Ata do Copom: incerteza global sugere cautela no ciclo de cortes da Selic

Comitê considera que cenário internacional tem se mostrado mais volátil e adverso, enquanto ambiente doméstico vem se encaminhando em linha com o que era esperado

A taxa Selic deve seguir caindo em um ritmo de 0,50 ponto percentual. Mas a extensão do ciclo de afrouxamento dos juros no Brasil dependerá da evolução da dinâmica inflacionária. A informação consta na ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça-feira (7) pelo Banco Central (BC).

Na decisão da semana passada houve o corte da Selic para 12,25%, a terceira redução seguida. Assim, o comitê avaliou que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado.

Contudo, indicou que ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta (3% a partir de 2024), o que, na visão dos integrantes do colegiado, exige serenidade e moderação na condução da política monetária.

“O cenário doméstico vem se encaminhando em linha com o que era esperado. Concluiu-se que prossegue a trajetória desinflacionária dos núcleos e da inflação de serviços, reforçando a dinâmica benigna recente da inflação. Além disso, dados recentes sugerem uma certa moderação da atividade econômica, como antecipado pelo comitê, em particular em serviços e comércio”, diz a ata do Copom.

“A desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais longos se manteve desde a última reunião do Copom. Por fim, as projeções de inflação no horizonte relevante apresentaram alguma elevação e se encontram acima da meta. Dentre os motivos para a elevação, destacaram-se a alteração dos preços administrados projetados para 2024 e as trajetórias da atividade econômica, da capacidade ociosa e do mercado de trabalho, que sugerem um hiato do produto mais apertado, com impacto sobre a inflação de preços livres”, acrescenta o documento.

Ainda durante a discussão, os membros do comitê observaram que o cenário internacional, no entanto, tem se mostrado mais volátil e adverso. Conforme eles, há múltiplos mecanismos de transmissão da economia internacional para a economia doméstica, financeiros e econômicos, que devem ser incorporados na tomada de decisão.

Um membro, prossegue a ata, apontou que o cenário externo introduz “um viés assimétrico altista no balanço de riscos para a inflação”. Em seguida, os demais membros avaliam que o cenário internacional afeta primordialmente o grau de incerteza relativo ao balanço de riscos. O comitê então destacou que é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela.

Peso dos juros americanos

Em outro trecho da reunião, o comitê debateu os múltiplos canais de transmissão da taxa de juros dos Estados Unidos para a economia brasileira. Portanto, a ata do Copom discutiu os efeitos via diferencial de juros, prêmio a termo na curva de juros, demanda externa, câmbio, taxa neutra de juros, preço das commodities, entre outros.

“Enfatizou-se, em primeiro lugar, o impacto da necessidade de atração de recursos para financiar uma dívida mais alta nos países desenvolvidos. Em tal ambiente, com taxas de juros de dívidas soberanas mais elevadas em economias centrais, nota-se um impacto em outros mercados, tanto de dívida soberana de emergentes quanto de crédito privado, cujo impacto final será tão maior quanto maior for o tempo de juros mais elevados, podendo levar a realocações no processo de rolagem de dívidas”, diz a ata.

“Outro canal, com efeito direto sobre a inflação, se dá via taxa de câmbio. Em tal discussão, ressaltou-se que, apesar da gravidade dos acontecimentos, como o conflito no Oriente Médio e o movimento substancial nos preços de ativos internacionais, a taxa de câmbio e o preço do petróleo tiveram variações até o momento moderadas. Por fim, ao incorporar os múltiplos canais de transmissão em um ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia que é apropriado adotar uma postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos”, acrescenta a ata.

Decisão de juros unânime

Após a análise dos cenários, todos os membros concordaram que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual. Isto é, para 12,25%, de forma a ajustar o grau de aperto monetário prospectivo. O comitê passou a debater então a estratégia e a extensão de ciclo apropriados em cada um desses cenários.

“Optou-se por manter a comunicação recente, que já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado”, aponta a ata.

“Com relação aos próximos passos, os membros do comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, prossegue o documento.

Por fim, o comitê discutiu a extensão do ciclo de ajustes na política monetária em um cenário global incerto. Os integrantes reforçaram que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”.

“O comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas”, reitera a ata.

“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, completa o documento.