Como montar uma carteira de longo prazo?

É difícil, mas é importante ter uma estratégia financeira para daqui a alguns anos
Pontos-chave:
  • Ações de empresas com potencial de crescimento podem ser uma boa opção
  • Quanto mais tempo você tem, mais risco você pode correr, respeitando seu perfil

Provavelmente, você deve se perguntar muito mais sobre como vai conseguir fazer o dinheiro render até o próximo salário do que fazer planos financeiros para daqui a 10 anos. Mas veja: é importante investir pensando no longo prazo. Muitos sonhos exigem um planejamento financeiro, como comprar um imóvel, abrir um empreendimento ou garantir renda extra na aposentadoria. A chave para atingir seus objetivos daqui a algumas décadas é escolher o melhor ativo financeiro do mercado de acordo com o seu perfil e objetivo, além de estar atento à hora certa de trocar a carteira. Fácil escrever, nem tão simples de executar. Mas vamos te orientar.

O que é longo prazo nos investimentos?

Em países estáveis, o longo prazo é, de fato, longo. Nada com menos de 10 anos é considerado muito tempo. Por quê? Justamente por conta da estabilidade econômica. Como não há sustos, as vidas podem ser planejadas por muito mais tempo. Já em países instáveis e emergentes, como o Brasil, qualquer coisa acima de cinco anos – talvez até menos – é considerado um projeto longevo. De qualquer forma, você deve definir seu prazo, levando em consideração seus objetivos com o dinheiro e o tamanho do risco que queira correr. Prazo definido, seja fiel a ele.

 Tenha objetivos claros 

Ter liquidez diária, baixíssimo risco e alta rentabilidade é um tripé difícil de alcançar até no curtíssimo prazo. O economista e analista CNPI Fabio Louzada reforça que é preciso ter objetivos muito claros nos investimentos. Para o longo prazo, a recomendação é optar por um investimento com liquidez baixa (já que você não vai sacar a grana tão cedo), risco que varia de médio para alto (porque você pode ter um retorno melhor e, em caso de perdas, dá tempo de recuperar) e com potencial de rentabilidade alto.

“Se o investidor tem esses objetivos, fica muito mais fácil compor o portfólio. Ele vai conseguir ter uma cabeça de longo prazo e jogar com seus investimentos”, afirma Fabio Louzada. “Então eu corro riscos, mas com um retorno mais promissor do que se eu pensar somente no curto prazo.”

Onde investir pensando no longo prazo?

Também chamado de Nota do Tesouro Nacional série B, ou NTN-B, o Tesouro IPCA + é um título público que oferece rentabilidade acima da inflação. Investir em títulos atrelados à inflação é uma forma de garantir o ganho real, preservando o poder de compra. É o ganho de verdade, já que não adianta investir em um ativo que oferece 7% de rentabilidade se a inflação está a 10%. Se o título render IPCA 6%, significa que o retorno financeiro estará 6% acima da inflação vigente.

Ao contrário da NTN-B, que paga juros semestralmente, a NTN-B Principal tem maior duração. Por isso, oferece rendimentos maiores, retirados como um todo na data de vencimento do título. É, portanto, indicado para uma aplicação de longo prazo.

Lembrando que o Imposto Renda irá incidir sobre o lucro obtido e as taxas variam de 22,5% a 15%, dependendo de quanto tempo o dinheiro fica alocado no título.

Atenção à marcação a mercado

Por se tratar de um título público, os riscos envolvidos são menores. Fabio Louzada explica que o risco desse investimento está na eventual necessidade de retirar o dinheiro investido antes do prazo, graças à marcação a mercado. Se um título foi prefixado a 10% ao ano e hoje o mercado estiver pagando 14%, o título perdeu valor. Mas se, por outro lado, o mercado estiver pagando 6%, teríamos um bom negócio. Resgatar o título antes do vencimento implica arriscar entre ter prejuízo ou ganho.

Fique de olho nas pequenas empresas

É pouquíssimo provável que empresas líderes em seus setores dobrem de tamanho ao longo do tempo. Isso porque as blue chips já atingiram seu patamar de estabilidade. Já as small caps, aquelas com ação negociada em Bolsa mas que ainda são consideradas de pequeno prote, são, em tese, mais promissoras e tendem a multiplicar seu valor de mercado com o tempo. “Investir no Banco Inter é diferente de investir no Bradesco, só que o potencial do Inter é muito maior para dobrar ou triplicar de tamanho”, afirma Louzada. No primeiro trimestre de 2022, o Inter teve crescimento acima de 80% da base de cliente. Entre os gigantes não haveria espaço para isso.

Como sempre, é importante ficar de olho nos riscos. “Se você não analisar a empresa em que você está investindo, seu dinheiro pode valer muito pouco lá na frente”, alerta o economista. Pensando no longo prazo, é primordial estar sempre analisando os relatórios trimestrais.

Planos de previdência para o futuro  

O plano de previdência Vida Gerador de Benefícios Livre, ou VGBL, também é outra opção para investidores de longo prazo que buscam uma alternativa ao INSS. Em relação ao Plano Gerador de Benefício Livre, o PGBL, a primeira opção é para quem faz a declaração simplificada do IR, que irá incidir sobre os lucros – 10% a partir do décimo ano da aplicação pela tabela regressiva. 

Uma boa vantagem do VGBL é a portabilidade. É possível solicitar a mudança de uma instituição para outra sem precisar fazer o resgate do dinheiro nem perder a contagem do tempo desde o início do investimento. Isso não é possível para o Tesouro IPCA +, por exemplo, nem para CDBs. Nesses caso, seria necessário resgatar toda a grana investida, pagar um imposto maior pelo resgate feito antes do vencimento, e aí sim alocar num novo título contando o tempo do zero, o que é extremamente desvantajoso. 

Na previdência privada, o investidor deve escolher um fundo para aplicar o dinheiro. Isso acarreta o pagamento de taxas para a equipe gestora do fundo e é uma das principais desvantagens desse tipo de alocação. Outro problema é a falta de proteção do FGC

Quando é a hora de mudar a carteira?

Não é porque seus investimentos de longo prazo serão sacados daqui a 30 anos que você pode ignorá-los até lá. Fábio Louzada afirma que a carteira tem sempre que ser revista pelo simples fato de que a economia muda o tempo todo, ainda mais em um país imprevisível como o Brasil. A promoção no emprego, uma demissão, uma crise econômica, a chegada de um filho, um casamento: tudo isso pode impactar a sua carteira.

Se o investidor aloca 10% da receita no mercado Chinês, por exemplo, e o país entra em crise econômica ou se envolve em uma guerra, é hora de mudar para um mercado mais estável. “Então mesmo olhando pro longo prazo, você precisa sim estar atento a sua carteira e principalmente quando muda o cenário, seja o cenário econômico ou seja o seu cenário”, conclui.

Colaborou Anne Dias