Você está sentindo a sua vida melhorar? Entenda o que a alta do PIB significa

Economia brasileira despiorou no segundo trimestre, mas perspectivas desanimam

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), agência oficial de dados econômicos do país, informou nesta quinta-feira que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano em relação ao primeiro e 3,2% na comparação com o mesmo intervalo de 2021 – acima das expectativas dos especialistas, que variavam entre 2,4% e 2,9%. A economia do Brasil está se expandindo, mas o que isso significa, na prática, na vida de cada um?

Para entender, é preciso analisar quais foram os fatores que mais contribuíram para esse avanço: a formação bruta de capital fixo (o investimento que as empresas fazem para ampliar sua estrutura, seja adquirindo equipamentos ou construindo novas plantas), que subiu 4,8% no período, e o consumo das famílias, que cresceu 2,6%.

Quem trabalha na indústria deve ter sentido a melhora dos investimentos. O segmento foi o que registrou maior crescimento de estrutura no período de abril a junho, de 2,2%, com destaque para as atividades de eletricidade, gás, água e tratamento de esgoto. “Estamos vendo um crescimento dos projetos de saneamento em todo o país, puxado pelo setor privado, depois que os governos melhoraram o marco regulatório”, diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter. “Essa é, aliás, a função do setor público: dar condições para o privado atuar.”

Já o aumento do consumo se deve, primeiro, à normalização das atividades conforme a pandemia de Covid-19 vai caminhando para o fim, o que tem aumentado a oferta de empregos. No segundo trimestre deste ano, segundo o IBGE, a taxa de desocupação caiu para 9,3% ante 14,2% no mesmo intervalo de 2021. Além disso, as camadas mais pobres continuaram tendo os seus rendimentos reforçados pelo Auxílio Brasil, à época ainda em R$ 400. Em junho, voltou o vale-gás, de R$ 55.

Esse dinheiro a mais flui para a moça que tem uma banca de café com bolo na porta do metrô, para a loja que vende TV de tela plana, para o salão de beleza, para o supermercado, para o motorista de aplicativo. Esse setor, de comércio e serviços, avançou 1,3% no segundo trimestre na comparação anual. O grande destaque ficou com as atividades de lazer, tidas como supérfluas, que estão sendo as últimas a se recuperar do tombo da pandemia.

Passado, presente e futuro

As boas notícias são perceptíveis em diversas áreas, mas o efeito matemático pode dar a impressão de que a situação presente é melhor do que de fato é.

Talvez o mais correto não seja dizer, agora, que o cenário melhorou, mas que “despiorou”. No auge da Covid-19, o país caiu no fundo do poço. Esse recente crescimento da atividade significa que está saindo, porém não alcançou a superfície. Ou seja, em muitos aspectos, continua mais fraco do que antes da crise gerada pela pandemia – a queda foi maior do que a recente alta. Na verdade, o setor de construção e saneamento ainda está se recuperando da crise de 2014-2016, quando foi duramente afetado pela recessão e pela Operação Lava-Jato, que destruiu o modelo de negócio de muitas empreiteiras, super dependentes de contratos com o setor público.

Pode ser, também, que a economia não tenha fôlego para sair totalmente do poço e ficar de pé. “Já estamos começando a ver alguns sinais amarelos”, afirma Danilo Passos, economista da gestora de investimentos WHG. “A inflação muito alta faz com que as pessoas gastem menos. E, daqui em diante, o aumento dos juros vai pesar mais, elevando o custo do crédito, que vai fazer o consumo desacelerar e subir a inadimplência.”

O Banco Central do Brasil começou a aumentar os juros para tentar combater a inflação em março de 2021, e agora a taxa básica Selic está em 13,75% ao ano. O aumento demora até três trimestres para começar a surtir efeito, esfriando a atividade ao desencorajar a tomada de financiamentos. Em julho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou uma deflação de 0,68%, mas acumula alta de 10,07% em 12 meses. No mundo, a situação é parecida, com inflação elevada e medo de recessão. No segundo trimestre, o PIB dos EUA teve retração de 0,9% na comparação com o mesmo período de 2021, e o da China cresceu 0,4%.

Se as perspectivas estão meio desanimadoras, o que justifica o aumento dos investimentos das empresas? Especialmente nos segmentos onde esse crescimento está se verificando com mais força, a construção e o saneamento, os empresários consideram as perspectivas de longo prazo para decidir se vale a pena expandir sua estrutura ou não. “Simplificando, o investimento será determinado pelo spread [diferença] entre o retorno esperado e o custo de capital ponderado. Se o primeiro subir mais que o segundo…”, diz Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e estrategista-chefe da WHG. Por esses motivos, a intenção de investimento também não é muito afetada por turbulências de curto prazo como as eleições, que podem deixar os consumidores mais ariscos neste momento.