Agora que Lula ganhou a eleição, dólar pode chegar abaixo de R$ 5?

Tendência de curto prazo da moeda é volátil, mas no médio e longo prazo dólar pode chegar a R$ 5

O dólar fechou o pregão de última sexta-feira (28) em R$ 5,34. Às vésperas das eleições, a volatilidade da última semana no Ibovespa enfraqueceu o Real frente à moeda americana. Mas o que esperar após o pleito? Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, qual a tendência do câmbio?

A expectativa do dólar em 2022 é de queda, com forte valorização do real. O mercado pode demorar alguns dias para estabilizar sua expectativa em relação ao próximo governo, mesmo que, em um primeiro momento, isso signifique baixas em relação a um dólar reforçado pela Guerra na Ucrânia e pela crise na Europa. Esta avaliação de analistas e investidores ouvidos pela Inteligência Financeira é acompanhada por um consenso: o dólar deve chegar próximo a um patamar de R$ 5,20 no final do ano. No longo prazo, a queda pode surpreender.

Na visão do mercado financeiro, o Ibovespa no dia seguinte ao resultado das eleições pode ser de muita festa ou muita cautela. Depende, claro, do resultado das eleições de domingo, mas a vitória de Lula ou Bolsonaro já tem seus riscos precificados pela Faria Lima.

Pelo lado de Bolsonaro, a equipe econômica está quase toda definida, com Guedes na direção do Ministério da Economia pelos próximos quatro anos.

Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, aponta que, com Lula eleito, o mercado deve ter um comportamento diferente ao que seria com Bolsonaro vencendo a disputa.

Na manhã desta segunda-feira (31), o dólar disparou mais de 2% pela postura defensiva dos investidores diante do resultado da eleição. Mas, no fechamento do Ibovespa, a moeda recuou 2,54%, a R$ 5,166, enquanto o dólar futuro para novembro caiu em 1,21%, a R$ 5,257.

Como Lula eleito presidente, o que acontece com o dólar?

“Ainda não sabemos qual o ministro da economia de Lula. O mercado tem predileção por alguns nomes que cercam o ex-presidente, como Armínio Fraga ou Henrique Meirelles. Na ocasião de um deles venha a ser nomeado pelo Executivo, o estresse do dólar abaixa e poderíamos romper o ponto de resistência do câmbio em R$ 5,20”, diz Velloni. Se isso ocorrer, o dólar pode chegar a R$ 5,08 no day after das eleições.

No caso das ações que podem subir e afetar a alta do dólar, Velloni explica que a Petrobras (PETR3 e PETR4) são cruciais. A vitória de Lula pode derrubar as ações da estatal na B3, mesmo com a cotação do barril de petróleo em dólar subindo. Isso porque a estatal conta com uma parcela considerável de acionistas estrangeiros, que podem vender suas ações.

Mas o cenário se inverte com a declaração de um ministro da Economia mais liberal. Porque, se o ministro de Lula tomar posturas de intervenção estatal na economia, pode haver um fluxo menor de entrada em nosso mercado, ainda bastante dependente de dinheiro estrangeiro, especialmente em dólar. “Na Petrobras, o dólar deu uma arrefecida no teto do preço do petróleo e, caso a estatal caia forte, a previsão é que o dólar se fortaleça ante o Real brasileiro”, pontua Velloni

Alison Correia, ex-sócio da XP Investimentos e cofundador da Top Gain Investimentos, diz que o mercado, entretanto, já precificou a vitória de Lula. A presença de economistas do plano Real na campanha ajudou no prognóstico da equipe econômica, assim como “Carta ao Brasil do Amanhã”, divulgada pelo petista na semana passada. “A Bolsa disparou em 3 mil pontos depois da carta, sinal de que mercado a enxergou de forma positiva. O acompanhamento da campanha de Lula por criadores do Plano Real dá a entender que a vertente econômica será muito parecida com a de seu primeiro mandato, em 2002”, diz Correia.

Dólar pode chegar a R$ 5 em 2022?

Afinal, é possível que o dólar chegue a R$ 5 até o final deste ano? A menos que um milagre ocorra, é um cenário improvável, pontuam os economistas. Nenhum ouvido pela IF chegou a prever um dólar tão barato até o final do ano. Mas todos apontam que há uma tendência de desvalorização da moeda americana proporcional a um fortalecimento do Real, que deve adentrar 2023.

Alison Correia, [ex-sócio da XP Investimentos e cofundador da Top Gain Investimentos], diz que, independentemente de quem ganhar a eleição, o Brasil vai continuar se destacando entre os mercados emergentes pela alta taxa de juros real.

A favor do Real vs dólar

A Selic alta a 13,75% ao ano está prevista para baixar apenas a partir do segundo semestre de 2023. Já a tendência de inflação é uma queda estável pelo mesmo período, o que permite ao juro real se manter no patamar de 7 a 6%. Portanto, a taxa de juros é um dos maiores fatores à favor da valorização do Real.

Os juros reais altos atraem o investidor para para operações de “cash & carry trade”— arbitragem para ganhar dinheiro com troca de taxas no câmbio no mercado à vista e futuro. É, portanto, uma manobra de baixo risco no mercado financeiro, especialmente em um mais barato, como o brasileiro.

Entretanto, Alison alerta que um dos maiores fatores contrários à maré favorável ao Real brasileiro é o aumento respectivo da inflação e da taxa de juros nos Estados Unidos e na Europa.

“O aumento dos juros por bancos centrais de todo o mundo tornam as operações de cash & carry em câmbio mais atraentes em economias que oferecem menos risco ainda. Em outras palavras, isso impede que o dinheiro venha para o mercado brasileiro. Por mais que tenhamos setores mais robustos”, diz o economista da Top Gain.

Dólar a R$ 5,25 até o fim de 2022

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, tem uma visão mais conservadora do dólar até o final de 2022. Para ele, o câmbio deve ficar próximo de R$ 5,25. Em contramão, uma crise institucional após as eleições deve abalar a confiança do investidor no Brasil, jogando a moeda americana para cima.

Mas o economista afasta os temores de Bolsonaro não aceitar o resultado das eleições. “O cenário preponderante para é que não haverá uma ruptura institucional após o pleito. E essa é a premissa básica para chegarmos com o dólar de R$ 5,25 até o final deste ano”, afirma Sanchez.

Dólar a R$ 5,20

Alison estima que os períodos de maior estresse da economia mundial já tenham sido superados, e que o dólar deve ficar próximo do patamar de R$ 5,20 até o final de 2022.

Uma recomendação ao investidor em dólar é ficar de olho nos movimentos do Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos. Uma alta fora do esperado pode jogar o dólar para cima, a cerca de R$ 6. Todavia, Alison comenta que as elevações das taxas de juros americanas vêm se mantendo dentro da expectativa do mercado — a última foi de 0,75 p.p.

Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, também espera um cenário de força do Real frente ao dólar. De acordo com Izac, o mercado espera um avanço dos juros nos EUA até uma taxa a cerca de 5%, que hoje varia de 3,25% a 3,50%. “É provável que a gente consiga enxergar aí é um valor da moeda um pouco mais baixo, próximo aos R$ 5,20. Talvez, em um cenário muito otimista, ele chegue mais próximo aos R$ 5.”

Dólar a R$ 5,10

De acordo com André Rolha, da Venice, o dólar pode chegar a R$ 5,10 até o final deste ano. O patamar é justificado pela condução econômica da China. Xi Jinping reeleito para seu terceiro mandato consecutivo, o país asiático divulgou um PIB de 3,9% no 3º trimestre de 2022. É um número visto com uma certa desconfiança pelo mercado, diz Rolha, porque o anúncio oficial foi postergado pelo governo chinês. “Pode ser que a China esteja crescendo menos que o PIB oficial, e isso é ruim para o Brasil porque o país asiático é nosso principal parceiro comercial”, explica o analista.

Dólar abaixo de R$ 5 até o final de 2023?

Sem surpresas, solavancos ou reviravoltas na economia brasileira e mundial no ano que vem, os economistas e analistas de câmbio dizem que a probabilidade do dólar ficar abaixo de R$ 5 não é baixa.

  • Alison Correia, da Top Gain: dólar pode chegar a um patamar entre R$ 4,85 a R$ 4,70. Assim, a baixa na moeda se justifica pela alta taxa de juros ainda no final do segundo semestre e uma queda na inflação, fortalecendo investimento estrangeiro no Brasil. A pedra no caminho, diz o analista, podem ser os preços das commodities, que devem cair, e a Guerra da Ucrânia, pois o conflito não tem perspectiva de um cessar-fogo.
  • André Rolha, da Venice: câmbio, até o final de 2023, talvez varie entre R$ 4,70 e R$ 4,80. Mas o investidor deve ficar de olho na volatilidade do cenário internacional. Para o Brasil, o analista ainda vê um Ibovespa barato em relação aos pares internacionais, atraindo o investidor de fora.
  • Fabrizio Velloni, da Frente Corretora: conforme o especialista, a moeda americana pode oscilar para baixo e chegar aos R$ 4,89. Para isso, um nome liberal no Ministério da Economia de Lula ou Paulo Guedes teriam que praticar políticas liberais. Uma das principais iniciativas que podem ajudar na desvalorização do dólar é a reaproximação comercial com os EUA. O Brasil pode tentar reocupar um papel antes feito pela China, ao suprimir matéria prima e produtos industriais como semicondutores.

Investir em dólar depois das eleições?

Ao mesmo tempo em que a projeção do dólar é de queda pela maioria dos economistas ouvidos pela IF, eles lembram que investir em dólar é uma parte importante da palavra de ouro do investidor: diversificação.

“Atualmente, o mercado financeiro gira em torno de dólar. A moeda sempre sempre será proteção para outros investimentos de maior risco”, diz Velloni. “Hoje você pode procurar títulos da renda fixa em dólar, ou entrar em fundos em papéis dessas empresas mais alavancadas nos EUA”, acrescenta.

Mas não é aconselhável que o investidor aposte no câmbio pelo resultados das eleições, avisa Correia. Quem não investiu em dólar não deve se posicionar a partir do dia 31 de outubro, mas sim usar a recorrência dos investimentos a seu favor. O momento é de cautela, mas o dólar pode surpreender no longo prazo.