Por que essa é a hora de falar sobre diversidade e inclusão de pessoas negras?

Dirlene Silva, colunista da Inteligência Financeira, fala sobre o potencial inclusive econômico da equidade racial; hoje, apenas 29% das pessoas negras investem no Brasil

Há cerca de 5 anos, a pauta da diversidade e inclusão de fato entrou na ordem do dia. Assim, chegamos a mais um Dia da Consciência Negra com um caminho ainda a percorrer. Um caminho que reflete inclusive a demanda dos consumidores e um potencial de negócios.

Esse foi o cenário traçado por Dirlene Silva, economista, palestrante em diversidade e colunista da Inteligência Financeira. “Vamos olhar para o futuro. Temos um potencial enorme para explorar”, disse ela ao analisar os dados que mostram que grande parte da população negra ascendeu à classe média, mas que ainda estão fora, por exemplo, do mundo dos investimentos.

A economista citou dados da Anbima, que descobriu que apenas 29% das pessoas negras investem em produtos financeiros no Brasil. Por outro lado, entre brancos, esse percentual sobe para 37% dos entrevistados.

Dirlene conversou com cerca de 2 mil funcionários do Itaú Unibanco, entre participantes que estavam presencialmente e à distância, em um evento promovido pelo Pilar Raça, grupo que atua em prol da diversidade racial com funcionários da unidade de negócios PJ da instituição.

De acordo com Ubiratã Lima, um dos articuladores do grupo, dentre os objetivos do Pilar Raça estão abrir oportunidades, fornecer mentoria a profissionais e promover condições para a progressão profissional de profissionais negros.

Ubiratã Lima, articulador do Pilar Raça da BU PJ
Evento do Pilar Raça da área de PJ do Itaú, que promove oportunidades para profissionais negros. Foto: Patrícia Mulinari

Inclusão traz benefícios para vidas e negócios

Na primeira parte da sua apresentação, Dirlene Silva contou a sua trajetória. A colunista da Inteligência Financeira relembrou passagens da sua infância e adolescência, quando perseguiu o sonho de se tornar economista apesar das adversidades.

Ela fez um relato emocionante de como foi enfrentar bullying na escola particular onde estudou com bolsa, depois o trabalho para pegar os estudos universitários em época de hiperinflação e por fim a vida profissional, onde vivenciou o fato de ter encontrado poucas pessoas negras nos lugares por onde passou.

Então, ela também falou sobre o cenário de transformação dos últimos anos, após um longo período de poucos avanços. Entre fatores, ela celebrou o fato de que hoje 50,3% dos estudantes de universidades públicas no Brasil são pessoas negras. Dirlene conta que foi “atravessada” pela pauta da diversidade, instada a se colocar e falar sobre o assunto pela sua trajetória de sucesso.

A profissional analisou o potencial da inclusão, citando diversos números que apontam que empresas que investem em diversidade obtém ganhos concretos, inclusive financeiros, quando seguem pelo caminho da inclusão.

Entre os dados mencionados pela especialista estão:

  • 35% de chance de rendimentos acima da média do setor nas empresas que fomentam a diversidade (McKinsey)
  • 17% de engajamento maior em times em que a diversidade é reconhecida (Harvard Business Review)
  • 50% de conflitos reduzidos nas empresas que têm times plurais e diversos (Harvard Business Review)
  • 11 vezes mais. Empresas inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras (Accenture)

O que querem os jovens profissionais

Contudo, Dirlene Silva lembrou aos presentes que hoje há novos hábitos de consumo e de vida profissional, com uma nova geração que busca consumir e atuar em empresas diversas.

“Os jovens querem trabalhar em empresas que têm propósito e dão valor à diversidade”, defende. “Se eu continuar olhando só para aquela pessoa padrão, daqui a pouco eu não vou ter tanta gente para trabalhar pra mim nem para consumir meu produto. Hoje, se não me representa eu não consumo”, comenta.

Após a exposição, a economista respondeu a perguntas de participantes do evento do Pilar Raça e trocou experiências com os funcionários do Itaú Unibanco. O evento teve como lema Yibambê, termo que significa “mantenha-se firme” e se tornou célebre a partir do filme “Pantera Negra”.

Livros para refletir sobre consciência negra

Dirlene Silva apresentou três sugestões de livros para auxiliar na reflexão de quem busca saber mais sobre equidade racial e inclusão.

  1. “Como ser um líder inclusivo”, de Liliane Rocha;
  2. “Pequeno manual antirracista”, de Djamila Ribeiro;
  3. “Na minha pele”, de Lázaro Ramos.