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Selic, dólar ou Ibovespa: qual é o melhor investimento?
Durante as décadas de 1980 e início de 1990, até o advento do Plano Real, em 1994, a economia brasileira era disfuncional e repleta de distorções. Os principais investimentos para se proteger da inflação fora de controle eram imóveis, dólar e até estocar comida, como discutido na coluna passada.
Contudo, com o Plano Real esse cenário se alterou radicalmente. A economia se tornou bem mais saudável e novas formas de investimentos se tornaram mais atrativas.
Selic, Dólar e Ibovespa após o Plano Real
A seguir tabela com o desempenho dos investimentos nos 30 anos após o Plano Real, três categorias centrais no Brasil – Selic, Dólar e Ibovespa.
Além do rendimento acumulado em 30 anos, estão na tabela também o desempenho em cada uma das três décadas do Plano, a primeira de 1994 a 2004, a segunda de 2004 a 2014 e a terceira de 2014 a 2024.
Por fim são apresentados ainda os números da inflação brasileira, medida pelo IPCA, nas mesmas quebras temporais:
A campeã Selic
A Selic foi a campeã incontestável nos primeiros 30 anos do Plano Real.
Obteve o maior retorno tanto no acumulado dos 30 anos com média de 15,9% a.a., versus 5,9% a.a. do dólar e 12,5% a.a. do Ibovespa. Além disso pagou mais que o dobro da inflação do período, a qual atingiu 7,2% a.a.
Considerando-se a quebra por década, a Selic continuou soberana. Pagou significativamente mais que a inflação nas três décadas analisadas e superou também o Ibovespa nestes mesmos três períodos. Em relação ao dólar, venceu nas duas primeiras décadas e perdeu por pouco na terceira década, quase um empate técnico de 9,3% a.a. versus 9,7% a.a.
Esse desempenho tão positivo da Selic está diretamente ligado ao Plano Real. A fim de combater a inflação, o Banco Central manteve altas taxas de juros nominais e reais no Brasil no período. Apesar de isso ser danoso para o setor produtivo e para os consumidores em geral, foi bastante positivo para os investidores.
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O Dólar ficou para trás
O dólar que era um dos melhores investimentos nas décadas de 1980 e 1990 antes do Plano Real (talvez o melhor de todos) perdeu essa característica com o Plano.
Em termos acumulados, rendeu em média apenas 5,9% a.a. nestes 30 anos, bem abaixo da Selic e do Ibovespa e perdendo até para a inflação no período (7,2% a.a.).
Apesar de ter sido o melhor investimento da terceira década (2014 a 2024), foi muito por conta dos problemas que o Brasil enfrentou com a política econômica equivocada durante o governo Dilma e posteriormente agravados pela pandemia de Covid-19, ou seja, é mais conjuntural que estrutural.
Ademais, mesmo assim, não compensou as perdas acumuladas na segunda década (2004 a 2014) para quem investiu em dólar.
O Ibovespa não foi mal, mas não foi tão bem
O Ibovespa não foi mal, com um retorno médio anual de 12,5% durante os 30 anos, bem acima da inflação média de 7,2% contudo, perdeu da Selic com 15,9% a.a. no mesmo período.
Considerando que a Selic possui bem menos risco que o Ibovespa, é sempre esperado que o índice de ações a supere em longo prazo. Esse é o chamado prêmio de risco (mais risco deveria gerar mais retorno, ou seja, Ibovespa ganhar da Selic).
Não foi o que aconteceu nestes 30 anos, o prêmio de risco foi negativo.
A Selic venceu o Ibovespa em todas as três décadas do Plano, ainda que diferença tenha diminuído ao longo do tempo. Na terceira década ficaram bem próximos, com Selic a 9,3% a.a. versus Ibovespa a 8,9% a.a.
E para o futuro?
Ao que tudo indica a Selic deverá se manter alta nos próximos anos, de acordo com a expectativa do Relatório Focus do Banco Central caindo lentamente dos atuais 10,5% a.a. para 9% a.a. nos próximos 4 anos. Portanto um desempenho esperado semelhante ao da terceira década do Plano Real.
De acordo com o mesmo Relatório há uma expectativa por uma manutenção do dólar, com valorização pequena para os próximos 4 anos. Já para o Ibovespa as previsões são ainda mais incertas, pois depende de muitas variáveis, tanto da economia brasileira quanto da economia internacional.
O que fazer então?
Há uma brilhante frase atribuída ao escritor estadunidense Mark Twain “a história não se repete, mas rima”, a qual se aplica ao Plano Real. Caso a sua história seja em alguma medida uma “rima” para o futuro, a Selic deverá continuar sendo um bom investimento com o dólar e o Ibovespa oscilando entre bons e maus momentos.
Cada investidor naturalmente deverá considerar seu perfil, pensar sempre em longo prazo e tomar decisões considerando seu bem-estar financeiro específico e sua tolerância ao risco.
Contudo, em geral, se a história “rima” uma boa estratégia seria uma alocação da maior parte de seus ativos em Selic e a outra menor parte dividida entre dólar e Ibovespa, de forma a diversificar os investimentos.
Estes dois investimentos possuem uma tendência de correlação negativa, ou seja, tendem a ter comportamentos opostos: na maioria das vezes que o dólar sobe, o Ibovespa cai e vice-versa, o que os torna bons complementos de carteira em longo prazo.
Esse modelo de carteira historicamente funcionou bem durante os 30 anos do Plano Real e há uma boa chance de continuar funcionando bem no futuro. Buscar referências no passado e procurar aplicá-las de forma crítica é Inteligência Financeira e vale para o Plano Real.
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