Vale é a única empresa brasileira entre as dez maiores pagadoras de dividendos do mundo

Acionistas dessas companhias receberam US$ 56 bilhões em proventos no trimestre

Empresas citadas na reportagem:

A Vale foi a nona maior pagadora de dividendos do mundo no primeiro trimestre de 2022, segundo relatório da gestora britânica Janus Henderson obtido com exclusividade pelo Valor. A mineradora brasileira, que havia sido a oitava colocada no ranking do mesmo período de 2021, continua sendo a única representante de mercados emergentes entre as dez empresas mais bem colocadas da publicação, divulgada a cada três meses desde 2009.

Arte: Valor Econômico

A lista das companhias com maior remuneração aos acionistas no primeiro trimestre é encabeçada por outra mineradora, a BHP. Há também duas farmacêuticas (Novartis e Roche); uma representante do setor energético (Exxon); uma de logística (Maersk); três empresas de tecnologia (Microsoft, Siemens e Apple); e uma tele (AT&T). Juntas, elas pagaram US$ 56,3 bilhões em dividendos. O volume supera os US$ 51,4 bilhões pagos pelas dez maiores no mesmo período do ano passado e os US$ 46,7 bilhões do primeiro trimestre de 2020.

O levantamento completo, que leva em conta dados de 3 mil companhias, mostra que foi pago um recorde de US$ 302,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um crescimento nominal de 11%. Se considerados efeitos cambiais e dividendos extras pagos pelas empresas, a alta chegou a 16,1%.

Na metodologia do relatório, os dividendos são calculados brutos, utilizando a quantidade de ações na data de pagamento, e convertidos utilizando a taxa de câmbio vigente. Segundo a Janus Henderson, o resultado é uma aproximação, já que as empresas fixam a taxa de câmbio um pouco antes da data de desembolso.

Na contramão da tendência global, os dividendos das brasileiras que fazem parte da amostra caíram para US$ 5,2 bilhões nos três primeiros meses de 2022 ante US$ 5,3 bilhões no mesmo período do ano passado, em termos nominais. Em termos subjacentes, ou seja, levando-se em conta o efeito cambial e dividendos não recorrentes, houve crescimento de 7,4%.

Apesar de figurar entre as maiores do mundo na distribuição de proventos, a Vale teve efeito foi negativo no total de dividendos das companhias brasileiras. Segundo o relatório, isso aconteceu porque os preços do minério de ferro recuaram no fim de 2021. O Bradesco, que reduziu os dividendos no período, também pesou contra. Já a Ambev ajudou a melhorar o desempenho local ao retomar seu patamar pré-pandemia. Além dessas três companhias, JBS e Petrobras também fazem parte do grupo acompanhado pela casa.

A Janus Henderson analisa dados de 1,2 mil empresas que compõem um índice da asset e estimativas referentes a outras 1,8 mil companhias.

Segundo o estudo, nas empresas de países emergentes houve ganho nominal de 41,5% e subjacente de 36,4%. Os destaques nominais foram China, que saltou 575%; África do Sul, com ganho de 248,7%; e Rússia, alta de 168,2%.

Já no escopo setorial, a indústria, impactada pela pandemia em 2021, cresceu 43,3% no pagamento nominal nos primeiros três meses deste ano. O segmento de petróleo, gás e energia vem em seguida, com ganho de 36,7%; enquanto o de matérias-primas avançou 24,8%. Na outra ponta, consumo básico cedeu 14,8% e serviços de utilidade pública recuaram 2,4%.

“Os dividendos globais tiveram um bom começo em 2022, ligeiramente acima de nossas expectativas devido à força particular de algumas empresas e setores, especialmente de petróleo e mineração. No entanto, o efeito de base fácil, que comparou o primeiro trimestre de 2022 a um primeiro trimestre do ano passado deprimido pela pandemia, desaparecerá à medida que o ano avançar”, afirma Jane Shoemake, gerente da Janus Henderson.

A executiva pondera que a economia mundial tem uma série de desafios, como a guerra na Ucrânia, as tensões geopolíticas crescentes, os altos preços de energia e de commodities, a inflação e um ambiente de taxas de juros crescentes. Com isso, aponta, a pressão sobre o crescimento econômico afetará os lucros das empresas em vários setores.

Mesmo assim, a gestora espera que os dividendos globais atinjam US$ 1,54 trilhão em 2022, um aumento nominal de 4,6% em relação ao ano passado e de 7,1% em base subjacente.

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