Apostas esportivas: existe um jeito de tratar a sorte como investimento?

Bets e joguinhos online estão entre as maneiras de o brasileiro 'aplicar' para ganhar dinheiro

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) publicou recentemente a 7ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro 2024, trazendo os dados relativos a 2023. Esse levantamento permite traçar o perfil e o comportamento da população com relação às suas finanças.

Foram ouvidas 5.814 pessoas, com mais de 16 anos, sendo incluído o público economicamente ativo. Além de aposentados e inativos com ou sem renda, de todas as regiões do país.

Do total de pessoas entrevistadas, 71% trabalham e 84,6% têm renda. Sendo que 47% são da classe C, 29% da D/E e 24% da A/B, com uma renda familiar média mensal de R$ 4.072,00.

Nesse sentido, vale destacar que 63% dos pesquisados disseram que não fazem investimentos (cerca de 101 milhões de habitantes). Embora 30% da amostra afirme que conseguiu economizar em 2023 (48 milhões de pessoas). Assim como aqueles que indicaram possuir conta em uma instituição financeira (85%).

Como sempre alguns dados chamam a atenção, particularmente quando comparamos com as edições anteriores. Entre as novidades, este relatório traz informações sobre o nível de estresse da população em relação às suas finanças e um levantamento sobre o uso de aplicativos de apostas esportivas online: as famosas bets.

Perfil de quem faz apostas esportivas

Um dos dados que deve ser destacado do levantamento Raio X 2024 mostra que 14% da população faz apostas online. Esse número está em linha com outras pesquisas no mercado brasileiro.

O fato é que nos últimos tempos fomos tomados pela mania das bets ou demais joguinhos online.

O Instituto Datafolha divulgou em fevereiro deste ano um levantamento mostrando que 15% da população brasileira já fez apostas esportivas online. O gasto médio mensal foi de R$ 263 por pessoa.

Mas, o que mais preocupa é que 22% dos apostadores acreditam estar fazendo um investimento financeiro. Acrescente-se maior preocupação porque as gerações jovens é que mais apostam – a geração Z (29%) e a dos millenials (18%).

Por outro lado, a geração que menos aposta é a dos boomers (63 anos ou mais). Entre os apostadores, 40% buscam ganhar dinheiro rapidamente, uma resposta óbvia.

Corinthians, Flamengo e mais

As apostas online movimentam um volume de dinheiro espantoso. Levantamentos trazem a previsão de que ainda em 2024 sejam injetados nesse mercado brasileiro ao redor de R$ 2 bilhões, entre o que será pago de patrocínio aos times de futebol e ao dedicado ao mercado publicitário.

Somente a Corinthians (Vai de Bet), Flamengo (Pixbet) e São Paulo (Superbet) serão pagos R$ 257 milhões.

A lei que regula esse mercado é de janeiro deste ano. As empresas têm até seis meses para sua regularização, atendendo diversas obrigações, tributos e outorga. Essa legislação deve trazer maior controle sobre os sites de aposta.

Em 2022, segundo o portal Statista, o tamanho do mercado de apostas esportivas e loterias em todo o mundo totalizou US$ 235,5 bilhões. As casas de apostas ficam entre 5% e 15% desse volume. Motivo pelo qual as apostas online despertam o interesse de todos, desde os clubes de futebol aos ministérios.

Dinheiro fácil

Um relatório da H2 Gambling Capital estimou que, em 2019, havia cerca de 1,6 bilhão de pessoas que apostavam regularmente em todo o mundo. Com cerca de 4,2 bilhões de pessoas apostando pelo menos uma vez por ano.

Um exemplo da força das plataformas de apostas é o caso da Bet365, uma das maiores bets, que em 2020 já tinha mais de 53 milhões de clientes em todo o mundo.

Maneiras de conseguir dinheiro fácil e rápido não é somente no mundo das bets. Mas há vários outros meios como loterias, raspadinhas, bilhetes premiados e até mesmo jogo do bicho.

Por que as pessoas apostam?

Há vários fatores sociais, psicológicos e culturais que podem explicar o grande interesse das pessoas em fazer apostas. Além da facilidade criada pelos sites online e, no caso brasileiro, a paixão pelo futebol.

No entanto, estima-se que de 60% a 80% dos apostadores em esportes perdem dinheiro.

Um estudo de 2020 da Universidade de Nevada descobriu que 76% dos apostadores esportivos perdem dinheiro no longo prazo. O estudo também descobriu que o apostador norte-americano esportivo médio perde US$ 2.000 por ano.

Há muitos que veem semelhanças entre apostar e investir porque envolvem de dinheiro e a expectativa de retorno, mas os fundamentos e objetivos são bastante diferentes.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Investir x apostar

A confusão entre esses conceitos ocorre porque ambos buscam retornos financeiros. Outro fator é que estar frente ao risco sempre foi algo do humano e o marketing das bets frequentemente utiliza linguagem e táticas que fazem suas ofertas pareçam investimentos legítimos.

A psicologia humana desempenha um papel significativo. A busca por emoção e o desejo de resultados rápidos podem levar as pessoas a confundir a natureza especulativa das apostas com a prática disciplinada dos investimentos.

O motivo principal dessa confusão é a falta de educação financeira. Muitos têm um conhecimento superficial sobre finanças e acreditam que qualquer atividade que possa gerar dinheiro pode ser considerada um investimento.

Pode ser investimento?

O real significado real de investimento é acumular recursos de maneira inteligente para poder:

  • Consumir com prazer;
  • Estar preparado para as emergências;
  • Resguardar-se para o futuro.

Acumular recursos inteligentemente exige:

  • Ter disciplina;
  • Fazer planejamento;
  • Conhecer investimentos.

Os investimentos são baseados em análises financeiras, dados de mercado e princípios econômicos. Não é possível acreditar que investir e ficar rico é possível do dia para noite.

Quero ficar rico

No entanto, a maioria das pessoas tem uma percepção errada sobre o que significa investir e muitos mantêm ilusões. Querer ficar rico do dia para noite é apostar, não é investir. As apostas se baseiam mais em probabilidades e sorte.

Entender essas diferenças é crucial para tomar decisões financeiras informadas e evitar confundir práticas especulativas com estratégias de investimento de longo prazo.

Há aquelas pessoas que gostam de fazer a sua fezinha de maneira responsável. Para esses deve-se possibilitar educação financeira, primeiramente deixando claro que esse tipo de gasto deve constar do orçamento familiar.

Além de prover suporte para as pessoas e regulamentação do mercado. O objetivo deve ser garantir que as pessoas possam desfrutar dessas atividades de forma segura e informada, minimizando os riscos de problemas financeiros e sociais.

Para quem gostam de fazer apostas

Mas, uma pergunta deve ser feita: qual o sentido de arriscar sabendo que há mais chances de perder?

Investir é uma maneira muito mais apropriada de assumir risco em relação ao seu rico dinheirinho.

O jogador tenta a riqueza instantânea e tem menos formas de mitigar o risco. O investidor busca minimizar o risco, ao mesmo tempo que maximizar o retorno. O tempo está a favor do investidor e não do apostador.

Hoje, uma aplicação no Tesouro Direto oferece ganhos acima de 6,8% ao ano mais a correção pelo IPCA, sem colocar o seu dinheiro em risco.

Para aqueles com maior apetite ao risco investir em ações pode trazer muitas emoções, mas com conhecimento e prazo os riscos podem ser reduzidos.

Investir é saber balancear risco e retorno, mas sem perder a emoção.

Perfil do investidor

Segundo outros dados da pesquisa da Anbima, as pessoas têm alto nível de estresse em relação as suas despesas (52%) e em relação a perda de suas fontes de renda (56%).

É importante marcar que o volume de investidores em produtos financeiros continua subindo, mas de maneira mais modesta nos últimos dois anos. O que pode ser explicado pelo cenário econômico ainda adverso.

O crescimento entre 2021 e 2022 foi de cinco pontos percentuais, mas no ano passado o total de brasileiros e brasileiras que investem em produtos financeiros ficou estável em 37%.

Sendo que mais da metade das pessoas da classe A/B investem, na classe C acima de um terço e na D/E uma em cada cinco pessoas.

A partir das respostas obtidas, foi possível traçar uma projeção otimista para 2024.

As perspectivas indicam aumento de quatro pontos percentuais no número de investidores em relação a 2023. Por outro lado, temos que cerca de 101 milhões de pessoas não investem, esse público é formado por 53% de mulheres, sendo que 68% trabalham e com renda familiar média de R$ 3.239,00, a maioria pertence as classes C, D e E, localizadas na região Sudeste em sua maioria.

Como o brasileiro investe

O perfil do investidor brasileiro é de homens (51%), 75% trabalham, 33% concluíram o ensino superior e 36% são das classes A/B, com renda familiar média de R$ 5.464,00. Esses investidores e as investidoras vivem, em sua maioria, na região Sudeste do país (52%), seguidos pelo Nordeste (20%), Sul (15%), Centro-Oeste (7%) e Norte (6%).

Outro destaque é a visibilidade dos bancos digitais e que estão sendo muito usados pela população, inclusive para investir. Os bancos tradicionais chegam a 69% da população.

A caderneta de poupança continua a ser o produto mais utilizado (25%) pela população, sendo 31% entre as classes A/B, o que também chama a atenção porque há produtos financeiros com baixo grau de risco e que trazem rentabilidade muito melhor.

Este levantamento traz a importância de uma comunicação correta e firme sobre retornos e riscos dos produtos financeiros ofertados, além da promoção da educação financeira.

Então, como investir?

Investir é algo muito importante em nossa vida, não resolve tudo, mas permite que tenhamos um melhor grau de bem-estar.

Portanto, algumas dicas são importantes para as pessoas lembrarem na hora do investimento:

  • Prepare seu orçamento familiar.
  • Planeje quanto será poupado por mês.
  • Adquira conhecimentos sobre o mercado.
  • Investigue. Não jogue o seu dinheiro no escuro.
  • Desconfie de dicas muito fáceis.
  • Desconfie de altas muito rápidas.
  • Comece aplicando pouco dinheiro.
  • Não se apaixone pelo seu investimento.
  • Tenha paciência.
  • Evite a opinião da massa.
  • Às vezes, fique fora do mercado por um tempo.
  • Não mantenha posições perdedoras.
  • Estipule um patamar máximo de perda.
  • Não ouça gurus de mercado, eles vendem ilusões e não investimentos.