Investir em ESG: como não ser enganado na hora de comprar títulos verdes

Veja como avaliar os ativos e construir uma estratégia para aplicar o dinheiro com segurança

Dois temas que ganharam muita atenção nos últimos anos e estão se tornando cada vez mais importantes no mundo dos investimentos são os dedicados a ESG (Ambiental, Social e Governança) e o Investimentos de Impacto.

Enquanto modismos financeiros envolvem comportamentos de manada e impulsividade na busca de ganhos rápidos, o foco em ESG e Investimentos de Impacto tem bases mais sólidas e duradouras.

São oportunidades de investimentos enraizadas em preocupações reais com o bem-estar do planeta e da sociedade, além de refletirem a mudança de mentalidade dos investidores em direção a abordagens mais sustentáveis.

Ao contrário dos modismos financeiros típicos, a conscientização sobre as questões ESG e os investimentos de impacto está impulsionando uma mudança mais profunda e duradoura na maneira como as pessoas e as instituições consideram seus investimentos.

Observe que investimento de impacto não é a mesma coisa que investir em ESG.

Qual a diferença entre os dois?

Muita gente confunde Investimento de Impacto como Investimento em ESG. São duas abordagens distintas, mas relacionadas a investimentos sustentáveis.

Investir em ESG é aplicar recursos em ações, fundos e/ou diretamente em empresas que tem práticas e projetos voltados a sustentabilidade do meio ambiente, com melhores níveis de governança e com cuidados em relação a responsabilidade social.

O Investimento de Impacto é um tipo de investimento focado em atividades que tragam benefícios para a sociedade, sem deixar de visar o lucro. O objetivo é fazer dinheiro ajudando o planeta.

São investimentos em saúde, educação, crédito para minorias, energia limpa, e várias outras oportunidades. Significa investir em empresas que buscam conciliar a obtenção de resultados econômico-financeiros à geração de impacto social que seja quantificável.

Segundo estimativas do Global Impact Investing Network (GIIN), o tamanho do mercado mundial de investimento de impacto em 2022 era de US$ 1,16 bilhão dólares.

ESG como estratégia

A pessoa investidora que foca em ESG não somente está alocando recursos em negócios e projetos sustentáveis e socialmente responsáveis que buscam soluções boas para todos e que tendem a ter maior competividade no longo prazo. Permitindo, assim, uma melhor observação da relação risco e retorno porque permite aos investidores compreender como uma organização lida com riscos e oportunidades de forma sustentável.

O critério ambiental observa as práticas adotadas pela empresa para reduzir o impacto das suas atividades sobre o meio ambiente. O critério social considera a relação da empresa com a sociedade em geral e seus recursos humanos interno. O critério de governança, por sua vez, trata de como a empresa é administrada e da transparência e responsabilidade corporativa.

As companhias que trazem melhorias para a sociedade são mais bem vistas. Se um investidor puder escolher entre dois negócios com retornos similares, irá escolher por aquele que se apresentar como mais sustentável.

Atualmente, há a tendência de o investidor colocar dinheiro em negócios que tragam vantagens socioambientais. Empresas que causam danos ambientais ou fornecem um serviço que lucra em cima das mazelas humanas podem ser expostas na internet levando a perda de investimentos.

Segundo a Bloomberg Intelligence, o total global de ativos sob gestão de fundos ESG em 2016 era de US$ 22,8 trilhões, em 2022 esse valor era de US$ 41 trilhões e até 2025 deve ultrapassar US$ 50 trilhões.

Uma outra característica interessante desse tipo de investimento é que as empresas com fortes valores ESG são mais propensas a atrair e reter os melhores talentos, particularmente os millennials, que são muito preocupados em trabalhar em empresas que compartilham os seus ideais.

Estudos recentes mostram que o investimento em ESG traz impacto e pode trazer maiores retornos.

A força desse mercado provocou a criação dos Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede global independente de investidores apoiada pelas Nações Unidas, principal proponente mundial de investimento responsável. O PRI foi lançado em abril de 2006 na Bolsa de Valores de Nova York, começou com 100 signatários e hoje tem mais de 4.000.

Propaganda enganosa é risco

Por se tratar de um campo relativamente novo e com baixa regulamentação, sempre surgem dúvidas sobre se todo esse volume de dinheiro é aplicado corretamente. Há uma grande preocupação com a prática conhecida internacionalmente por greenwashing, que nada mais é do que propaganda enganosa do uso de práticas ESG.

São empresas que buscam recursos dizendo-se praticantes do ambiente ESG, mas na verdade não ações corretas de governança, nem de cuidado com o clima ou a questões socialmente responsáveis.

Com a intenção de regulamentar essa indústria e dar maior garantia ao investidor no sentido de que realmente o seu dinheiro está indo para empresas com boas práticas ESG, os organismos internacionais elaboram diretrizes para aumentar o grau de conformidade do setor.

Aqui no Brasil, desde janeiro de 2022, a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) adotou novas regras para fundos ESG e criou o sufixo “IS” para sua identificação.

A maior regulação traz mais segurança ao investidor devido a maior transparência e uma gama maior de indicadores selecionados que devem ser observados. De qualquer forma o investidor deve estar atento e buscar todas as informações sobre os fundos em que pretende aplicar o seu dinheiro.

Avaliação ESG

Existem diversas métricas ESG que ajudam na avaliação do desempenho de das empresas em relação a questões ambientais, sociais e de governança. Podem ser citados os exemplos:

  • Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), que avalia a pegada de carbono da empresa e seu compromisso com a redução das emissões;
  • Consumo de Água e Gestão de Resíduos;
  • Diversidade e Inclusão;
  • Ética nos Negócios e Anticorrupção;
  • Saúde e Segurança no Trabalho;
  • Gestão de Riscos e Compliance;
  • Estrutura de Conselho de Administração e Independência;
  • Compensação Executiva;
  • Transparência e Divulgação;
  • Inovação e Tecnologia Sustentável;
  • Relatórios de Sustentabilidade;

Além dessas métricas, existem agências de classificação de ESG e organizações de padronização que publicam índices que permitem aos investidores escolher indicadores com base em seus próprios critérios e metas de investimento.

Exemplos de índices

  • Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE): Criado pela B3. Trata-se de um índice que mede o desempenho das empresas em relação a questões ESG. Compõe o ISE as empresas que se destacam em práticas sustentáveis e responsáveis;
  • Carbon Disclosure Project (CDP): O CDP é uma organização sem fins lucrativos que mantém um sistema de pontuação de empresas com base em sua divulgação e desempenho ambiental;
  • Dow Jones Sustainability Index (DJSI): O DJSI é um índice composto por empresas líderes em sustentabilidade em todo o mundo;
  • Global Reporting Initiative (GRI): O GRI é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve padrões para relatórios de sustentabilidade corporativa;
  • Sustainable Accounting Standards Board (SASB): O SASB é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve padrões para relatórios financeiros sustentáveis.

Comprando um título verde com segurança

Como qualquer outro ativo financeiro, o investidor deve essencialmente buscar informações sobre aquele título e analisar com cuidado. Algumas condutas são importantes na hora de tomar decisões de compra:

  • Conheça as características dos títulos verdes e suas diferenças dos títulos comuns;
  • Verifique o emissor: pesquise cuidadosamente a instituição ou empresa que está emitindo os títulos verdes;
  • Leia o prospecto: contém informações detalhadas sobre os projetos ou iniciativas que serão financiados com esses recursos;
  • Certificações e selos: procure títulos verdes que tenham certificações ou selos reconhecidos, como o Green Bond Principles (GBP), o Climate Bonds Standard, entre outros;
  • Transparência e divulgação: verifique se o emissor apresenta informações claras e detalhadas sobre a utilização dos recursos e qual o impacto ambiental será medido e relatado ao longo do tempo;
  • Avaliação de risco: considere os riscos financeiros e ambientais.

Por outro lado, não se esqueça das práticas usuais de qualquer investimento como:

  • Diversificar a carteira;
  • Consultar especialistas e sites de fontes oficiais;
  • Monitore a evolução de suas aplicações;
  • Em relação a estes títulos em particular, fique atento a sinais de greenwashing.

Há muito a crescer

Basta observar certas tendências mundiais importantes, como a crise climática, a desigualdade socioeconômica, a disparidade de gênero, a injustiça racial e outras crises que colocam grandes desafios para os governos e a sociedade em geral para que tenhamos a certeza de que ainda há muito espaço para investimentos no ambiente ESG e de Impacto.

Somente para atender os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU serão necessários US$ 2,5 trilhões até 2030.

O caminho é que nós façamos escolhas por empresas que ajam dentro do moralmente necessário e no que deve ser feito. Lançando mão de Kant que diz que agir por dever é dar à ação o seu valor moral, mas que só atinge a perfeição moral quando exercida por livre vontade.

Nada como fazer o certo! O retorno virá com um ambiente melhor, mais sustentável, enfim de várias formas, inclusive a financeira.