Investimentos em fundos de crédito disparam, mas vale a pena investir agora?

Captações dispararam nos últimos meses, mas especialistas alertam que rentabilidade recente não deve se repetir

Os fundos de crédito privado estão bombando no Brasil. Em 12 meses até março, a captação desse tipo de investimento superou os resgates em R$ 156 bilhões, segundo dados da consultoria Quantum para a Inteligência Financeira.

É um cenário muito diferente do começo de 2023, quando a recuperação judicial da Americanas (AMER3) e da Light (LIGT3) estremeceram esse mercado.

Com o estancamento da crise, o cenário de taxas de juros ainda elevadas e a rápida popularização de títulos como CRIs e CRAs, o setor engatou recuperação impressionante.

O alto volume de debêntures tradicionais e o otimismo com as debêntures de infraestrutura recentemente regulamentadas também jogam a favor.

Além disso, com as restrições impostas em janeiro para a emissão dos títulos incentivados, a corrida dos fundos para pegar a raspa do tacho, manteve a demanda quente.

Assim, de janeiro a março, os R$ 71,9 bilhões emitidos em debêntures representaram quase o dobro do mesmo período de 2023, segundo a Anbima.

Fundos com maior captação em 12 meses (até março/24)Captação líquidaRentabilidade
BNP Paribas Match FI Renda Fixa Referenciado DI Crédito Privado R$   5,43 bi12,83%
SulAmérica Premium FI Renda Fixa Referenciado DI Crédito Privado R$   5,127 bi
Itaú Flexprev High Yield II Resp Limitada FIF Multimercado Crédito Privado R$   4,38 bi
Zeramento FI Renda Fixa Crédito Privado R$   2,52 bi12,51%
BRAM Captial II FI Renda Fixa Crédito Privado R$   2,471 bi14,95%
Kinea FI Renda Fixa Crédito Privado R$   2,11 bi15,56%
BTG Pactual CDB Plus FI Renda Fixa Crédito Privado R$   2,012 bi12,87%
Itaú High Grade FI Renda Fixa Crédito Privado R$   1,987 bi13,77%
Safra Extra Bancos Master FI Renda Fixa Crédito Privado R$   1,934 bi13,23%
Safra Agilité FI Renda Fixa Crédito Privado R$   1,758 bi13,79%
Fonte: Quantum e Mais Retorno

Rentabilidade sedutora

Rentabilidades folgadas acima do CDI em vários desses portfólios ajudam a explicar a efervescência dos fundos de crédito.

Especialistas, porém, alertam que esse cenário vistoso provavelmente não deve se repetir no médio prazo.

Primeiro, porque os ganhos no último ano refletiram em parte a recuperação dos preços de títulos de dívida, que sofreram bastante após o colapso da Americanas.

Além disso, as taxas de juros cadentes no Brasil já têm levado os fundos de forma geral a rendimentos menores do que há um ano.

Queda dos spreads

Há ainda um fator adicional que alimenta o risco dos fundos de crédito para os próximos meses, segundo os especialistas: os spreads extraordinariamente baixos nos últimos meses.

O spread, no caso, é a rentabilidade adicional embutida num papel de emissor privado em relação a um título soberano.

Isso porque os papéis de empresas são considerados em geral de maior risco do que os de governos.

De janeiro a abril, os spreads caíram de 0,40 a 0,50 ponto percentual.

“O spread de crédito (privado) está super amassado”, resumiu Guilherme Maranhão, presidente de estruturação de mercado de capitais da Anbima.

Foi o caso da Rumo (RAIL3), que emitiu R$ 1,2 bilhão para debêntures incentivadas no mês passado, pagando, com taxa de 0,15% sobre a NTN-B para a tranche de 10 anos.

“Portanto com pouco espaço para fechamentos adicionais”, afirmou Ciro Matuo, estrategista-chefe de renda fixa do Itaú BBA.

Em outras palavras, se houver alguma turbulência no mercado, a tendência seria os spreads dos títulos privados abrirem, voltando para um nível de equilíbrio.

Nesse cenário, esses papéis poderiam se desvalorizar no mercado secundário, eventualmente prejudicando investidores que precisassem se desfazer do investimento antes do vencimento dos títulos.