Sergio Rial é substituído como assessor financeiro da Americanas, que contrata Rothschild para negociar

As ações da Americanas desabavam cerca de 40% nesta segunda-feira, renovando mínimas históricas
Pontos-chave:
  • O executivo renunciou ao cargo de presidente da varejista na última semana, após revelar um rombo de R$ 20 bilhões no balanço da empresa

O ex-diretor-presidente da Americanas (AMER3) Sergio Rial foi substituído por Luiz Muniz, sócio e chefe da América Latina do banco de investimentos Rothschild & Co, como assessor financeiro dos controladores da empresa, diz o colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”.

Na tarde desta segunda-feira, a companhia anunciou a contratação do banco americano para atuar como interlocutor na renegociação da dívida da empresa, a nível Brasil e internacional. “A Americanas reforça seu compromisso na busca de uma solução de curto prazo com os seus credores”, disse a companhia, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Por volta de 16:50, os papéis tombavam 38,1%, a 1,95 real, pior desempenho do Ibovespa, que recuava 1,62%. No pior momento, nesta tarde, chegaram a 1,80 real. No setor, Magazine Luiza avançava 9,33% e Via tinha elevação de 9,28%.

No último pregão antes do anúncio sobre as inconsistências contábeis, com renúncia dos recém-empossados presidente-executivo e vice-presidente financeiro, os papéis da Americanas valiam 12 reais.

Recuperação judicial

A Americanas obteve na sexta-feira decisão da Justiça protegendo-a por 30 dias contra vencimento antecipado de dívidas, prazo que a varejista poderá usar para obter uma acordo com credores ou pedir uma recuperação judicial.

Eventuais alterações no balanço da varejista decorrentes do anúncio das inconsistências de 20 bilhões de reais, segundo a decisão, “poderão repercutir no grau de endividamento da empresa e no capital de giro mínimo (…) acarretando o descumprimento de cláusulas de covenants financeiros culminando no vencimento antecipado de dívidas da ordem de 40 bilhões de reais”.

Para a Genial Investimentos, todos os pontos de valor da Americanas estão indo “ralo abaixo”. Eles destacaram piora na alavancagem financeira, encarecimento do custo de capital, compressão de margens e dúvida sobre crescimento de receita, conforme nota a clientes.

“Essa será mais uma semana turbulenta para os acionistas de Americanas e reiteramos nossa recomendação de ‘não pegar a faca caindo'”, afirmaram.

Eles avaliam que, para ganhar liquidez, além de uma capitalização de acionistas de referência, a varejista poderá colocar à venda dois de seus ativos valiosos para a tese de investimento nas ações – sua parceria com a Vibra, Vem Conveniência, e o Hortifruti Natural da Terra.

Dois caminhos

Para a XP, a Americanas trabalhará em dois caminhos. O primeiro, a negociação de uma injeção de capital com os bancos, que eles estimam entre 10,6 bilhões a 20,6 bilhões de reais.

Outra rota considerada pela XP é a organização dos documentos necessários para pedido de recuperação judicial, “o que pode ser considerada a alternativa mais provável, dado o tamanho da dívida da Americanas e da potencial necessidade de capital, além do número de credores envolvidos”.

No meio da tarde, a Americanas comunicou que seu conselho de administração contratou a Rothschild & Co para atuar como interlocutora da companhia na renegociação da dívida, no Brasil e no exterior. A consultoria financeira já atuou em outros processos de recuperação judicial.

Corte de nota de crédito

Também nesta segunda-feira a agência de classificação de risco Moody’s cortou a nota de crédito da Americanas de ‘Ba2’ para ‘Caa3’ e colocou o rating em revisão para rebaixamento adicional, acompanhando o movimento de suas pares Fitch e Standard&Poor’s na última sexta-feira.

De acordo com a escala da Moody’s, obrigações classificadas como ‘Caa’ são consideradas especulativas com baixo posição e estão sujeitas a risco de crédito muito elevado.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por sua vez, abriu um terceiro processo administrativo para investigar o rombo contábil, incluindo a firma de auditoria independente PricewaterhouseCoopers (PwC), após pedido da Abradin, associação que reúne minoritários de empresas de capital aberto.

Na última sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Cidadania (Ibraci) também entrou com uma ação civil pública contra a Americanas, citando “quebra da boa-fé objetiva, dada a atitude da ré em maquiar suas informações e balanços, induzindo os investidores”.

Bancos

No fim de semana, o BTG Pactual recorreu da liminar que protege a Americanas dos credores, segundo documentos vistos pela Reuters. Os advogados do BTG argumentam que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG.

A unit do BTG caía 4,77%, a 21,15 reais, na ponta negativa do Ibovespa. Analistas chamavam a atenção para a exposição do banco e de outras instituições financeiras à Americanas.

Com base em casos anteriores, analistas do JPMorgan estimam que os bancos devem começar a provisionar cerca de 30% da exposição à Americanas, o que pode eventualmente subir a depender do desfecho de eventual pedido de recuperação judicial.

“Embora tivéssemos provisões crescentes no próximo ano para a maioria dos bancos, nossos números ainda não refletem um caso corporativo tão significativo”, afirmaram Domingos Falavina e equipe em relatório a clientes com data de domingo, que não veem grande impacto no nível de capital dos bancos.

“Não foi um bom começo para 2023, mas os bancos podem tentar antecipar as provisões já no quarto trimestre (de 2022) e começar 2023 com uma ficha limpa.”

Com informações adicionais de reportagem Reuters, por Paula Arend Laier.