Empresas citadas na reportagem:
Quatro varejistas europeias decidiram parar de comprar beef jerky — um snack de carne bovina defumada — que a JBS produz com a americana Jack Link’s no Brasil após receberem uma denúncia de que o negócio teria utilizado carne de gado criado em áreas desmatadas ilegalmente. Além disso, outras três varejistas decidiram mudar suas estratégias sobre o fornecimento de carne do Brasil e vizinhos da América do Sul para evitar “problemas”.
As decisões foram tomadas após as ONGs Repórter Brasil e Mighty Earth divulgarem às empresas de varejo denúncia de que o gado comprado pela JBS passou por fornecedores indiretos que teriam desmatado ilegalmente. As organizações também relataram casos similares nas cadeias da Minerva e da Mafrig, mas nenhuma varejista tomou medidas específicas quanto a elas.
As redes de varejo da Europa que decidiram tirar o beek jerky da JBS e da Jack Link’s das prateleiras foram o Carrefour da Bélgica, a rede Delhaize, também da Bélgica, a Albert Heijn, da Holanda, e a Aucham da França. A Albert Heijn também decidiu deixar de vender outras duas marcas, incluindo uma de carne dos pampas brasileiro e uruguaio. O beef jerky da JBS e da Jack Link’s é produzido nas plantas paulistas de Santo Antônio de Posse e Lins.
Além disso, a Lidl, da Holanda decidiu que, a partir de janeiro, vai parar de vender carnes de fornecedores da América do Sul. A britânica Sainsbury’s, por sua vez, comprometeu-se a retirar sua marca própria de carne enlatada do mercado brasileiro para garantir que a origem da carne que recebe seja avaliada como livre de desmatamento. Já o também britânico Princes, que deixou de comprar carne enlatada da JBS há um ano, disse que está revisando sua política para produtos brasileiros para levar em conta o desmatamento zero na cadeia de fornecimento.
O relatório das ONGs aponta, no caso da JBS, três casos de fornecedores indiretos que têm áreas embargadas pelo Ibama e dois fornecedores indiretos com déficit de reserva legal e de área de proteção permanente. O gado de alguns deles pode ter ido para a planta da JBS em Lins, e pode ter sido utilizada na produção de beef jerky.
As decisões contra o produto da JBS ocorrem num momento em que a gigante brasileira vem ampliando sua presença no mercado europeu. Nesta semana, a empresa avançou em charcutaria na Itália com a compra do Grupo King’s e, em setembro comprou a Kerry Consumer Foods, do Reino Unido e Irlanda.
A reportagem questionou as varejistas sobre qual fornecedor substituirá o produto que deixarão de comprar. O Carrefour disse que ainda não tem substituto, e o Princes disse não comentar relações comerciais. As demais não responderam.
Procurada, a JBS afirmou que o rastreamento dos fornecedores indiretos é um desafio não só seu, “como da cadeia produtiva da pecuária”, e que por isso está investindo em uma nova plataforma, com tecnologia blockchain, prevista para ser concluída até 2025.
A companhia disse que os fornecedores diretos citados no relatório estavam de acordo com sua política de compra e com o acordo com o Ministério Público Federal “no momento da compra”. A companhia afirmou que possui 77 mil fornecedores diretos e que já bloqueou mais de 14 mil por desacordo com suas políticas.
A JBS não comentou a decisão das varejistas europeias citadas nem comentou sobre a comunicação com seus clientes sobre a origem do gado que abate.