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Investimentos têm impacto na diversidade e podem reduzir a desigualdade
Em 20 de novembro celebramos o Dia da Consciência Negra no Brasil, data dedicada à reflexão de todos sobre a importância e valor da comunidade negra para a sociedade brasileira. Uma ocasião que deve ser de proposição do diálogo e conscientização, mas principalmente à mobilização por mudanças e de combate à discriminação.
O nosso país é marcado pela desigualdade em todos os níveis. Além da desigualdade racial, temos a econômica, da saúde, educacional e de gênero.
A desigualdade é um mal que aflige muitas nações e traz muitas mazelas para a sociedade no geral, causando sofrimentos para muitas pessoas, fome, ausência de assistência médica, falta de educação, moradia e tantos outros males.
Por outro lado, muitas vezes deixamos de perceber a desigualdade provocada pela discriminação no ambiente financeiro e de negócios.
Discriminação no crédito
No mundo financeiro podem ocorrer várias formas de discriminação, particularmente podemos verificar essa situação na concessão de crédito.
Obter crédito para investir em negócios próprios ou para crédito pessoal é uma atividade essencial para o desenvolvimento de uma economia. Assim, trata-se de prática que deve ser calcada em critérios objetivos e que sejam capazes de eliminar qualquer tipo de viés ou discriminação.
Em tese, os melhores projetos ou escores de crédito é que devem ser privilegiados. Isto num mundo ideal e que não houvesse desigualdades.
No entanto, podemos perceber que a discriminação existe.
As instituições financeiras têm liberdade de recusa de concessão de crédito garantida por leis. Mas, muito claro, que recusar empréstimos ou financiamentos deve ocorrer com bases objetivas como o histórico negativo de pagamentos, falta de capacidade, histórico legal, informações incompletas ou falsas, endividamento elevado, entre outros itens.
Mas nunca por fatores discriminatórios.
Conhecer os reais motivos de recusa de crédito por parte de instituição financeira é sempre difícil. Porém, há indícios que devem ser observados e que mostram que vieses podem ocorrer.
Obstáculos no caminho
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae e pela FGV, de 2022, sobre o impacto da pandemia nos pequenos negócios mostrou que a queda no faturamento e dificuldade para acessar crédito trouxe dificuldades adicionais ao empreendedorismo negro. Segundo a sondagem, entre os negros donos de pequenos negócios que procuraram crédito naquela época, 47% tiveram os seus pedidos recusados, contra 34% dos empreendedores brancos.
Outro estudo realizado pela PretaHub, denominado “O Empreendedorismo Negro no Brasil 2019”, indicou que 32% dos empreendedores negros já tiveram o crédito negado sem qualquer explicação.
Situações que ocorrerem mesmo a nossa legislação prevendo objetivamente que qualquer processo, ação ou atitude anuladora ou restritiva devido a raça, cor, descendência ou origens é considerada discriminação racial, como previsto no Estatuto da Igualdade Racial.
Contudo, a discriminação no crédito não é mais uma jabuticaba brasileira, mas, é algo que pode ser visto em outros países.
Punição e reparação
No começo de novembro deste ano, o Consumer Financial Protection Bureau (CFPB), uma agência do governo dos EUA dedicada a garantir que todos sejam tratados de forma justa por bancos, credores e outras instituições financeiras, determinou que o Citi pagasse US$ 25,9 milhões em multas e reparação aos consumidores por discriminar intencionalmente e ilegalmente os candidatos de cartão de crédito que o banco identificou como armênio-americano.
De 2015 a 2021, mostram as investigações, o Citi praticou discriminação de candidatos a certos produtos de cartão de crédito, com base em seus sobrenomes, que suspeitava serem de ascendência armênia. Os executivos do banco instruíram os funcionários a não discutir as práticas discriminatórias por escrito ou em linhas telefônicas gravadas.
Os funcionários também mentiram sobre a base da negação, fornecendo motivações falsas aos candidatos negados. Na determinação do CFPB, o Citi pagará US$ 1,4 milhão aos consumidores prejudicados, além de uma multa de US$ 24,5 milhões.
É essencial que as autoridades reguladoras estejam atentas a essas questões de discriminação, qualquer que seja a motivação. Por seu lado, as instituições financeiras devem adotar práticas justas e transparentes na concessão de crédito.
Por sua vez, os consumidores têm papel vital na promoção da igualdade denunciando suspeitas de discriminação.
Racismo nos negócios
As estatísticas apontam que os investimentos dedicados a empresas com práticas ESG estão crescendo em todo mundo. Tanto é verdade que os fundos de investimentos colocam há anos essa questão em suas estratégias.
Podemos observar facilmente que as empresas buscam realizar ações concretas na direção das questões climáticas, mas isso não ocorre com tanta força no aspecto de governança e, menos ainda, no aspecto social, particularmente, quando falamos de inclusão.
Vários estudos nacionais e internacionais com base em análise de conteúdo mostram que as empresas admitem como de grande importância e com benefícios para os negócios as boas práticas de governança, sustentabilidade e temas correlatos.
No entanto, a despeito de ser algo presente no discurso das empresas, nem sempre se transforma em prática efetiva.
Um exemplo é a barreira social denominada “Glass Ceiling”, termo usado coloquialmente para representar a dificuldade de as mulheres serem promovidas a cargos de topo na gestão. Nos EUA, as mulheres são 56,8% da força de trabalho, mas ocupam apenas 29,1% dos cargos executivos, segundo o U.S. Bureau of Labor Statistics.
No caso racial a questão ainda é pior. Relatório de 2023 da Edelman Trust Barometer dá conta que 69% dos entrevistados estão preocupados com o racismo sistemático e da injustiça racial.
Além do que poucos funcionários confiam em dizer a verdade aos seus CEOs sobre racismo e outros problemas de diversidade, igualdade e inclusão dento de suas organizações.
Nos conselhos das empresas brasileiras a diversidade ainda está distante do ideal. Pesquisa divulgada neste ano pela parceria entre ABRH-SP, IBGC e Sistema B, apresenta que 77% das empresas pesquisadas não têm metas para ampliar a participação de negros na liderança, seja no conselho ou na diretoria, além de não haver menção alguma sobre a mulheres negras ocupando algum desses espaços.
No Brasil, o Índice de Equidade Racial Empresarial (IERE), publicado pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, mostra que nos cargos de diretoria e conselhos os homens negros representam hoje apenas 3,3%, enquanto as mulheres negras representam 0,8%.
Esses e outros levantamento mostram que, mesmo buscando atender as questões de atenção ESG, as empresas não estão atentas à questão da diversidade, particularmente a da inclusão racial.
O que eu posso fazer?
Essa pergunta surge naturalmente nas nossas cabeças.
Uma primeira resposta pode vir do fato de que os investidores estão mais interessados em fazer investimentos de impacto, principalmente aqueles que beneficiam as pessoas negras.
Pode-se reconhecer que investimentos de impacto e/ou que atendam efetivamente o ambiente ESG trazem consequências sobre a discriminação social.
Nós podemos investir diretamente em organizações e empresas que buscam impactar a sociedade com ações inclusivas. Mas podemos também colocar dinheiro em fundos que tenham esse viés.
Inclusive, participando de reuniões e votando para que o investimento do fundo seja dedicado a empresas com essas práticas. Por sua vez, os fundos acabam provocando as empresas a buscarem melhor gestão na direção da inclusão e diversidade.
As empresas também obtêm benefícios desse movimento. Há evidências de que uma força de trabalho mais diversificada pode levar a uma maior lucratividade corporativa.
O fato é que a maneira que decidimos investir nosso dinheiro pode provocar mudanças na sociedade. Tenha certeza de que você pode fazer a diferença.
O ex-presidente americano Barack Obama, quando da visita ao Brasil em 2017, disse uma frase de muito impacto e importância.
“A diversidade é uma fonte de força. Não é caridade. Não é a coisa certa a se fazer. É a coisa inteligente a se fazer”.
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