Opinião: Uma língua comum para o ESG

Quando se fala em ESG e investimentos, ainda há uma enorme disparidade de conceitos e dados relevantes. Qual o aspecto prático deste problema?

Um dos aspectos interessantes que o estudo da história nos revela é o fato de haver similaridades entre o passado e presente, que permitem ajustar o futuro através dos erros e acertos das experiências vividas. Podemos trazer essa visão para o que temos experimentado ao longo da jornada ESG em investimentos.

No desenvolvimento da espécie humana, um dos elementos fundamentais para a evolução foi o surgimento da comunicação em suas diversas formas. Através dela conseguimos estabelecer relações, registrar memórias e aprimorar entendimentos. Um dos grandes exemplos históricos é o Código Morse, que foi desenvolvido na década de 1830 e aprimorado ao longo dos anos de forma a estabelecer um padrão que possibilitou uma comunicação clara e eficiente frente as mais diferentes necessidades. Tamanha sua beleza que foi utilizado até 1999 como o padrão internacional para comunicações marítimas.

No mundo de ESG e investimentos, ao mesmo tempo que toda a análise tem gerado valor ao ser integrada ao processo de investimento tradicional, permitindo uma visão mais ampla dos riscos e oportunidades, alguns dos desafios persistem para o aprimoramento desse processo. Um deles reside no fato de ainda temos uma disparidade enorme de conceitos, valores e disponibilidade de dados relevantes para a constituição destas análises.

Qual o aspecto prático deste problema?

Imagine se cada estação tivesse o seu próprio Código Morse. Todos teriam condições de se comunicar, saberiam da relevância da ferramenta e achariam que estariam se comunicando, mas no final, seria um desafio hercúleo ter qualquer entendimento razoável sobre as mensagens obtidas. Dessa forma, o grande triunfo passa a ser o estabelecimento de um padrão com o qual agentes do ecossistema estejam de acordo, passando a utilizá-lo em suas comunicações.

A Agenda 2030, criada pela ONU em 2015, prevê que os governos, o setor privado, a sociedade civil e, claro, os investidores compartilhem responsabilidades. Para ser possível acompanhar a evolução dessa jornada, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).”

Pensando na prosperidade do planeta, a Organização das Nações Unidas lançou a Agenda 2030 em 2015. Sem dúvida se trata de uma agenda ampla e ambiciosa, a qual mira a sustentabilidade da Terra. Esta agenda prevê que os governos, o setor privado, a sociedade civil e, claro, os investidores compartilhem responsabilidades. Para ser possível acompanhar a evolução dessa jornada, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Tais ODS foram construídos com base no sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, mas incluem novas áreas, como mudanças climáticas, desigualdade econômica, saneamento, inovação, entre outras prioridades a serem atingidas até 2030. Os ODS seguem ganhando força entre empresas e investidores, cada vez mais engajados em avaliar e reportar suas atividades em relação aos 17 Objetivos. Mas por quê?

Pois nele encontraram uma linguagem única, bingo! Quanto mais utilizado for, mais claros e objetivos poderemos ser na comunicação, facilitando o entendimento do que é de fato material nesse tema. Um número cada vez maior de investidores e empresas estão anunciando suas intenções e atitudes voltadas à incorporação dos Objetivos ao seu processo de tomada de decisão de investimento e a seu planejamento estratégico.

Entre os ODS priorizados pelas empresas, encontramos o ODS 13 (Contra a mudança climática), ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), e ODS3 (Saúde e Bem-estar). Mas isso não significa que os diferentes setores não conseguem ter uma atuação ampla nessa agenda, pois considerando que os objetivos são ambiciosos, notamos que grande parte dos setores se dedicam a maioria dos ODS ainda que com diferentes intensidades.

Dessa amplitude nasce um dos pontos de atenção, pois por serem abrangentes, temos que tomar cuidado para caracterizar o que é ou não relevante, material e pragmático para cada setor, e assim respectivamente para cada empresa. Aqui o risco é cairmos na vala comum onde todos fazem tudo, o que de certa forma acabaria por colocar em xeque a agenda. Não estamos nesse ponto, pois estamos ainda na fase de engajamento e disseminação da importância do tema, mas nunca é demais mapear os riscos da estratégia adotada.

Fica então a mensagem: os ODS são importantes. Eles são capazes de convergir o diálogo no mundo ESG criando um padrão importante para geração de benefícios para os negócios, o meio ambiente e a sociedade.