Para impulso efetivo do ESG, falta ainda ‘bolso cativo’ no Brasil, avaliam gestores

Investimento com foco em responsabilidade social, ambiental e de governança ainda se move lentamente no país

O investimento com foco em responsabilidade social, ambiental e de governança (ESG, na sigla em inglês) ganhou a primeira página de jornais e novos fóruns de discussão, mas ainda se move lentamente no Brasil, comparando-se a outras geografias.

Segundo Carlos Takahashi, presidente do conselho da BlackRock no Brasil, os investidores de longo prazo não participam efetivamente desse jogo. “Os institucionais e fundos de pensão ainda não fizeram um movimento forte nessa direção porque, sob a perspectiva regulatória, além das boas práticas, não há nenhuma indução para o investimento ESG”, disse, ao participar de evento da Fitch Ratings.

Eduardo Arraes, chefe da mesa de crédito do BTG Pactual, observou que ainda é incipiente que critérios ESG sejam considerados na alocação, mais restritos a grupos que cuidam de fortunas familiares. “Alguns estão mais à frente e começam a discutir para colocar isso na política de investimentos, mas é ainda uma minoria”, comentou. “Ninguém quer pagar prêmio para investimento ESG no Brasil.”

Ele citou que lá fora é comum ofertas de dívida saírem com taxas de cinco a dez pontos básicos menores do que os ativos sem essa marca porque há um investidor cativo para isso. Não quer dizer que o mercado não esteja crescendo. No ano passado foram cerca de US$ 11 bilhões em operações com selo ESG, mas com parte da distribuição para estrangeiros.

Arraes diz que uma das preocupações é que muitas emissões condicionadas a metas específicas de sustentabilidade prometem melhorias pouco relevantes. Para driblar esse tipo de armadilha, o banco faz um filtro para papéis só com selo ESG e depois o time de análise faz uma segunda avaliação para compor os fundos dedicados. “Dependendo do caso, a gente não participa das operações, mas elas acabam saindo porque não há um bolso específico.”

Carlos André, CEO da Santander Asset Management, comentou que em outros mercados foi mais a iniciativa dos investidores institucionais do que a a criação de produtos específicos que tem promovido a mudança. “Foi pela introdução de práticas ESG, inclusive com ferramentas de verificação para medir se os provedores dos serviços de gestão, de fato, incorporam nas suas métricas elementos de avaliação ESG.”

No campo da autorregulação, a Anbima definiu regras para identificar os fundos sustentáveis, que começaram a valer em janeiro. Para ganhar o sufixo IS, as gestoras terão que definir esse objetivo no regulamento, além de expor processos e metodologia que atestem o compromisso ESG e o monitoramento da carteira. “É uma espécie de roteiro para a identificação de fundos de investimentos sustentáveis e a Anbima vai poder atuar na supervisão”, disse André, também vice-presidente da entidade.

Do lado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a coleta de informações no formulário de referência das empresas a partir de 2023 – com os dados de 2022 – pode contribuir para trazer mais transparência para as práticas adotadas pelas companhias, com alguma padronização.

Takahashi, também vice-presidente da Anbima, vê avanços na regulação, mas ainda faltam passos concretos para exercer a supervisão e a penalização por práticas ruins. “Ao trazer isso para a agenda, 2022 pode ser, de fato, um divisor de águas, com normas revistas e o processo de supervisão efetivamente.”