Trump dificulta decisão de investimento no Brasil, diz economista da Mirae
O retorno de Donald Trump para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos dificulta a decisão de investimento no Brasil tanto de investidores estrangeiros quanto locais.
A análise é da economista-chefe da corretora global Mirae, Marianna de Oliveira Costa. Para ela, Trump reforça juros neutros mais altos nos EUA e, assim, complica o cálculo de volatilidade dos ativos por todo o mundo – de economias maduras e emergentes.
“A incerteza que Trump traz se reflete nos ativos financeiros”, diz Marianna. Tanto a queda repentina do dólar quanto os rendimentos acima da média dos título do Tesouro dos Estados Unidos são exemplos.
Na semana em que o republicano voltou à Casa Branca, a moeda americana caiu ao menor patamar em dois meses no Brasil e recua em todo o mundo. O dólar comercial encerrou a sexta-feira em queda de 0,13%, aos R$ 5,91, acompanhando a desvalorização global da moeda.
O principal motivo para isso é que o presidente americano iniciou seu mandato sem baixar ordens de taxação de importações, a principal ameaça de Trump antes de voltar triunfalmente a Washington.
O movimento dos títulos do Tesouro americano, cujo retorno ultrapassou 5% pela primeira vez desde agosto de 2023 também mostra que a despeito de Trump ter clamado por juros mais baixos, o mercado precifica juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos.
A economista afirma ainda que a gestão Trump pode intervir nos preços das commodities, o que afeta o Brasil.
Trump torna investimento no Brasil mais arriscado
A economista da corretora sul-coreana Mirae no Brasil explica a dificuldade de colocar o governo Trump na equação para equilibrar riscos de alocação.
Marianna Costa diz que o mercado vem se posicionando para absorver os impactos da vitória de Trump desde outubro, quando ficou mais claro seu favoritismo nas Eleições de 2024.
Mas os modelos de analistas, de Wall Street à Faria Lima, têm dificuldade de prever Trump.
Isso porque, desde dezembro, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) não deixou claro quantas vezes pretende cortar os juros ainda neste ano. E, por mais que queira baixar os juros imediatamente, Trump pode elevar o que economistas chamam de “juro neutro” da economia americana.
O cálculo do juro neutro considera a meta de inflação instituída pelo banco central dos EUA e os juros reais da economia americana – a taxa nominal menos a inflação.
“Para os Estados Unidos, achamos que as taxas de juros vão ficar mais altas por um tempo mais longo”, comenta Marianna.
Isso significa que investidores priorizam investimentos com retornos maiores e com mais segurança. E, portanto, fora do Brasil, na tentativa de igualar o rendimento do título do Tesouro americano. No caso dos EUA, a taxa de juros neutra pode “se acomodar entre 2,5% e 3%”, diz Marianna.
Ou seja, a opção de investir em países como o Brasil “torna-se mais difícil”, afirma a economista, em meio a variáveis internacionais e locais.
Commodities podem sofrer impacto negativo sob Trump
Outro impacto de Trump sobre o investimento no Brasil pode ser a desvalorização das commodities, afirma a economista da Mirae no Brasil.
O presidente americano já sinalizou que a China deve ser o alvo mais imediato das tarifas de importação.
O diálogo de Trump com Pequim se mantém amigável. Na sexta-feira (24), o presidente americano disse que pode chegar a um acordo comercial com a China. O dólar perdeu força no mundo e no Brasil após a fala.
Marianna Costa diz que, caso a lua de mel entre China e Estados Unidos acabe, tarifas sobre a China tendem a baratear as commodities. Isso porque, sob tarifas, a economia asiática pode desacelerar ainda mais em 2025.
O crescimento menor da China implica em menor demanda por petróleo, ferro e produtos agrícolas, explica a economista.
Além disso, a economista da Mirae sente que Trump pode encerrar conflitos geopolíticos, como a Guerra da Ucrânia. “Esvaziar esses atritos geopolíticos pode amainar preços de petróleo, por exemplo”, ela destaca.
Mas, claro, não é uma boa notícia para os investimentos no Brasil. “O que se imagina é que teremos uma desaceleração da atividade econômica. É isso que entra no radar, pois é a grande dúvida.”
“É esperado que teremos ainda um PIB forte pela contribuição da safra recorde despachada a dólar recorde. Passada a primeira metade, teremos impacto da Selic mais alta e de inflação alta. O risco que se corre é dessa desaceleração ser mais abrupta.”
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