Por que tanta gente (ainda) investe na caderneta de poupança?
De cada cinco investidores, um tem dinheiro na caderneta, ainda que o rendimento perca para a inflação
Se você já procurou conteúdos sobre investimentos, certamente ouviu dizer que a caderneta de poupança é um mau negócio, que há outras opções mais rentáveis e que o primeiro passo para “fazer seu dinheiro trabalhar para você” é tirá-lo da poupança. Mesmo com esses argumentos, a poupança continua sendo um dos investimentos mais procurados pelos brasileiros. Um levantamento da Anbima feito em setembro deste ano mostrou que 22,2% dos investidores tem dinheiro depositado na caderneta.
O que explica a popularidade da poupança?
Um dos fatores que explica a alta adesão à poupança é que muitos bancos oferecem contas vinculadas com a aplicação quando o dinheiro fica parado. É uma prática antiga do mercado, mas ainda muito comum. Além disso, a poupança é isenta de taxas e de Imposto de Renda, o que faz brilhar os olhos de muita gente.
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Outro motivo do alto índice de adesão ao investimento é a falta de acesso à informação. “Se as pessoas fizessem contas e buscassem informações sobre outros produtos, ficariam mais confiantes e sairiam da poupança”, avalia Michael Viriato, sócio da Casa do Investidor, escritório de agentes autônomos.
O fator psicológico ainda pesa na escolha pela caderneta. “As pessoas costumam investir no que conhecem, entendem e, principalmente, confiam, e a poupança cumpre esses três papéis. Pessoas com menor educação financeira geralmente investem em coisas que trazem segurança”, explica Henrique Castro, professor de finanças da FGV EESP.
Opções mais rentáveis e tão seguras quanto a caderneta
A poupança ainda é a favorita porque passa segurança aos investidores. Porém, outros instrumentos são mais rentáveis e tão seguros quanto o investimento.
Uma alternativa é o CDB, investimento que vem ganhando espaço na renda fixa. O ativo é uma forma de emprestar dinheiro a um banco em troca de juros. Esse instrumento oferece rentabilidade até 5,5% maior que a inflação ou um pouco acima da Selic. O investimento pode ser de curto a longo prazo, tudo depende do papel escolhido. Para quem tem medo, não precisa se preocupar: os investimentos inferiores a R$ 250 mil são protegidos pelo FGC.
Ainda no campo dos títulos privados, temos as Letras de Crédito Agrícola e as Letras de Crédito Imobiliário, que são títulos emitidos para financiar projetos no campo ou no setor imobiliário. Todos também são protegidos pelo FGC.
Para quem não quer investir em dívida privada, pode escolher títulos da dívida pública. O Tesouro Direto é um jeito fácil de investir em instrumentos atrelados à inflação (IPCA) ou à taxa básica de juros (Selic) com aplicações a partir de R$ 30. “O investimento no Tesouro Direto é tão seguro quanto a poupança e serve para investimentos de curto a longo prazo”, afirma Henrique Castro, da FGV.
Investimento (por enquanto) não supera a inflação
O rendimento da poupança perde para a inflação. Isso significa que ao deixar seu dinheiro nessa aplicação, ele perde valor – as coisas vão ficando mais caras e seu dinheiro não acompanha a alta dos preços. A poupança rende 70% da Selic enquanto a taxa está abaixo de 8,5% ao ano. Com a Selic a 7,75% ao ano, a poupança rende 5,42% ao ano, valor bem abaixo da inflação que vimos nos últimos meses. Nos 12 meses até outubro, a inflação acumulada foi de 10,67%.
A poupança pode voltar a ter ganho real apenas no ano que vem. Isso porque a Selic deve subir para 11%, segundo estimativas do mercado financeiro, e quando a taxa está acima de 8,5%, a remuneração da poupança passa a ser de 0,5% ao mês, o equivalente a 6,17% ao ano. Com as previsões de inflação chegando a 4,63%, a poupança pode, finalmente, ter rendimento real.
Apesar das previsões, uma coisa não muda: até que uma provável mudança de cenário aconteça, a poupança continuará como o investimento menos rentável da renda fixa.