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Com crise no agro, volume de CRAs emitidos no ano até novembro tem 1ª queda desde 2021
O mau momento pelo qual passa o setor do agronegócio, aliado às restrições de lastro determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em fevereiro, levou as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) à primeira queda desde 2021 no período de janeiro a novembro.
Dados da plataforma CR Data, sistema do Clube FII, mostram que de janeiro a novembro de 2024 foram emitidos R$ 36 bilhões nesses títulos.
O total está, assim, 7,35% abaixo do mesmo período do ano passado.
Em novembro, foram ofertados R$ 2,5 bilhões em CRAs, o que representa uma queda de 44,3% frente a outubro, o primeiro recuo mensal desde 2022.
Possíveis razões
Felipe Ribeiro, sócio-diretor de investimentos alternativos do Clube FII, explica que, geralmente, há um rali no fim do ano.
Isso faz com que o volume de ofertas cresça, mas, diante do cenário atual, esse aumento já não houve no mês passado e dificilmente virá agora em dezembro.
“Com os recentes eventos de crédito e pedidos de recuperação judicial do agronegócio, os Fiagros, principais compradores desses papéis, estão com dificuldade de captar”, comenta.
Ribeiro destaca, no entanto, que em 2022 houve um total de R$ 38,5 bilhões emitidos em CRAs e, em 2023, R$ 45,6 bilhões.
“Devemos terminar 2024 em um patamar muito abaixo do visto no ano passado, o que será a primeira queda em um ano fechado desde 2019.”
Pedidos de recuperação judicial
O mais recente pedido de recuperação judicial (RJ) a chamar a atenção no mercado foi o do grupo B&F Agro.
Ele é especializado na produção e venda de grãos, revenda de insumos e locação de veículos, máquinas e equipamentos.
O pedido, aliás, foi aprovado pela Justiça de Maringá em 22 de novembro.
O processo do B&F Agro envolve dívidas de R$ 381,96 milhões com 317 credores.
Assim, os maiores são Banco do Brasil (R$ 58 milhões), Caixa Econômica Federal (R$ 51,5 milhões) e Itaú Unibanco (R$ 27,5 milhões).
O grupo afirma que foi afetado pela queda nos preços das commodities e pela inadimplência de clientes das revendas.
Em setembro, a AgroGalaxy, grupo varejista de insumos agrícolas, entrou em RJ alegando motivos semelhantes, incluindo mudanças climáticas.
A dívida líquida da empresa ao fim de junho totalizava R$ 1,512 bilhão.
Isso considerando empréstimos e financiamentos bancários e obrigações com CRAs e sem incluir débitos com fornecedores.
Crise no agronegócio
Os problemas ficaram evidentes com a divulgação dos números da economia brasileira no terceiro trimestre pelo IBGE na terça-feira (3).
O PIB do agronegócio, no entanto, foi o único que teve retração, com queda de 0,9% em relação ao segundo trimestre do ano.
Levantamento feito pela Quantum a pedido do Valor mostra que, no ano até setembro, com as fortes quedas de até 30% nas cotas dos Fiagros, a diferença entre o valor de mercado e o patrimonial chega a 43% na B3.
Ainda segundo dados da plataforma CR Data, do Clube FII, somente uma oferta de Fiagros foi feita em novembro.
Outras três abriram, no entanto sem resultado.
Restrições às emissões
As restrições do CMN às emissões de LCIs, LCAs, LIGs, que são títulos bancários, CRIs (recebíveis imobiliários) e CRAs foram anunciadas em fevereiro.
Então, como operações em andamento ainda podiam ser finalizadas nas condições anteriores, muitos coordenadores e estruturadores acabaram concluindo suas operações mais rapidamente.
De janeiro a março, foram R$ 12 bilhões em emissões, volume mais alto da história, mostram os dados do Clube FII.
Mesmo com as medidas do governo, os CRIs, porém, crescem no ano, com um total até novembro de R$ 55,4 bilhões.
Isso representa uma alta de 36,7% frente aos R$ 40,5 bilhões do mesmo período de 2023, ainda conforme o levantamento do CR Data.
“Os CRIs encontraram caminho para novas emissões, mas os CRAs foram impactados pelas mudanças climáticas e por eventos de crédito com as RJs”.
“Além disso, a maior parte do volume de CRAs emitidos no ano passado se enquadrava na restrição do CMN. Tudo isso está fazendo esses papéis sofrerem mais”, afirma Ribeiro.
Com informações do Valor Econômico
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