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Investir no exterior em 2024 pede ainda mais diversificação, diz executiva da PIMCO
Foi um ano cheio de surpresas. Após enfrentar a pandemia da Covid-19, o mundo foi marcado pelas consequências das rápidas respostas dos Bancos Centrais às paralisações econômicas forçadas pela expansão do vírus.
A acelerada movimentação dos juros, nas principais potências econômicas, trouxe para os economistas e analistas de mercado a árdua missão de tentar prever cenários econômicos, impactando, assim, nas projeções dos investidores pelo mundo. Dentre elas, as de renda fixa no exterior.
“Vimos muitos erros de projeções do mercado como um todo e isso causou uma volatilidade muito grande”, afirma Flora Meirelles, vice-presidente sênior da PIMCO, em entrevista exclusiva ao íon.
Para a especialista da gestora global especializada em renda fixa internacional, a principal surpresa foi a força econômica dos Estados Unidos, fato que deu brechas para o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) subir os juros em patamares historicamente elevados e causando temores no mundo pela incerteza quanto aos ativos de risco, de forma geral.
Divergência entre as economias
Segundo Flora, 2024 deve ter bastante divergência de rumo entre as principais economias do planeta. Essa disparidade, de acordo com a análise da executiva da PIMCO, demanda uma diversificação ainda maior por parte dos investidores.
Confira abaixo a entrevista completa com a análise internacional e as projeções para a renda fixa no exterior para este ano:
O que foi 2023 para a economia mundial e para os investimentos?
“Vimos muitos erros de projeções do mercado como um todo e isso causou uma volatilidade muito grande. O começo do ano foi o momento em que a maior parte do mercado esperava uma recessão.
Logo no início, teve em março aquela crise dos bancos médios e regionais dos EUA. Isso trouxe ainda uma convicção maior de que viria uma recessão. E o que aconteceu foi que a economia norte-americana mostrou uma resiliência muito maior do que praticamente todo mundo imaginava.
Essa resiliência trouxe uma necessidade de mais altas de juros pelo BC dos EUA e, por isso, o mercado demorou para ajustar as expectativas a esse novo cenário de economia forte, inflação pressionada e altas de juros. Essa resiliência veio de todo o estímulo durante o período da pandemia, o que trouxe maior poupança para os consumidores.
A outra parte importante foi o fato de as hipotecas nos EUA serem, em sua maioria, prefixadas e para 30 anos. Foi uma mudança importante depois da crise de 2008. Antes disso, tinham hipotecas em que os juros flutuavam mais. Mesmo com uma alta de juros muito forte, isso não impactou as hipotecas.
Apenas quem fez novas hipotecas, recentemente, que sentiu essa alta de juros. Além disso, teve uma queda forte na compra e venda de casas nos EUA. Então, a maior parte dos consumidores não sentiu essa alta de juros. ”
A cada dado positivo para a economia norte-americana o mercado “torce contra” e vê os números de forma negativa. Por que isso acontece?
“O cenário mais positivo possível para o mercado seria um desaquecimento, mas não o suficiente para entrar em uma recessão econômica. Esse desaquecimento faz com o que o mercado de trabalho fique mais ou menos estável, sem acelerar muito, impactando a inflação, que tende a cair quando isso acontece.
E com um nível de preços mais controlado, menor é a necessidade de aumentar juros. Então, não é que o mercado está torcendo contra a economia dos EUA.
A torcida na verdade é pelo meio do caminho: nem muito aquecido nem recessão. Recessão acaba sendo ruim para ativos de risco, como Ações na Bolsa e empresas com crédito de baixa qualidade, por exemplo.
E se você tem muito aquecimento, os juros precisariam continuar elevados. Por enquanto, apesar de toda a volatilidade dos últimos meses, o cenário de meio termo é o que tem acontecido porque já vemos a inflação caindo bastante e a gente não vê a economia desacelerando tanto.
Porém, o mais provável é que tenha uma desaceleração maior e que possa chegar até a uma recessão moderada para trazer essa inflação para baixo. É muito difícil manter uma economia crescendo de forma sustentável a uma taxa normal, em pleno emprego, e ao mesmo tempo ter a inflação caindo.”
Considerando que o Fed não deve mais subir juros e que há chances de corte ainda no primeiro semestre, ainda vale investir em renda fixa nos Estados Unidos?
“A renda fixa internacional está em um momento muito positivo porque a taxa de juros da renda fixa de alta qualidade chegou num patamar que a gente não via há muito tempo. Pensando ainda que o mundo pode entrar em novos ciclos econômicos e chegar a uma recessão, a renda fixa de alta qualidade tem o papel também de defender o portfólio.
Tem tanto o motivo dos bons retornos, considerando os juros altos, quanto o motivo de serem ativos considerados portos seguros da carteira.
Em comparação à renda fixa brasileira, realmente aqui ainda está com taxas mais altas e com retornos muito atrativos, mas existe sempre uma oportunidade de diversificação.
Então, se você só fica em renda fixa no Brasil, há uma concentração maior em risco Brasil e, na hora que você vai também para a renda fixa no exterior, a carteira se abre para novos e diferentes cenários, diversificando os riscos e tendo uma proteção a mais. ”
Qual é sua visão para este ano em relação aos investimentos internacionais?
“Olhando para este ano e para 2025, a tendência é que tenha mais divergência entre os ciclos econômicos considerando as principais economias do mundo.
Os Bancos Centrais agiram em momentos diferentes no mundo por conta do tema que impactou todo o mundo: a inflação. Alguns subiram juros antes, outros subiram depois. Além disso tem a questão do quanto os consumidores são sensíveis às taxas de juros em cada país.
Por esses dois pontos, o que vai acontecer é que cada país vai estar em um momento diferente. Algumas economias vão desacelerar antes, outras vão demorar mais, outras economias já estão cortando os juros, que é o caso do Brasil. Então essa divergência dos ciclos vai fazer com que os investimentos se comportem de maneira diferente em cada região, principalmente na renda fixa.
A conclusão é que há bastante oportunidade de gestão ativa em relação a esses diferentes cenários. Existe uma tendência geral de desaceleração sem dúvida, mas os ritmos de desaceleração vão ser diferentes. E isso cria muitas oportunidades de diversificação nesses vários países.”
Como equilibrar uma carteira com ativos nacionais e internacionais em um mercado tão complexo?
“A maneira como a PIMCO encara essa complexidade é com foco muito grande em juntar o macro com o micro. O que a gente faz é entender muito bem o macro, com discussões profundas sobre os cenários econômicos no curto prazo e no longo prazo, e tendo esse panorama a gente une com o micro, escolhendo a dedo os ativos de renda fixa que mais fazem sentido pensando em risco e retorno.
E a gestão ativa, principalmente nesse momento de divergência de ciclos, é fundamental. Você não fica preso num índice. Você pode ter essa liberdade maior de escolha para compor uma carteira, sempre com uma visão global.
Sobre esse ponto, nossa conferência em 2023 foi em Londres, reunindo nossos principais líderes, gestores e economistas para formar uma união de pensamento com um espírito global e considerando tudo o que está na nossa mão e perspectiva. Estamos tentando cada vez mais ser uma empresa ainda mais global para conseguir navegar nas complexidades das realidades econômicas.”
Especificamente no Brasil, como você vê a relação dos investidores por aqui com os ativos globais?
“Todo mundo, não é só o brasileiro, acaba tendo uma visão mais doméstica. A gente conhece o nosso país, a nossa economia, as nossas empresas e eu percebo que o brasileiro tem um pouco mais desse viés de investir mais dentro de casa. Mas isso foi avançando nos últimos anos. Hoje existe muito mais familiaridade, mas ainda tem bastante pra andar.”
*Texto de Leonardo Pinto, CEA, editor do Feed de Notícias do íon . Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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