Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, renda fixa e commodities são boas alternativas

Especialistas recomendam não fazer alterações bruscas na carteira devido à volatilidade

- Ilustração: Marcelo Andreguetti
- Ilustração: Marcelo Andreguetti

Com as Bolsas oscilando de forma intensa no mundo todo, os investidores começam a se questionar se é a hora de adaptar suas carteiras. Se por um lado a aversão aos riscos aumenta, por outro, há quem esteja em busca das oportunidades que surgem mesmo em um período como esse. Nesse contexto, alguns produtos de renda fixa e ações ligadas ao setor de commodities aparecem como boas indicações. Segundo especialistas, um movimento de saída da renda variável já começou a ser sentido. A principal razão é que os investidores buscam mais segurança, uma vez que não se sabe por quanto tempo os conflitos vão se estender e quais serão os impactos deles nas Bolsas do exterior e os possíveis reflexos na Bolsa brasileira.

Renda fixa mais atrativa

Os especialistas afirmam, no entanto, que essa aversão ao risco acontece em um momento em que produtos de renda fixa estão mais atrativos, o que pode ser bom para o investidor. De acordo com o Boletim Focus, que reúne as medianas das expectativas dos economistas para os principais indicadores econômicos do Brasil, a inflação em 2022 deve ser de 5,56%, enquanto a Selic deve encerrar o ano em 12,25%. Portanto, quem investe em títulos públicos como o Tesouro Selic, por exemplo, pode garantir ganhos reais de aproximadamente 6,5% ao ano, caso essas estimativas se concretizem.

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“A gente começa a ter uma relação de risco e retorno que é muito atraente na renda fixa”, afirma Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama. Ela afirma que os títulos pós-fixados (em que o rendimento é atrelado a determinado indexador econômico como a taxa Selic ou o IPCA) são uma escolha “mais objetiva” para livrar o investidor de muitos riscos. “Esse é um bom momento para entrar em títulos de renda fixa pós-fixados. Porque eles vão trazer um colchão de amortecimento nesse período mais volátil, vão trazer segurança e equilíbrio para a carteira”, afirma.

Risco com aumento da inflação

Ela lembra, no entanto, que há riscos de a inflação subir ainda mais, especialmente devido às tensões externas. A guerra pode suspender as exportações feitas por Rússia e Ucrânia e impactar o preço das commodities. A consequência de uma possível alta no preço de ativos como petróleo, minério de ferro e até mesmo suprimentos agrícolas é o aumento da inflação. Portanto, pode ser uma boa decisão ter títulos atrelados ao indicador IPCA.

Esse cenário de aumento das commodities, no entanto, pode representar também uma oportunidade na renda variável, especialmente em ações ligadas a esse setor. Isso porque muitas empresas podem passar a se apresentar como uma alternativa a empresas de países envolvidos nos conflitos (especialmente se houver sanções de outras nações).

Além disso, a própria alta no preço dos produtos, seja por aumento da demanda ou escassez da oferta, também corrobora para um aumento da receita das companhias que os produzem. E essa alta também é sentida no preço das ações.

“A dinâmica que já vinha acontecendo é de papéis ligados a commodities ganharem. Especialmente Petrobras, aqueles de papel e celulose, e também os de alimentos. O Brasil sendo um grande exportador de matérias primas, em um segundo momento, pode se beneficiar do contexto global”, afirma Paulo Cunha, especialista da iHUB Investimentos.

Investidor estrangeiro

O especialista ainda explica que o Brasil é um país emergente que pode se apresentar como uma boa alternativa para o investidor estrangeiro por não estar envolvido no conflito (diferente do que acontece com a China, por exemplo) e por ter uma moeda desvalorizada.

“O Brasil é classificado como emergente e quando o investidor tem que riscar do mapa a Rússia, talvez até China e a própria Turquia, que está próxima da região, ele se apresenta como uma boa opção”, afirma o especialista.

Ações de “utilities”

Além das ações ligadas a commodities, Cunha afirma que uma boa indicação podem ser os papéis chamados de “utilities”, que são relacionados a prestação de serviços, como energia elétrica e telefonia. “Eles são um porto seguro nesse momento, porque não são tão impactadas por crises, as pessoas continuam consumindo, então a receita não cai tanto”, afirma.

Cunha também acredita que há oportunidades na renda fixa nesse momento, especialmente em títulos de crédito privado, que podem garantir não só segurança como uma rentabilidade um pouco maior.

“Estamos tendo emissões de empresas muito boas, há debêntures pagando a variação da inflação mais 6%, e com isenção fiscal. Então, não tem como desprezar a renda fixa, pelo contrário. Esse conflito coloca mais ainda a importância de ter renda fixa na carteira”, diz.

Muita calma nessa hora

Por fim, o especialista afirma que o importante é o investidor não tomar decisões precipitadas, especialmente saindo bruscamente da renda variável devido a uma queda. “Historicamente, quando tem um evento mais forte do mercado que mexe com bolsas, é ruim sair vendendo e tentar comprar depois. Os ativos costumam se recuperar e rapidamente. E pode ser uma oportunidade de compra. Ontem abriram algumas oportunidades, mas essas tensões podem se alongar por mais tempo, então podem surgir ainda mais oportunidades”, conclui.

Com reportagem do Valor Investe

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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