Aumento do piso salarial de enfermagem afeta as ações de Hapvida (HAPV3), Rede D’Or (RDOR3) e Qualicorp (QUAL3)?
Reajuste está no radar do mercado desde que começou a tramitar no Congresso
O setor de saúde na bolsa de valores passou o mês de março enfermo. Três das cinco ações com pior desempenho mensal no Ibovespa foram de empresas de capital que administram hospitais ou planos de saúde: Hapvida (HAPV3), Rede D’Or (RDOR3) e Qualicorp (QUAL3).
Agora, com a aprovação dos créditos para o piso salarial dos profissionais de enfermagem pelo Congresso na quarta-feira (26), essas ações devem sofrer ainda mais impacto negativo. Pelo menos é no que acreditam os analistas de mercado.
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De olho nos próximos balanços, analistas ouvidos pela Inteligência Financeira dizem que a aprovação do novo mínimo salarial para profissionais de enfermagem pode abrir um rombo ainda maior nos custos operacionais das empresas.
Como estão Hapvida, Rede D’Or e Qualicorp não vivem bom momento na bolsa
Hapvida, Rede D’Or e Qualicorp estão patinando na bolsa desde março, quando os papéis dessas empresas apareceram no ranking de piores desempenhos do Ibovespa. HAPV3, RDOR3 e QUAL3 despencaram 37,46%, 15,85% e 12,92% no mês passado, respectivamente.
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Em comum, além da queda na bolsa, as três decepcionaram investidores ao divulgarem seus balanços do quatro trimestre do ano passado.
Isso porque o setor, em geral, enfrenta uma onda de sinistralidade que compromete margens de lucro bruto e gera dificuldades operacionais para empresas com planos de saúde de atendimento clínico e odontológico ou hospitais.
Porém, desde abril as ações de Rede D’Or e Qualicorp ensaiam uma recuperação – ainda que bem menor do que as perdas. RDOR3 cresceu 8,03%, enquanto QUAL3 subiu 2,76%.
Por outro lado, Hapvida consolidou a queda de -4,06%.
Efeitos em HAPV3, QUAL3 e RDOR3 estão no radar do mercado
O aumento do piso salarial da categoria está no radar do mercado desde que começou a tramitar pelo Congresso. A Faria Lima aguarda para saber quais seriam os possíveis efeitos da medida no balanço das empresas de saúde na bolsa.
O mês de março teve mais volatilidade que o normal no Ibovespa, o que explica em parte o mau desempenho das ações de operadoras de saúde e hospitais, destaca Heitor De Nicola, especialista em renda variável e sócio da corretora Acqua Vero.
Na visão de Nicola, o piso não deve prejudicar tanto as ações de Hapvida, Qualicorp e Rede D’Or porque o foco operacional destas empresas são os grandes centros urbanos.
“Essas companhias que têm instalações em grandes capitais já tem uma folha salarial realmente acima do piso”, diz o especialista.
Portanto, o impacto do reajuste não deve ser sentido em um primeiro momento — aliviando as ações das três.
Já na análise de Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset, as ações Rede D’Or, Hapvida e Qualicorp já vêm sendo precificadas pelo mercado, considerando o piso, desde dezembro. Mais um motivo, somado aos resultados decepcionantes, para uma queda forte nos papéis.
Apesar de concordar que empresas maiores que operam em capitais como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG) serão menos afetadas, Gonçalves explica que aumentar os salários pode reduzir a margem de Ebitda e, por consequência, o lucro.
“O lucro é o principal objetivo. Assim como os investidores estão atentos ao rendimento líquido, eles também procuram Qualicorp, Rede D’Or e Hapvida pela distribuição de proventos. Se lucro cai, pode cair também a distribuição de juros sobre capital próprio e dividendos. Isso provoca fuga dos investidores, o que, por sua vez, gera queda nas ações”, diz.
Fique de olho no aumento nos medicamentos
Outro fator a ser considerado pelo mercado ao analisar Hapvida, Rede D’Or e Qualicorp é o possível aumento do preço dos medicamentos.
Para este ano, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) fixou o teto de reajuste em 5,6%.
O que não significa que os preços devem aumentar no percentual máximo e nem que o consumidor verá os preços subirem imediatamente após o anúncio.
Mas o reajuste pode configurar despesas mais altas para as empresas. Especialmente operadoras e comercializadoras de seguros, como Hapvida e Qualicorp. E o custo pode, no final da ponta, ser repassado para o consumidor.
“Para empresas que fornecem os planos, o aumento de preços pode influenciar o reajuste anual dos planos”, diz Nicola. Se as empresas repassarem os custos, não devem sentir impacto negativo no patrimônio.
Hapvida: mais risco e uma oportunidade
Especialistas concordam que Hapvida deve sofrer mais o impacto do piso de enfermagem do que Qualicorp ou Rede D’Or.
Por quê? Porque a operadora de saúde, a maior do brasil com cerca de 15 milhões de beneficiários, é mais atuante na região Nordeste e, sobretudo, longe de centros urbanos.
Diferente de suas concorrentes na bolsa, a companhia está mais sujeita a realizar reajustes de salário, o que pode pesar no balanço.
“De todas, o impacto do piso de enfermagem deve ser maior em Hapvida”, diz Nicola, da Acqua Vero. “Mas de novo precisamos ver qual será o grau desse impacto e em qual área ele será mais significativo”, complementa, lembrando que a Rede D’Or tem operações fora do eixo Sudeste.
Por outro lado, pontua Gonçalves, a Hapvida ainda tem bons números a seu favor, mesmo com um balanço mal-recebido pelo mercado. As aquisições recentes da empresa, como a da Notre-Dame Intermédica, podem dar fôlego aos papéis.
“Se você tem uma queda com bons números, para nós, a empresa tem um potencial maior de upside. Vou dizer HAPV3 é a ação do setor de saúde que tem mais chance de valorização. Elas têm mais expectativa de melhoria para os preços em comparação com as outras”, afirma.
Mas a Faria Lima ainda não espera alta nos balanços da maior segura de saúde do país.
“Esperamos mais um trimestre fraco marcado principalmente por sinistralidade, na casa de 60 bps na comparação trimestral”, diz Nicola. As margens de lucro devem de estabilizar, com receita líquida crescendo — a melhora de Hapvida será gradual — diz o investidor.
Mercado aguarda balanços
Com um olho no piso de enfermagem e o outro na próxima temporada de resultados, o mercado está a espera de um trimestre ainda fraco, mas melhor do que o anterior para as três empresas principais de saúde na bolsa.
De acordo com Fabrício Gonçalves, da Box, Rede D’Or, Hapvida e Qualicorp vem patinando no Ibovespa desde o fechamento de março. O investidor aponta que:
- QUAL3 fechou o pregão do mês passado em R$ 3,78. Nesta quarta-feira está sendo negociado a R$ 3,78),
- HAPV3 fechou 31/03 a R$ 2,62 e agora está precificada a R$ 2,56
- RDOR3 foi de R$ 21,24 no último pregão de março para R$ 23,18.
“Os investidores estão esperando os balanços do 1º tri”, comenta.
Por sua vez, analistas já precificaram uma situação privilegiada para Rede D’Or, porque ela deve ser menos afetada pela sinistralidade.
Após a sanção de Lula, a lei do piso da enfermagem ganha trâmite acelerado no Congresso para aprovação.
O mercado já precificou a aprovação. Falta às empresas responder aos acionistas como absorver um possível aumento de custo operacional.