Apenas dois cortes de juros nos EUA em 2024? Entenda o cenário e saiba como lidar com seus investimentos no exterior

Há investidores que aumentaram as apostas de que o Fed poderá elevar os juros mais uma vez

O mercado tem ajustado as expectativas de cortes de juros nos EUA em resposta à resiliência da economia e aos dados de inflação. Após iniciar o ano com a possibilidade de até seis cortes de juros em 2024, atualmente, o mercado estima no máximo dois.

Há inclusive investidores que aumentaram as apostas de que o Fed poderá elevar as taxas de juros nos EUA mais uma vez. Trata-se de uma perspectiva antes impensável.

Por aqui, o Itaú Unibanco revisou as projeções para a economia americana e espera que o Fed faça apenas um corte de juros em 2024. A previsão anterior considerava três cortes.

Diante dessas perspectivas, como o investidor que tem dinheiro alocado nos EUA ou almeja aplicar no país deve agir? A seguir, confira o que dizem os analistas consultados pela Inteligência Financeira.

Cortes de juros nos EUA: qual é o cenário?

Em março, o Fed anunciou que decidiu manter os juros básicos dos EUA na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano. Assim, estendeu por ainda mais tempo a pausa nas taxas iniciada em setembro de 2023.

De acordo com Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, as expectativas em torno do cenário de juros nos EUA foram reajustadas ao longo dos últimos meses e, “de uma forma mais íngreme, nas últimas duas semanas”.

Segundo a especialista, “o mercado, de uma forma geral, entendeu que a inflação está se estabilizando acima da meta, o que dificulta um pouco o trabalho do Fed para iniciar os cortes de juros”.

Na avaliação de Paula Zogbi, analista de investimentos e head de conteúdo da Nomad, esse novo cenário pressiona ativos de risco, à medida que juros altos desestimulam o crescimento e aumentam a atratividade de ativos livres de risco.

“É um contexto positivo para começar a investir em ativos dolarizados. Isso porque a moeda norte-americana se fortalece com a diminuição do diferencial de juros e esse fluxo financeiro. A renda fixa americana é um destaque para essa estratégia, já que seus dividendos estão diretamente atrelados ao juro básico dos EUA”, afirma Paula Zogbi, head de conteúdo da Nomad.

Economia forte

O analista Thiago Guedes, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Bridgewise no Brasil, pontua que a taxa de juros cai quando há a necessidade de reaquecer a economia. Entretanto, destaca o especialista, a economia dos Estados Unidos está muito forte. “Ela está entregando resultados bons, com as empresas tendo lucro e receita. Mesmo com a inflação persistindo, não estamos tendo dados de desemprego forte”, lembra ele.

Guedes que acredita que “talvez tenhamos um novo patamar de juros de equilíbrio”. “A gente deve ter alguns cortes até o fim do ano, mas muito longe do que era esperado”, pontua ele.

“A nossa perspectiva dentro dos C6 sempre caminhou mais para esse lado cauteloso, embora o mercado tenha se empolgado um pouco mais. Isso se refletiu no preço dos ativos de renda fixa e nos ativos de renda variável também. Mas, mesmo em meio a essa empolgação, nosso call sempre foi um pouco mais cauteloso. No sentido de que inflação estava, sim, se estabilizando acima da meta e de que o Fed teria mais trabalho para começar os cortes”, afirma Larissa Frias.

O que muda para quem investe no exterior

Paula Zogbi pontua que o momento é “bastante interessante para a renda fixa americana, principalmente nos vencimentos de curto prazo, menos sensíveis ao noticiário que vem afetando as projeções de juros”.

“Os títulos mais seguros do planeta, os T-Bill pagam, hoje, juros próximos a 5,2% ao ano, ainda protegendo sua carteira das oscilações do dólar. Já no caso de vencimentos mais longos, importante notar que a volatilidade é maior e a emissão americana é prefixada. Assim, o investimento faz mais sentido caso o investidor acredite que a precificação dos juros não tende a ficar mais estressada. Lembrando que aumentos nas taxas significam quedas nos preços”, diz a analista.

Guedes também reforça que, diante do cenário atual, o investidor deve ter um olhar atento para os investimentos com uma orientação de longo prazo.

“Em renda fixa, se o vencimento dos títulos que ele comprar agora forem curtos, é tranquilo. Eles estão num patamar muito bom para ter rendimentos em renda fixa com esse patamar de juros nos EUA. Se ele for levar para o longo prazo, aí é interessante que seja um dinheiro que ele não precise resgatar antes do vencimento”, explica o analista.

Isso porque, afirma Guedes, “se a gente tiver outro movimento de alta de taxa de juros, isso pode desvalorizar o título de renda fixa prefixado antes do vencimento”.

Para Larissa Frias, os prazos muito longos vão carregar um prêmio mais interessante, mas eles trazem mais riscos. “Toda vez que a gente tiver algum movimento parecido com o que nós tivemos nas últimas semanas, como o cenário ainda traz muitas incertezas, o investidor deve diversificar um pouco em prazos e tomar cuidado com as exposições mais longas”, explica ela.

Volatilidade com cortes de juros nos EUA

A planejadora financeira do C6 destaca que, “olhando para o dia a dia, o investidor sentiu, principalmente nas últimas semanas, uma oscilação, uma volatilidade, especialmente nos preços de renda fixa, além de uma queda no desempenho dos investimentos de renda variável.

“Isso acontece porque eles naturalmente sentem esse ajuste feito pelo mercado, esse choque de realidade”, diz a planejadora financeira. 

Ela destaca que outro ponto de atenção em relação à renda fixa tem a ver com a qualidade do emissor. “Então, diante de uma perspectiva de crescimento mais moderada à frente, nós estamos falando muito de títulos que tenham alta qualidade de crédito, ou seja, títulos do tesouro americano e títulos de investment grade que carregam, mesmo no crédito privado, uma qualidade muito alta do emissor”, pontua Larissa.

De acordo com Paula Zogbi, “para melhor aproveitar as vantagens da renda fixa americana de curto prazo, o investidor pode investir diretamente em bonds e notas do tesouro americano, ou optar pela praticidade dos ETFs de renda fixa americana, que oferecem diversificação desses títulos e pagam dividendos em dólar”. Alguns exemplos de ETFs de renda fixa americana de curtíssimo prazo, com boa liquidez são o BIL, o SGOV (ambos compostos de títulos vencendo em até 3 meses) e o SHV (até um ano), segundo a analista.

Renda variável

A planejadora financeira do C6 cita ainda a renda variável, cuja “perspectiva continua positiva”. “Mas naturalmente comprar o índice acaba sendo uma exposição maior a risco, comprar, por exemplo, S&P 500 direto. O valuation ficou um pouco mais caro diante dos cinco aumentos consecutivos, os cinco desempenhos positivos consecutivos do S&P nos últimos meses”, lembra ela.

Sendo assim, a recomendação para a renda variável, especialmente nos Estados Unidos, tem se pautado mais na gestão ativa.

“Ao invés de comprar o índice puro, a gente tem feito a escolha dos papéis e a escolha dos setores, principalmente. Nesse sentido, destacam-se os setores de utilidade pública, energia, saúde, tecnologia, fugindo um pouco daquelas empresas que mais se destacam no índice. Até porque elas também estão com o valuation mais caro”, ressalta Larissa Frias.