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Em ano para se esquecer, fundo multimercado sofre com resgate e retornos abaixo do CDI; o que esperar de 2024?
Com a virada de ano, o mercado financeiro vai lembrar de 2023 como um momento de sangria para quem pensou em investir em fundos multimercado, os hedge funds brasileiros. Não que os anos anteriores tenham sido lá tão excepcionais para essa indústria, longe disso. Mas é que neste que passou, o caldo entornou de uma maneira poucas vezes vistas.
Os fundos multimercados em 2023
Os fundos multimercado são uma classe que veio ao mundo para entregar o retorno do CDI, taxa que anda colada com os juros básicos da economia, a Selic, acrescido de um prêmio extra que o torne mais atrativo do que a renda fixa. Assim, a verdade é que pouco menos de um terço dos multimercados (apenas 27% deles) conseguiram superar o índice de referência do mercado.
Como consequência, os investidores bateram em retirada. De acordo com dados preliminares, compilados pela plataforma Comdinheiro com exclusividade para a Inteligência Financeira, o setor de fundo aberto da classe de multimercado perdeu R$ 31,20 bilhões em 2023.
Para chegar a esses dados, a Comdinheiro organizou os fundos segundo os critérios do índice de Hedge Funds da Anbima (IHFA). Isto é, a associação brasileira das empresas do mercado financeiro.
Para integrar o IHFA, os fundos precisam estar enquadrados na classe dos multimercados há mais de um ano. São excluídos do índice os fundos fechados, exclusivos e os que não cobram taxa de performance.
Além disso, é necessário que esse fundo multimercado tenha um número igual ou superior a dez cotistas no trimestre anterior à data de rebalanceamento.
E, por critério de compliance, os fundos do IHFA precisam divulgar o valor de suas cotas atualizadas diariamente. Assim, 329 fundos multimercados bateram com as características e se encaixaram no estudo.
“Esse ano foi difícil mesmo. Eu estou há seis anos nesse mercado. Mas mesmo os gestores mais antigos, com 25, 30 anos no setor, dizem que foi o mais difícil dessa indústria”, afirma Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio da Principal Claritas.
“Foi um ano terrível”, confirma Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil.
“Os gestores tiveram problemas em ler os cenários e ficaram perdidos em alguns momentos”, reconheceu, ainda em novembro, em evento para investidores no Banco do Brasil.
O que aconteceu com o fundo multimercado em 2023?
Historicamente, em momentos de grandes incertezas macroeconômicas, o fundo multimercado tende a se destacar na comparação com as outras classes. Sejam essas classes de fundos de ações, sejam de renda fixa.
Isso acontece porque, normalmente, os gestores de multimercados conseguem captar relativamente bem os rumos das políticas macroeconômicas. Além do sobe e desce dos juros e das incertezas geopolíticas. Mas não foi o que aconteceu neste ano.
“A política monetária, principalmente dos Estados Unidos, pegou o mercado inteiro de surpresa”, justifica André Leite, da TAG Investimentos.
“Então, em vários momentos o mercado quis antecipar essa parada (da alta de juros) do Fed… Quis antecipar essa, vamos dizer, recessão (da economia americana)”, lembra Ricardo Cará, que lidera a área de fundo multimercado da EQI Asset. “Mas esse arrefecimento da economia americana não vinha, não vinha, não vinha e os portfólios sentiram o impacto”, conta.
Cará, aliás, sentiu na pele essa dificuldade. Um dos fundos geridos por ele, o Atlas Macro FIM, com 1,87 mil cotistas, foi um dos que, apesar de fechar o ano no azul, com valorização de 9,42%, ficou abaixo do índice de referência, com apenas 72% do CDI.
O que esperar ao investir em fundos multimercado
“Foi um ano que tiveram diversas narrativas e foi difícil durante o ano a gente conseguir materializar essas narrativas em posição”, conta Rodrigo Cabraitz, da Principal Claritas. Para ele, 2024 deve se configurar como um ano um pouco mais previsível para o investidor.
“A gente já vê boa parte do mercado com posições que convergem, apostando na queda de juros aqui no Brasil e apostando na queda de juros lá fora também”, destaca Cabraitz.
De uma forma geral, essa sinalização apontada pelo gestor da Claritas, de fato, tem colocado o mercado para olhar para o próximo ciclo ao se investir em fundos multimercado. Isso porque se espera de corte de juros na principal economia do mundo, os Estados Unidos, nas reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de março ou de maio próximos.
“Eu acho que o aperto monetário global acabou. A economia está começando a mostrar sinais de fraqueza um pouco maior. E tem pela frente um ciclo de corte de juros nos Estados Unidos de 150 pontos base (1,50%)”, projeta Ricardo Cará.
“Com juros menores, vai ficar melhor para a indústria de hedge funds”, acredita o gestor da EQI.
Resta saber se, neste ano, finalmente, o mercado vai voltar a acertar a mão de suas projeções.
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