BC sinaliza ciclo maior de queda da Selic ao não acelerar cortes, avaliam economistas

Evolução da política fiscal e do cenário externo podem fazer juros caírem mais no Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) manteve o roteiro ao reduzir a Selic para 11,75% ao ano e indicar no comunicado que pretende fazer novos cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. Agora, os agentes financeiros buscam entender as razões para o colegiado não acelerar o passo e também recalibram as expectativas de qual será a taxa básica de juros do Brasil ao fim do atual ciclo.

Para Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Brasil, com os dados recentes de inflação mais benignos e a queda nas taxas de juros futuras nos Estados Unidos, depois de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) projetar um relaxamento de sua política monetária, parte do mercado considerava que o Copom poderia retirar o plural no trecho “próximas reuniões” e abrir a porta para uma possível aceleração no ritmo de cortes nos primeiros encontros de 2024.

Contudo, Fongaro avalia que a estratégia gradualista do Copom faz sentido. Seguindo com esse ritmo de redução, comenta o economista, o comitê chegará para a reunião de agosto com uma taxa Selic em 9,75%, patamar já próximo do fim do ciclo e que exigirá que o colegiado comece a alinhar as expectativas sobre o ponto terminal.

“Se o Banco Central opta por acelerar os cortes, essa calibragem terá de ser feita antes. Mas aguardar até agosto traz a vantagem de colher informações que podem ser decisivas: o início do ciclo de cortes de juros nos EUA e o grau de deterioração da política fiscal no Brasil”, diz o profissional do Julius Baer.

“Dessa forma, o nosso cenário de Selic a 9,50% a.a. ao final do ciclo de cortes ainda é o mais provável, mas o balanço de riscos começa a pender para um ciclo maior. A baixa inflação doméstica no curto prazo e, principalmente, a sinalização de cortes de juros nos EUA em 2024 são os principais vetores baixistas para os juros no Brasil”, aponta Gabriel Fongaro.

Assim, o economista observa que o cenário para o crescimento da atividade no país no começo do ano que vem ganha atenção especial. Isso porque, na visão dele, pode ser decisivo para a resposta da política fiscal ao ambiente político.

“Um ambiente benigno, com reaceleração do crescimento após o período de moderação já em curso, tende a limitar o grau de deterioração da política fiscal e pode ser decisivo para que o Banco Central entenda ser possível levar a taxa Selic para patamares mais baixos”, finaliza.

‘Conjuntura fluida’

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, comenta em relatório que o Copom tomou a decisão amplamente esperada de levar a taxa Selic para 11,75% a.a. e não alterar a sinalização de que manterá o atual ritmo de flexibilização nas próximas reuniões.

“O conjunto de projeções de inflação não mudou de forma relevante e também parece consistente com um ritmo inalterado. No entanto, a reunião ocorreu enquanto a decisão do Fed era anunciada e o presidente Powell dava a sua coletiva de imprensa, que abriu caminho para uma flexibilização antecipada nos EUA”, pondera Mesquita.

“Dessa forma, mais do que de costume, os mercados deverão focar na ata da reunião, que será publicada na próxima terça-feira, 19 de dezembro. Por enquanto, ainda esperamos que o ciclo termine com a taxa Selic em 9,50% a.a., mas podemos revisitar tal projeção à luz dos acontecimentos recentes”, indica o economista do Itaú.

Foco na política fiscal

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, também destaca que o Copom preferiu não apontar espaço para maior flexibilização, apesar do cenário mais benigno, tanto externo como a dinâmica inflacionária atual. Nesse cenário, prossegue ela, a política monetária deve continuar restritiva por um período ainda prolongado.

“Já a magnitude do corte total que pode ser feito nesse ciclo segue indefinida e vai depender além da já observada evolução benigna, das expectativas, mais sensíveis às mudanças na política fiscal. Por outro lado, o cenário externo, que agora aponta para cortes nas taxas de juros lá fora já no primeiro semestre de 2024, pode ampliar o espaço de redução na taxa Selic nesse ciclo”, diz a economista do Inter.

“Mantemos nossa projeção da taxa chegando a 9% no segundo semestre de 2024 com um viés de baixa, caso o cenário externo mais benigno se confirme o risco fiscal não se materialize, permitindo a continuidade da trajetória de convergência do IPCA para próximo do centro da meta até 2025”, completa.