PIB do 2° tri agrada e mercado já revisa projeções para 2022

Clima é de otimismo, mas ainda há fatores que podem pressionar a atividade econômica nos próximos meses

O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo semestre surpreendeu e animou agentes do mercado financeiro. Enquanto 75 consultorias e bancos ouvidos pelo Valor Econômico esperavam avanço de 0,9% na comparação com o primeiro trimestre, a alta foi de 1,2%. A reação de economistas e gestores mostra que o número foi bem aceito pelo mercado. 

“Nesse curto prazo que o indicador mostra estamos muito bem. Foi um PIB muito bem construído”, elogia Felipe Lima, gestor na FL Asset. 

Revisão de projeções

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, “o resultado é bom e deve elevar as projeções para 2022, uma vez que muitos dos incentivos dados pelo governo se concentram no terceiro trimestre, como o Auxílio Brasil e a queda da gasolina”. 

Mesmo pouco tempo após a divulgação do indicador, economistas já falam em revisão da projeção do PIB de 2022, como adiantou Perfeito. Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, afirma que a projeção da casa passa de 2,3% no ano para 3%. “Ainda vou fazer conta, está claro que com o PIB de hoje, o debate sobre crescimento aqui no Brasil deve migrar da faixa de 2% a 2,5% para a faixa de 2,5% a 3%”, afirma. 

O Goldman Sachs anunciou que sua a projeção do PIB do Brasil para 2022 passou de 2,2% para  2,9%. 

A Suno Research também fala em revisão, mas o economista-chefe Gustavo Sung é mais cauteloso: “vou fazer uma revisão após os dados de hoje, mas o segundo semestre traz muitas incertezas”, diz. O que preocupa Sung e outros especialistas são os efeitos da alta de juros, que levam algum tempo para serem sentidos na economia, inflação e volatilidade dos mercados com as eleições em outubro. 

Ainda que a revisão já seja discutida em grande parte do mercado, a Necton decidiu manter sua projeção de 2% de crescimento do PIB para 2022. “Ainda não iremos revisar. Vamos olhar em detalhe outros componentes, como o setor externo, que recuou com a alta expressiva de importações, e queda nas exportações”. 

Vem mudança na política de juros?

Com o mercado de trabalho aquecido – conforme dados divulgados ontem – e a economia se recuperando, receios de uma pressão inflacionária que faria o Banco Central aumentar mais as taxas de juros poderiam voltar à pauta. Porém, este não é o caso, segundo os economistas. 

Eles avaliam que a economia brasileira não está superaquecida a ponto de causar pressão nos preços. Portanto, uma mudança na política do Banco Central para lidar com a inflação por causa do anúncio de hoje não está em pauta. 

Outro ponto importante é que grande parte da inflação no Brasil é importada. “A pressão inflacionária que vem de fora parece estar controlada no curto prazo e a política de juros não deve mudar”, avalia Felipe Lima.