Bolsa da Argentina sobe 370% em 12 meses; vale a pena investir? Veja como
O início de mandato do presidente da Argentina, Javier Milei, foi laureado por uma alta no mercado de capitais de Buenos Aires (BYMA).
Em 2024, o S&P Merval, principal índice de negociação do país, registra alta de 64,5% desde a vitória de Milei nas urnas, em novembro. Mas vale a pena investir na bolsa de valores da Argentina? Como o brasileiro consegue aplicar dinheiro na BYMA?
Especialistas consultados pela Inteligência Financeira explicam que existem diversos riscos na mesa. Ao investir na bolsa de valores da Argentina, o investidor pode se deparar com falta de liquidez nos principais papéis. Há também o risco econômico e político do país.
Como investir na bolsa de valores da Argentina?
O caminho para investir na bolsa de valores da Argentina não é tão simples. Em primeiro lugar, o brasileiro não pode investir em papéis do mercado de capitais vizinho sem abrir uma conta em uma corretora local.
Apesar de ser a maneira mais direta de se expor à bolsa vizinha, a abertura de uma conta em um banco ou corretor na Argentina é também a mais complicada. Conforme aponta Gabriel Meira, analista da Valor Investimentos, essa solução “tem uma série de problemáticas”.
“A primeira seria para enviar e receber dinheiro das ações na bolsa de valores argentina”, aponta. “A segunda seria de liquidar posições, portanto”.
Assim, a segunda opção, e mais viável apontada por analistas, é de investir em ADRs (American Depositary Receipts) argentinos. Os recibos das principais ações negociadas na bolsa de valores da argentina estão em Wall Street e podem ser acessadas por investidores brasileiros.
“É a maneira mais simples, comprar os ADRs argentinos negociados nos EUA”, diz Carlos Herrera, analista e fundador da Condor Insider. Para isso, o investidor pode abrir uma conta em uma corretora internacional, como a Avenue ou a XP Investments, e comprar ADRs argentinos por lá.
ETF MSCI Argentina
Da mesma forma em que estrangeiros aplicam no Ibovespa, uma maneira vista como “mais segura” por Meira de como investir na bolsa argentina é comprando cotas do ETF do S&P Merval.
O ETF é, nesse caso, uma solução para comprar a cesta das principais ações da Argentina, sem o risco de volatilidade ao selecionar uma ação ou outra. O fundo, neste caso, se chama Global X MSCI Argentina (ARGT) e pode ser negociado na bolsa de Nova York (NYSE).
“O investidor brasileiro pode entrar no home broker que a empresa opera, como a Avenue, e pode entrar na bolsa argentina via ETF”, destaca o analista da Valor Investimentos.
‘Efeito Milei’ faz bolsa argentina saltar 370%
A BYMA superou por muito os retornos do Ibovespa. No recorte anualizado (12 meses), o S&P Merval saltou 370,79% contra 12,33% do Ibovespa. Mas, na visão de especialistas, a diferença gritante em rendimento não significa que vale a pena entrar na bolsa de valores argentina.
Na análise de Herrera, da Condor, a alta da bolsa de valores argentina é uma resposta à crise econômica do país. Com a desvalorização do peso, argentinos correram para se desfazerem da moeda ao comprar casas, carros… ou ao investir na bolsa de valores.
“O que aconteceu nos países com inflação alta, como a Argentina, é que as pessoas começaram a comprar ações na bolsa para não ter pesos, porque elas sabiam que aquilo iria desvalorizar”, diz Herrera. “Não fizeram essa escolha com base em fundamentos das empresas listadas”, completa.
A bolsa de valores argentina, além disso, passa por uma seca de listagens de novas empresas. “Se no Brasil a janela dos IPOs é a cada 5 anos em média, na Argentina faz 20 anos que a janela de ofertas públicas é escassa”, diz Herrera, da Condor.
Sinceramente, bolsa Argentina está largada há anos, até porque ninguém investe lá com poucas exceções.”
Gabriel Meira, analista e sócio da Valor Investimentos
Com a economia instável e uma taxa de juros de 118% ao ano nas Leliqs, títulos do Tesouro da Argentina, “as empresas não ousam fazer follow on e deixam o país”, afirma Herrera.
Vale a pena investir na bolsa de valores da Argentina?
Afinal, vale a pena ter parte da carteira alocada em ações ou ADRs da bolsa de valores da argentina? Especialistas se dividem sobre riscos do país misturados com a euforia do governo Milei.
Em primeiro lugar, as projeções para este ano são mais otimistas. A economia argentina não necessariamente caminha para a hiperinflação, escreveu em relatório o banco Goldman Sachs. Apesar de ter assumido em dezembro, Milei viu a inflação disparar 25% em janeiro.
“Mas devemos esperar uma inflação de três dígitos por mais tempo”, afirma Alberto Ramos, economista do Goldman para a América Latina.
Para o economista Roberto Luis Troster, da Troster & Associados, a inflação na Argentina deve recuar em meados de 2024. Ao reconhecer o salto dos preços no início do governo Milei, Troster diz que este “foi um salto de curto prazo. “Os preços associados ao dólar blue estão caindo. Acredito sim que teremos uma extensão do ‘efeito Milei’ na bolsa de valores argentina “, detalha.
“Argentina não caminha para o mesmo destino de inflação de 2.000% do Brasil da década de 90”
Roberto Luis Troster, da Troster & Associados
Para Carlos Herrera, contudo, o investidor não deve apostar na Argentina com base no ‘kit Milei’.
“O que temos agora é muita incerteza. O cenário político argentino é altamente arriscado, não sabemos se as medidas de Milei devem ser aprovadas no Congresso, porque a maioria dos políticos é de oposição. Aquela pessoa que entra de forma especulativa porque o Milei está entregando o que prometeu, por enquanto, pode acabar se frustrando”, diz Herrera.
“Argentina não é para amadores ou para a pessoa física. É para quem tem perfil de risco alto e espaço de renda para se expor ao mercado”
Carlos Herrera, fundador da Condor Insider
Para o caso de ações de empresas públicas que têm promessas de privatização, como no caso da petroleira nacional YPF, Herrera recomenda cautela. “Não investiria sem avaliar muito bem antes”, diz. O analista, que tinha posições na bolsa de Buenos Aires até 2022, afirma que nunca nenhum de seus clientes “teve mais de 10% da carteira alocada em ativos argentinos”.
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