Inflação alta deve perdurar com aumento dos impactos da guerra na Ucrânia, diz Banco Mundial

Entidade também reduziu a previsão de crescimento do Brasil neste ano

Os impactos econômicos mundiais da guerra na Ucrânia estão apenas começando, e a América Latina e o Caribe não conseguirão escapar deles, avalia o Banco Mundial.

“Precisamos ser honestos [e reconhecer] que a guerra na Ucrânia vai aumentar pressões inflacionárias e diminuir crescimento no mundo inteiro, incluindo a América Latina”, disse nesta quinta-feira (7) em entrevista coletiva o economista-chefe do Banco Mundial para a região, William Maloney.

Segundo Maloney, “a primeira coisa” que precisa ser levada em conta é que os impactos que já existem “não devem acabar tão cedo”. “Vamos lidar com inflação por mais tempo do que imaginávamos”, disse. “Esses canais devem continuar afetando [a economia] e sendo importantes.”

Para ele, a conjuntura coloca um “dilema” para os bancos centrais da América Latina e do Caribe: seguir a autoridade monetária dos Estados Unidos (Federal Reserve) e elevar os juros ou em algum momento diminuir as taxas básicas de forma a estimular a atividade econômica.

O relatório do Banco Mundial detalha que “a pressão sobre as taxas de câmbio e a inflação” decorrentes de altas de juros nos Estados Unidos “exigirão novos aumentos” pelos bancos centrais da América Latina e do Caribe, “tanto para mitigar os repasses de preços fomentados pela depreciação e que alimentam a inflação, quanto para defender o valor em moeda local dos pagamentos de dívidas internacionais”.

“A história sugere a existência de um ‘ciclo dentro de um ciclo’, no qual os bancos centrais primeiro aumentam as taxas de juros para atingir esses objetivos, mas depois – uma vez que a inflação esteja moderadamente sob controle – desaceleram até moderar os efeitos depressivos sobre a recuperação”, diz o documento. Maloney também afirmou que, apesar do dilema monetário, “é melhor lidar com isso (alta da inflação e das expectativas de inflação) antes do que lidar depois”.

Para o economista, “países que exportam commodities e energia estão em posição melhor” do que seus pares. Já países que “importam combustível [como os do Caribe] estão em posição pior e precisarão de programas” para mitigar a alta desses preços.

Brasil deve crescer menos

O Banco Mundial também revisou a sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano de 1,4% para 0,7%. A estimativa para o desempenho da economia brasileira em 2022 é a segunda pior em uma lista de 28 países, ficando à frente apenas do Haiti, para o qual o órgão calcula retração de 0,4%. Não há dados sobre a Venezuela.

Também houve revisão para baixo na projeção, sempre de crescimento, para o PIB do Brasil em 2023, de 2,7% para 1,3%. Já a estimativa para 2024, de 2%, foi apresentada pela primeira vez.

“O Brasil foi um dos países que teve mais dificuldades para se recuperar da pandemia, até porque foi bastante atingido por ela”, disse Maloney.

Ele também lembrou que o Brasil importa 1/3 de seus fertilizantes da Rússia, o que é um fator de preocupação, já que a guerra na Ucrânia tende a diminuir a remessa desses insumos, afetando negativamente a produção agropecuária brasileira e pressionando o preço desses produtos. Outro ponto destacado no relatório é que a “Embraer deixou de fornecer assistência técnica e peças de reposição para o setor de aviação russo”, como reflexo do conflito no Leste Europeu.

A projeção do Banco Mundial para o desempenho do PIB brasileiro em 2022 é menor do que as estimativas mais recentes do Ministério da Economia, de 1,5%, e do Banco Central (BC), de 1%. Mas ainda é maior do que a projeção mediana mais recente do mercado, divulgada na segunda-feira da semana passada no Boletim Focus, de 0,5%.

Em um prazo mais longo, Maloney afirmou que o Brasil é um dos países mais bem posicionados da região para aproveitar os benefícios de uma economia menos poluente, em setores como agricultura e energia eólica. Mas ele afirmou que, para “facilitar essa transação”, é necessário “planejamento do governo.