19), Meirelles e outros ex-presidenciáveis, como Cristovam Buarque e João Vicente Goulart declaram apoio expresso à candidatura de Lula. No mesmo dia, a bolsa registrou aumento de mais de 2% e o dólar caiu para R$ 5,16, sob efeito das declarações elogiosas de Meirelles quanto à gestão econômica do governo Lula. Na época, o economista era presidente do Banco Central.

“O que interessa é emprego, é renda para a população e mostrar quem faz, quem realiza”, disse Meirelles em evento ontem. “Essa história de só falatório pode impressionar muita gente mas eu acredito em fatos. Eu olho e vejo o resultado do seu governo e isso nos faz estar aqui. Portanto, vamos em frente, estou aqui com tranquilidade, com confiança, porque eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil.”

Além de melhora no Ibovespa e queda no dólar, a entrada de Meirelles na campanha de Lula trouxe uma sinalização importante para o mercado de que o ex-presidente pode empregar políticas econômicas mais “ortodoxas” além de não revogar a PEC do teto de gastos. Só da possibilidade de Meirelles embarcar no governo, um economista cita que o risco país do Brasil cai.

De acordo com o colunista do JOTA, Fábio Zambeli, Meirelles se reuniu com empresários da XP Investimentos um dia após declarar apoio a Lula. Ao mercado, o “pai do teto de gastos” se posicionou como possível candidato a ministro do petista.

Investimento estrangeiro requer segurança

Em fala após o evento à Inteligência Financeira, o ex-presidente afirmou que o próximo líder brasileiro deve ter uma estratégia de “multilateralismo” na política internacional. “Você precisa ter um Estado brasileiro pensando em ter relações com todos os países do mundo, porque a relação entre países hoje não é apenas político-institucional, é também comercial”. O ex-presidente ressaltou que é importante para o país levar adiante o acordo entre Mercosul e União Europeia.

Para atrair investimento estrangeiro, Temer diz que a palavra-chave é segurança. “É preciso [para atrair investimentos] dar segurança à atividade do investidor no Brasil. Tenho viajado pelo exterior e observado que o que eles mais querem é investir com segurança de que a alocação será bem-recebida com segurança do ponto de vista jurídico e político.

Reformas da Previdência e teto de gastos

No evento, Michel Temer também discutiu reformas realizadas em sua gestão, como a da Previdência, e quais serão os desafios do próximo presidente na aprovação de novas medidas. Temer comentou que acha difícil aprovar qualquer texto de caráter reformista na atual composição do Congresso e com o clima da polarização.

Em defesa da reforma trabalhista, cujo aprovação se deu em seu governo, o emedebista disse que o projeto harmonizou as relações de trabalho. “Se você quiser tirar direitos do trabalhador, tire a reforma”, afirmou ele, que também defendeu o teto de gastos, medida aprovada em gestão. “Sabemos que o teto de gastos dá credibilidade fiscal. Digo que pode-se rever o teto de gastos e fazer alguns ajustes, mas não deve-se revogá-lo”.

Ao ser questionado sobre propostas do ex-presidente Lula de eliminar o teto de gastos, Temer disse que o petista pode seguir outro rumo se assumir a Presidência. “Lula tem experiência de oito anos, e, assim, vai se sentar na cadeira, ver o ‘Brasil governativo’ e pensar duas vezes.”

Temer diz ter esperança de que o novo presidente faça reformas no campo social e político. O ex-presidente cita que a agenda política para 2023 deve ser de erradicação da desigualdade e da pobreza. Ao citar programas sociais de governo como Bolsa Família e Auxílio Brasil, explicou que o governo deve ter mais planos e projetos que “despertam o empreendedorismo” dos beneficiários.