O que dizem os especialistas sobre a reação do mercado às invasões em Brasília? E o que você deve fazer com seus investimentos?

É hora de manter a calma e focar em ativos de baixo risco

No curto prazo, as manifestações antidemocráticas realizadas no fim da tarde de domingo (8) devem atingir o humor do mercado financeiro nesta segunda-fera (9). Mas no médio e longo prazos, a situação pode mudar.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, falou com a Inteligência Financeira e foi taxativo. “O momento de tensão tende a ter reverberação no mercado desta segunda-feira, principalmente nas primeiras horas de mercado. Mas tudo vai depender das reações do governo para para evitar que aconteça novamente. E isso, sim, pode até ser positivo para os mercado”, afirma Vale.

O mais provável, diz Vale, é que as invasões sejam responsabilizadas, como já vem acontecendo com a prisão de 170 invasores.

“Tudo depende da capacidade do governo de reagir à altura. Vai ter que ir atrás dos financiadores de que não será tolerado em hipótese nenhuma”, diz Vale.

Investidor estrangeiro

Uma das preocupações é em relação à leitura do investidor estrangeiro ao que aconteceu em Brasília. Isso porque um terço da B3 é movimentada por ele, o estrangeiro.

“Não faz sentido o investidor estrangeiro sair do Brasil, porque não houve golpe. O que aconteceu hoje (domingo) pode até mesmo fortalecer as forças da democracia. As reações serão contundentes”, diz Vale.

Mas, se o governo fraquejar, aí sim, o mercado brasileiro deverá enfrentar grandes problemas. “Agora se a reação for parcial, sem clareza, isso vai enfraquecer as forças políticas do país. O que vimos hoje é é um turning point (ponto de virada) histórico”, disse Vale.

Fim do bolsonarismo

As imagens da destruição em Brasília, que já começam a ser divulgadas, deve dar força a algo que poucos falaram até agora: “Teremos um maior detalhamanto da destruição causada”, disse Vale. E isso já começa acontecer.

“Isso será um golpe para o bolsonarismo. No curto prazo, o que vimos é algo muito grave. Mas é um sinal de que vai ter reação. Já temos intervenção na segurança pública. As Forças Armadas estão fazendo ações adequadas, até porque elas foram atacadas ao mesmo tempo. Os congressistas que são bolsonaristas vão ter que aparecer com força contra o que aconteceu. É o começo do enfraquecimento maior do bolsonarismo e, quem sabe, até de sua morte”, disse Sergio Vale.

E o que seu bolso tem a ver com tudo isso?

A política interfere na vida econômica de um país, e vice-versa.

No caso da invasão visto hoje, é quase certo que o mercado financeiro deva amanhecer nesta segunda-feira tenso, aguardando as ações em resposta.

Neste sentido, o que você deve fazer?

Manter a calma, dizem os economistas. “O investidor pessoa física tem que ficar calmo, sem tomar decisão apressada, ainda que os mercados despenquem amanhã. No médio e longo prazos, a depender da reação do governo, o que aconteceu hoje pode ser positivo para os investidores. É tempo de aguardar”, afirmou Sergio Vale.

O que o investidor não deve fazer

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimento, falou diretamente da Tailândia com a Inteligência Financeira e também pediu cautela. “É preciso esperar para ver o que vai acontecer”, disse Cruz.

E o que não fazer? “Não querer fazer day trade, nem apostar na desvalorização do câmbio. É preciso aguardar as declarações e ver as atitudes do governo federal”, afirmou Cruz.

Agora o que o mercado todo estará de olho logo cedo, nesta segunda-feira (9) é no movimento do investidor estrangeiro. “O fluxo de entrada de dinheiro internacional em janeiro deve ficar negativo em vários dias. No curto prazo, o estrangeiro deve sair do Brasil”, disse Cruz.

O poder da diversificação dos investimentos

E agora, mais do que nunca, diz Gustavo Cruz, o investidor brasileiro vai poder medir a força da diversificação de seus ativos. “O Brasil é exemplo de produtos estruturados, por exemplo. Então, uma carteira bem pensada pode até ganhar dinheiro com a volatilidade, que deve ficar intensa daqui para frente.

Dia histórico

Para o economista Luís Eduardo Assis, o mercado não é dado aos meandros da política. “Mas hoje é um dia histórico e tudo sugere que a reação vai ser de aversão ao risco amanhã”, disse Assis para a IF.

Traduzindo: é quase certo que amanhã veremos queda da bolsa e alta dos juros futuros.

Governabilidade de Lula

A tentativa de golpe à democracia coloca um novo elemento no jogo político, diz Assis.

“Paradoxalmente, no entanto, o resultado pode ser o inverso do pretendido”, afirma o economista.

Isso porque Assis aponta que há um consenso na condenação dos atos terroristas, e isso pode favorecer as instituições democráticas e também às condições de governabilidade de Lula.

“Está claro que passaremos um bom tempo falando sobre o que aconteceu hoje em Brasília”, diz Assis.

Instabilidade política

Fato é que há uma instabilidade política, dizem os especialistas.

“No mínimo, essa é uma demonstração de uma grave instabilidade política”, afirmou Fabio Gallo, professor da FGV e da PUC-SP, especialista em finanças pessoais e colunista da Inteligência Financeira.

Para Gallo, “os mercados vão acordar mal amanhã”. “Essa ação em Brasília não tem sentido algum. Isso a gente vê em série, é como a Invasão do Capitólio 2 anos atrás”, disse Gallo.

A reação do mercado, explica o especialista, é sempre reativa à situações de instabilidade.

O que o investidor deve fazer nesta semana?

Segundo Gallo, manter a calma, ficar de olho nas notícias e fazer poucas movimentações financeiras. “Ainda é cedo tomar alguma atitude, mas, quem está começando a investir deve ir para ativos de baixo risco, como títulos do governo, e ficar quieto lá.”

E quanto ao investidor estrangeiro, que movimenta um terço da bolsa no Brasil? “Pelo manual, o investidor estrangeiro vai fugir, porque o risco político ficou muito grande. O Brasil se mostrou ser um país com forte instabilidade política”, diz Fabio Gallo.

As consequências das invasões nos seus investimentos

O economista André Perfeito, que também conversou com a IF no fim deste domingo, narrou o desenrolar das invasões em Brasília: “Isso tudo gera incerteza, o que leva ao aumento dos juros, puxando o dólar cima. A bolsa deve cair”.

Perfeito fala em crise institucional séria. “Isso não é brincadeira. É insubordinação ao presidente. Lula precisa, mais do que rapidamente reafirmar sua autoridade, se não fica o sentimento de que vai voltar a acontencer algo”, afirma Perfeito.

Segundo o economista, o Tesouro Direto de curto prazo deve ser afetado pela subida dos juros. O que fazer, então? “Investidor pessoa física deve ficar onde está, porque ainda deve acontecer muita coisa”, diz Andre Perfeito.

“Neste cenário é razoável supor que a percepção de risco se eleva e assim juros devem subir com efeitos na bolsa e outros ativos. Provavelmente a situação será superada, mas serão dias tensos nos mercados e na nação até que o Planalto restabeleça a ordem e que os militares se posicionem de vez”, afirma Andre Perfeito.