Adriano Pires oficialmente recusa convite do governo para presidir Petrobras

Economista alegou que não poderia conciliar cargo com suas atividades de consultoria para empresas do setor

O economista Adriano Pires enviou na noite desta segunda-feira (4) ao Ministério de Minas e Energia uma carta oficializando que desistiu de assumir a presidência da Petrobras. Pires havia sido indicado para o cargo pelo governo Jair Bolsonaro – maior acionista da companhia – em 28 de março, mas enfrentava fortes críticas por um alegado conflito de interesses.

O economista já atuou como consultor para praticamente todas as concorrentes da Petrobras, e sua consultoria continuaria funcionando, dirigida por seu filho, mesmo depois que ele assumisse a presidência da empresa.

Na carta, digirida ao ministro Bento Albuquerque, Pires agradece a indicação, porém afirma que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria. O Ministério de Minas e Energia confirmou ter recebido a carta e disse que Pires alegou “motivos pessoais” para recusar o convite.

Pires substituiria o general da reserva Joaquim Silva e Luna, atual presidente da estatal, que foi comunicado que deixará o cargo em 13 de abril, quando se realiza uma assembleia de acionistas. No domingo (3), Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, também declinou do convite de se tornar presidente do conselho de administração da Petrobras, cargo para o qual havia sido indicado no final de março.

Bolsonaro tem reclamado da atual gestão da petroleira por causa de sua política de preços, que acompanha a variação do petróleo no mercado internacional. As altas recentes da gasolina e do diesel pressionam a inflação e podem prejudicar a popularidade do presidente no momento em que ele se prepara para disputar a reeleição. Por isso, as incertezas sobre quem vai liderar a petroleira agora tem deixado os investidores nervosos. Nesta segunda (4), a ação preferencial da Petrobras caiu 0,94% na Bolsa de Valores brasileira, a B3, cotada a R$ 32,70.

Leia a carta de Pires na íntegra:

“Exmo. Sr. Bento Albuquerque
Ministro de Estado de Minas e Energia

Foi com muito orgulho, Senhor Ministro, que recebi seu convite para assumir a Presidência da Petrobras. Com mais de 30 anos de vida dedicados ao setor de Óleo e Gás, comecei a trabalhar as condições para cumprir a missão que me foi dada. Vi nessa missão a certeza de poder ajudar a Companhia e o País a enfrentar a atual conjuntura de turbulência e incerteza no cenário mundial.

Senti-me confiante porque constatei o alinhamento de visões em relação ao papel da Companhia neste momento.

Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da Presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo.

É por isso, Senhor Ministro, que sou obrigado a declinar de tão honroso convite. Agradeço imensamente a V. Exa e ao Senhor Presidente, Jair Messias Bolsonaro, pela confiança depositada em mim, para tão importante missão, e pela deferência e respeito com que fui tratado por V. Excias e por esse Governo.

Ao longo de minha carreira, sempre lutei pelo desenvolvimento do mercado brasileiro de Óleo e Gás. Venho defendendo publicamente a importância de regras de mercado e do aumento da competição, em prol do consumidor e da sociedade, do crescimento do País e do incentivo aos investimentos.

Para concluir, reafirmo aqui o compromisso de continuar nessa luta, que é em favor do Brasil e votos de continuado sucesso na gestão do nosso Presidente Bolsonaro em favor do povo brasileiro.

Com elevado apreço,
Adriano Pires