Precisa mexer na reserva de emergência? Veja como fazer isso com inteligência
Ela deve ser usada com cautela e tem que ser reposta assim que possível
Fazer uma reserva de emergência está no topo da lista dos especialistas para quem quer se precaver e enfrentar com mais tranquilidade períodos de turbulências econômicas. Só que muitos brasileiros – seja pelo aumento dos preços, cortes de salário ou algum outro problema que pressiona o orçamento doméstico – têm passado os dias com a corda no pescoço.
Diante do sufoco, um questionamento tem sido recorrente: como poupar se o dinheiro mal tem dado para cobrir gastos essenciais para sobrevivência e contas fixas?
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O economista André Schneider, especialista em investimentos da gestora Warren, afirma que é preciso reorganizar as contas antes de tudo. “Sabemos que determinados custos são elevados, mas é difícil visualizar o quanto eles nos impactam. Por isso, a primeira coisa a fazer é colocar tudo no papel. Anote todos seus gastos, desde as pequenas despesas, as dívidas e tudo mais”, diz.
Por que você deve anotar seus gastos?
“É difícil gerir sem dados”, defende Schneider. “Com informações, conseguimos visualizar exatamente quais são os tipos de gastos que mais nos impactam para saber o que cortar. Visualizando mês a mês, conseguimos também enxergar o quanto determinada despesa nos afeta, e pesar o quão faz falta aquele recurso gasto”, explica.
O especialista da Warren reforça que o ato de fazer os registros financeiros “nos prepara psicologicamente para cortar determinados gastos que dificilmente abriríamos mão”. “Como uma redução no padrão de vida. É difícil diminuir esse padrão, mas é mais difícil ficar sem dinheiro”, comenta.
Hora de fazer um pente fino nos gastos
A dica de anotar tudo para não ver a situação financeira afundar também é válida mesmo para quem tem reserva de emergência. Nos primeiros sinais de que pode faltar dinheiro no final do mês, a assessora de investimentos Luciana Ikedo, sócia no escritório RV4 Investimentos, diz que é preciso identificar o motivo de a grana estar ficando mais curta que as necessidades gerais.
“O crucial é entender se houve um fato pontual ou se o nível de gastos passou para outro patamar”, sugere. “Avalie o que é essencial e o que não é e se tem algo a ser cortado. Outro ponto interessante é revisar também os hábitos diários e perceber se houve alguma mudança recentemente que possa ter gerado esse déficit”, sustenta.
Como usar a reserva com inteligência
Imprevistos acontecem e trazem apertos financeiros na vida das pessoas. Nesses casos, o economista André Schneider avalia que não há problema em tirar recursos da reserva de emergência – ou não poupar em um período de dificuldades.
“Os recursos estão sendo guardados justamente para isso”, destaca. “Mas é muito importante que essas retiradas não se tornem habituais. Elas estão lá apenas para situações de ‘emergência’, como o próprio nome diz”, acrescenta.
Na mesma linha, Luciana Ikedo considera que está tudo bem acessar a reserva de emergência se houver uma situação inesperada. Quais? “Como em caso de doença, reparo no imóvel em que a pessoa vive ou a quebra do veículo usado para trabalhar”, cita.
“Depois de resolvido o problema, comprometa-se a restituir o valor utilizado, como se tivesse feito uma dívida com você. Afinal, nunca sabemos quando a próxima emergência acontecerá.”
E os investimentos com isso?
Conforme a situação econômica piora, pode acontecer de a pessoa gastar a reserva de emergência sem conseguir reparar o que foi retirado. Este cenário pode ser um gatilho para que uma pessoa que tenha investimentos comece a se desfazer de ativos de sua carteira. Os especialistas, no entanto, reforçam que sacar investimentos deve ser a última alternativa para sair do sufoco financeiro.
“Fechar recorrentemente o orçamento no vermelho e ao não fazer a rota de correção, as reservas vão sendo consumidas. Isso pode ser muito preocupante, pois quando chegar ao final, a pessoa estará caminhando diretamente para o endividamento”, alerta a sócia do RV4 Investimentos.
Investimento não é supérfluo
André Schneider, da gestora Warren, frisa que é importante compreender os investimentos (e as reservas), não como supérfluo (“aplicar o que sobrar”), mas como uma conta importante a ser paga pensando na estabilidade financeira.
“Investir para uma reserva financeira, e depois para planejar sua aposentadoria e realizações pessoais, deve ser um custo fixo em todo orçamento familiar”, indica. “Infelizmente não temos ainda maturidade financeira em nossa sociedade para chegar nesse ponto, mas para criarmos isso, devemos iniciar essa postura de responsabilidade financeira dentro de cada um”, argumenta.
“Investimento é o tipo de coisa que se você não tem, você não sente falta. Mas a partir do momento que você cria uma reserva, aquilo te dá uma sensação de segurança financeira tão boa, que você sente necessidade de manter sempre uma reserva de segurança e começa a ter prazer em ter dinheiro investido”, completa.