S&P 500 registra melhor 1º trimestre em 5 anos. É hora de investir nas empresas do índice?

Indicador mais famoso do mundo teve alta de 10,16% de janeiro a março deste ano

Índice de ações mais famoso do mundo, o S&P 500 registrou, de janeiro a março de 2024, o seu melhor primeiro trimestre em 5 anos, com uma alta de 10,16% no período. Só para você ter uma ideia, o Ibovespa fechou o mesmo período com uma queda de 4,53%. O S&P 500 foi impulsionado pelo otimismo em relação às ações relacionadas à Inteligência Artificial. Além disso, ajudou no ganho trimestral sólido a expectativa de que o Federal Reserve começará a cortar a taxa de juros neste ano. Diante desse cenário, será que vale a pena ter o S&P 500 como parâmetro na hora de montar a sua carteira? Confira a resposta e também como investir tendo o índice como referência.

S&P 500: máximas históricas em 2024

Até aqui, em 2024, o S&P 500 já teve 21 dias de máximas históricas alcançadas. De acordo com William Castro, estrategista-chefe da corretora digital Avenue, o índice adicionou US$ 10 trilhões em capitalização de mercado desde a mínima de 27 de outubro do ano passado. De lá para cá, o índice subiu 28% em menos de 100 dias de negociação. Em resumo, o S&P 500 adicionou cerca de quatro vezes o valor de mercado da Apple (AAPL) em apenas cinco meses.

Mas, afinal, por que o S&P 500 bateu recordes tantas vezes ao longo deste ano?

Na avaliação do analista João Rômulo Lima, sócio da Arbor Capital, o índice, que vem sendo alavancado pelo desempenho das big techs, alcançou novos patamares históricos recentemente impulsionado sobretudo por fatores microeconômicos.

“As empresas que compõem o índice têm se beneficiado de circunstâncias idiossincráticas que afetam positivamente seus desempenhos, tais como inovações tecnológicas. Esses fatores microeconômicos específicos têm tido um impacto significativo sobre o crescimento de lucro das empresas e consequentemente no desempenho de suas ações, deixando fatores macroeconômicos, como os juros, em segundo plano”, afirma o especialista.

Já Thiago Guedes, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Bridgewise no Brasil, destaca fatores macroeconômicos para que o S&P 500 continue, “surpreendentemente”, batendo máximas. “A economia americana não entrou na recessão que era esperada quando houve o aumento das taxas de juros. A inflação começou a ceder, mas não tanto quanto era esperado. Por isso, ainda não tivermos cortes das taxas de juros”, avalie ele.

De acordo com Guedes, a economia dos EUA “continua entregando bons números, as empresas continuam crescendo, as pessoas ainda estão com dinheiro para investir e isso acaba puxando o índice para cima”. 

Em resumo, como afirma Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, “basicamente a resposta que o S&P 500 tem dado nesses últimos meses é com relação a expectativa de início de cortes de juros nos EUA, que tem sido muito aguardada”. 

Impacto da Inteligência Artificial

Nesse cenário, alguns temas específicos, como a Inteligência Artificial, têm gerado, não à toa, alguma euforia em nichos de empresas impactadas positivamente por eles, pontua João Romulo. Ele destaca que, fora desses nichos, “não nos parece haver exageros notáveis”.

“Ao invés de buscar opinar sobre o preço justo de um índice específico, preferimos concentrar nossos esforços em encontrar e investir em empresas de alta qualidade com largas oportunidades de crescimento e com valuations atrativos. Estamos bastante construtivos com os fundamentos das ações que investimos e seus retornos prospectivos”, afirma ele.

The Magnificent 7

Para João Rômulo Lima, não dá para negar que o desempenho das “7 Magníficas” da tecnologia, as Magnificent 7, tem sido o motor da alta do S&P500.

Ele ressalta, entretanto, que, o investidor deve considerar cada empresa separadamente. “Se já estão caras ou não, depende de qual empresa estamos falando. Vejamos a Meta e o Google (Alphabet), por exemplo. Mesmo com valuations mais altos que a média do mercado, elas ainda têm espaço para crescer, estão bem posicionadas em IA e têm margem para expandir”, diz o analista.

Por outro lado, de acordo com Lima, a Tesla e a Nvidia são casos mais complexos. “Elas surfam a onda da IA de um jeito diferente e a natureza do hardware traz mais volatilidade. É mais desafiador saber se os múltiplos atuais refletem a real capacidade de geração de valor dessas empresas no longo prazo, seja subestimando ou superestimando substancialmente seu valor intrínseco”, avalia o especialista.

Em linhas gerais, de acordo com análises da Bridgewise, ainda vale investir nas big techs. “Isso porque elas estão entregando receita, crescimento e produtividade. Nesse sentido, não é uma um crescimento de bolha. É um crescimento maduro de empresas que possuem receita. Isso deixa a gente mais tranquilo para recomendá-las. Elas possuem novos projetos que fazem sentido no momento e ainda projetam um crescimento maior que o mercado. Nada indica que elas vão perder território”, avalia Thiago Guedes.

Como investir no índice S&P 500? Qual é a melhor opção?

Para os brasileiros interessados em alocar recursos em empresas listadas no índice S&P 500, mas que preferem não investir diretamente em ações, há diversas alternativas acessíveis, como fundos e ETFs. Conforme João Rômulo, é possível optar por veículos com ou sem exposição à variação do câmbio.

Para quem vai investir pensando no longo prazo, é sempre interessante olhar para produtos que acompanhem o índice, salienta Thiago Guedes.

“Isso porque o S&P 500 funciona como se fosse uma seleção natural de produtos. O índice sempre vai acabar dando mais peso para as empresas que são mais fortes, para as empresas que estão entregando mais, que tem volume de negociação. Então, essa média das melhores empresas do mercado acabam entregando um retorno maior do que os fundos ou do que uma carteira própria”, avalia o especialista, que adiciona:

“Além disso, você não precisa estudar ação por ação para comprar. Se o índice cair, você vai ter ali um crescimento que acaba retornando historicamente, ou seja, você volta aos ganhos, se tiver paciência”.

Fundos de ações

Por outro lado, para o investidor que está começando a investir no exterior, Larissa Frias recomenda veículos que sejam geridos por profissionais. “Quando delegamos para um gestor, a gente tem um apoio muito mais embasado com relação a tendências. Assim, o investidor acaba se protegendo”, afirma ela.
A planejadora financeira destaca como opção “os fundos de ações que tenham uma gestão bem mais ativa, fundos que vão buscar ações que tenham bons dividendos etc”.

A partir desse raciocínio, ela salienta que “hoje nós só estamos fugindo da compra direta de índices. A maioria dos ETFs acompanha os índices de forma mais passiva. Nós não os estamos recomendando. Mas existem fundos de índice ativos, ou seja, que tem uma gestão que vai buscar ter uma performance um pouco melhor do que a do índice”, analisa Larissa.

Para além das big techs: em que setores do S&P500 investir?

A planejadora do C6 Bank Larissa Frias destaca que ainda há oportunidade para investir nas empresas do S&P 500 para além das big techs. “Porém, quando olhamos o geral do índice, os preços acabam ficando um pouco mais caros”, afirma ela.

Nesse contexto, a estratégia do banco no portfólio internacional tem consistido em selecionar papéis da bolsa americana “com um pouco mais de cautela”. “O crescimento daqui para frente deve vir mais ameno se a gente comparar com outras épocas. Isso porque a taxa de juros deve cair, mas ainda permanecer em um patamar razoavelmente alto em relação a outros momentos da economia mundial”, explica a especialista. 

Nesse sentido, diz ela, “vale apostar em setores que sejam mais sólidos, que são procurados mesmo em casos de crescimento não tão exponencial. Larissa cita, por exemplo, os setores financeiros, de saúde e de utilities (energia, saneamento etc).

Em relação à tecnologia, Larissa Dias diz que o C6 tem recomendado opções de fora das Magnificent 7. “Não significa que as big techs não tenham potencial, mas o preço delas acaba ficando um pouco mais caro. Isso é natural”, pontua a planejadora financeira, que completa:

“A tecnologia tem muito espaço, o setor continua no nosso radar, com expectativa positiva de crescimento. Porém, nós temos buscado outras opções além das principais concentrações no índice S&P 500, a fim de garantir preço e desempenho no médio e longo prazo”.