Crise da Americanas: qual prejuízo até agora para fundos de investimento e imobiliários?

Economista avalia impactos nos fundos que tinham exposição aos papéis de dívida e às ações da varejista

Com a divulgação de uma inconsistência contábil da ordem de R$ 20 bilhões na Americanas, os estragos começam a aparecer nos fundos que tinham exposição aos papéis de dívida e às ações da companhia.

Segundo levantamento do economista Marcelo D’Agosto, coordenador do Guia Valor de Fundos, com base em dados da Morningstar, as perdas do dia seguinte à revelação do caso, na quinta-feira, 12, chegaram a 6,83%, no fundo de ações Moat Advisory, distribuído na plataforma da XP.

A Moat Capital Gestão informou na quinta-feira que as posições de seus fundos em ações ordinárias de Americanas na véspera chegavam ao máximo a 8% do patrimônio líquido do Moat Capital FIA Master, e que todas as posições dos fundos nesse ativo estavam de acordo com as métricas de risco dos respectivos produtos, apesar do cenário de estresse. “Como todo o mercado, fomos surpreendidos pelo Fato Relevante da companhia. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir e resguardar nossos direitos como acionista minoritário e em defesa dos nossos investidores.”

As carteiras da ARX Macro e ARX Extra, recuaram 2,41% e 2,46%, respectivamente. Na quinta-feira, a ARX tinha feito comunicado aos cotistas informando que os fundos com maior exposição a Americanas eram o master do ARX Everest e a versão de previdência do Denali, com 1,2% e 1%, respectivamente. O Everest recuou 0,53% no dia 12, segundo o desempenho divulgado em seu site, enquanto o Denali Icatu Previdência perdeu 0,24%.

A amostra capturada por D’Agosto ainda traz que o Butiá Debêntures Incentivadas marcou um prejuízo de 1,59% na sua cota e o Riza Daikon Advisory teve desvalorização de 1,08%.

Outras carteiras de previdência também tiveram cota negativa no dia 12, caso da Capitânia Inf30 Advisory, com recuo de 0,67%, ou o AZ Quest Luce, cedendo 0,19%.

D’Agosto chama a atenção, contudo, para fundos com grande número de cotistas que estão com cota atrasada, a exemplo das carteiras Nu Reserva Imediata, Nu Seleção Cautela e Nu Seleção Potencial. Nessa lista também aparecem o BB High, BB Juros e Moedas, o Itaú Privilège e o Itaú Global Dinâmico.

Para o especialista, a queda do Ibovespa e do índice de small caps parece indicar que as ações foram mais contaminadas com o problema com Americanas do que os próprios fundos, que tinham exposição menor nos papéis do que o peso do ativo no Ibovespa.

Nas carteiras com crédito privado, a percepção é que as posições estavam bastante diluídas. O senão é que há portfólios que se vendem como DI, mas têm papéis de dívida na carteira, caso do Nubank.

“O fundo de reserva de emergência dava 108% do CDI, mas porque tinha um monte de crédito privado na carteira e não avisava”, afirma D’Agosto. Por ora, o economista não vê contaminação em outros títulos de dívida.

FIIs com exposição ao caso Americanas

O segmento de fundos imobiliários tem passado relativamente incólume ao impacto do escândalo contábil das Lojas Americanas. Segundo levantamento do Clube FII a pedido do Valor, nenhum dos portfólios listados na B3 que investem em certificados de recebíveis imobiliários (CRI) tem exposição direta à rede varejista.

Existem, porém, alguns FIIs entre os chamados “fundos de tijolo”, ou seja, com carteiras de imóveis físicos, que têm propriedades locadas para a B2W, a holding que controla as Americanas.

O fundo Max Retail (MAXR11) tem uma exposição de 34% das receitas de aluguel do portfólio com lojas físicas do grupo. As cotas do MXR11 são aquelas com maior queda desde a divulgação do rombo de R$ 20 bilhões. No ano até 16 de janeiro, a cotação amarga queda de 4,12%, dos quais 3,28% apenas hoje.

Já o FII de logística GGR Covepi (GGRC11) tem uma exposição de 19,91% da renda, com galpões locados para a B2W. O GGRC11 acumula queda de 13,11% em janeiro até dia 16.

O GGRC11 emitiu comunicado no qual aponta para características dos contratos que protegem a carteira dos problemas das Americanas. Segundo o comunicado, o contrato de aluguel do centro de distribuição é atípico, ou seja, prevê pagamento de multa e de valores de locação pelo prazo restante em caso de rescisão antecipada. “Em caso de denúncia antecipada, a locatária deverá pagar uma multa equivalente ao valor aproximado de R$ 106 milhões (nessa hipótese de rescisão antecipada, o fundo terá o direito ao recebimento de 79,64% do valor pago a título de multa por rescisão, de acordo com as tranches pagas do preço de aquisição até o momento)”, aponta a gestora.

Outros fundos com exposição à Americanas são o XP Logística (XPLG11), com 8%; o Bresco Desenvolvimento Imobiliário (BRCO11), com 6%; e o Vinci Imóveis Urbanos (VIUR11), com 1%.